‘Não estou preocupado se pagará a multa’, diz ex-ministro do TSE que fez Pix de R$ 5 mil a Bolsonaro

Admar Gonzaga atuou como advogado de filho do ex-presidente e fez doação para ajudar cliente a pagar multas

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Foto do author Julia Affonso
Foto: Roberto Jayme/Ascom/TSE
Entrevista comAdmar GonzagaAdvogado e ex-ministro do TSE

O advogado e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral Admar Gonzaga afirmou ao Estadão neste sábado, 29, que não está “preocupado” se o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vai usar parte da vaquinha de R$ 17,1 milhões recebida por Pix para pagar multas com o Estado de São Paulo. O montante arrecadado pelo ex-presidente consta de relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviado à CPMI de 8 de Janeiro.

O relatório do Coaf mostrou que 18 pessoas - empresários, militares, agricultores, pecuaristas e estudantes - pagaram entre R$ 5 mil e R$ 20 mil ao ex-presidente. Uma delas é Admar Gonzaga ,que doou R$ 5 mil. Em entrevista ao Estadão, o advogado afirmou que Bolsonaro deve usar o dinheiro “da forma como ele bem entender”.

Admar Gonzaga é amigo do ex-presidente. O advogado já representou Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), garantindo na Justiça o direito do filho do presidente de concorrer ao cargo de vereador no início de carreira, aos 17 anos - em 2000, Carlos tornou-se o mais jovem vereador da história do Brasil.

Mesmo com os valores arrecadados, Bolsonaro não pagou suas multas. O registro de débitos inscritos na dívida ativa paulista aponta que o ex-chefe do Executivo brasileiro tem sete multas na Secretaria de Saúde do Estado, que somam uma dívida de mais de R$ 1 milhão. Admar Gonzaga não vê problema na situação.

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“Ele vai pagar na hora que ele entender que esgotou os recursos judiciais cabíveis como qualquer cidadão. Eu não estou preocupado se ele vai pagar a multa, se não vai pagar a multa”, afirmou.

A seguir, leia a entrevista com Admar Gonzaga:

Por que o sr. depositou um Pix para o ex-presidente Bolsonaro?

Em primeiro lugar, a minha surpresa e indignação é com a quebra de sigilo. Isso é uma coisa que a gente pensou que já tinha ultrapassado no Estado Democrático de Direito e que vem sendo reforçado, que tem a necessidade de um retorno da Democracia pela imprensa. Mas a gente vê que a própria imprensa não está em absoluto dando relevo a essa absurda quebra de sigilo. Meu nome citado num depósito, como eu faria para qualquer pessoa que eu tenha admiração, qualquer amigo e que tivesse necessidade. Aliás, já fiz isso algumas vezes na minha vida e para pessoas que não têm nenhuma notoriedade.

Seria para ele pagar as multas?

Seria para ele usar da forma como ele bem entender. Um homem que tem todo o dinheiro bloqueado para pagamento de multa de máscara e ainda tem que pagar mais não sei quanto. É do meu feitio colaborar com pessoas que eu tenho apreço. Eu o conheço há 30 anos. Faria isso com qualquer amigo meu. Até com gente que eu nem conheço. Eu já fiz caridade com gente que eu nem conheço.

O ex-presidente usou o valor para investir em fundos de renda fixa. O sr se arrepende de ter transferido o Pix?

De forma alguma. Todo o dinheiro tem que ter remuneração. Dinheiro parado num País que está com inflação galopante e com todas essas incertezas que estão aí atormentando as pessoas, eu acho que ele fez muito bem de investir, de buscar remunerar esse dinheiro. Eu acho até uma atitude responsável.

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Mesmo ele não pagando a multa?

Isso é uma questão que ele vai pagar na hora que ele entender que esgotou os recursos judiciais cabíveis como qualquer cidadão. Eu não estou preocupado se ele vai pagar a multa, se não vai pagar a multa. O que eu vi foi uma pessoa ter todos os seus recursos bloqueados. De uma hora para a outra, ele não tinha mais nada na conta.

O ex-presidente Bolsonaro afirmou que usaria o dinheiro para pagar contas, tomar caldo de cana e comer pastel com a ex-primeira-dama Michelle.

Por mim, ele pode fazer o que ele quiser.

O ex-presidente deveria devolver os valores a quem depositou?

Não. Eu acho que ele tem que guardar esse dinheiro e utilizar para as necessidades dele. Eu não estou cobrando a atuação dele com relação ao dinheiro. Acho que ninguém que fez um depósito está preocupado com isso. Eu, pelo menos, não estou.

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