Nas redes, críticas a Bolsonaro superam apoio na crise do coronavírus

Desde o dia 15, 1,4 milhão de usuários do Twitter criticaram Bolsonaro e 1,2 milhão o defendeu, mostra levantamento

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Por Ricardo Galhardo e Bianca Gomes

O número de opositores do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais superou o de apoiadores nas duas últimas semanas. Desde que Bolsonaro foi a um ato contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal em frente ao Palácio do Planalto, em meio à pandemia do coronavírus, 1,4 milhão de perfis do Twitter atacaram o presidente, enquanto 1,2 milhão o defendeu. O levantamento foi feito pela consultoria Bites entre os dias 15 e 26 de março, com base em hashtags (palavras-chave) relacionadas ao mandatário na plataforma.

Embora a rede de apoio ao presidente Jair Bolsonaro na internet continue coesa, a circulação de informações sobre como está sendo o combate ao coronavírus no resto do mundo favorece a oposição, na visão de analistas ouvidos pelo Estado. Segundo eles, histórias reais de pessoas que tiveram a doença e o aumento do número de mortos pela covid-19 também devem reduzir a adesão à tese defendida pelo governo, de que a situação não é tão grave quanto parece e que o isolamento social só deve ser aplicado aos idosos.

O presidente Jair Bolsonaro Foto: Gabriela Biló/ Estadão

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No período da análise, Bolsonaro minimizou os efeitos do coronavírus, uma “gripezinha”, em suas palavras, fez um pronunciamento em rede nacional de TV para criticar medidas de isolamento social, como o fechamento do comércio e de escolas, e intensificou o embate com governadores, a ponto de discutir com o paulista João Doria (PSDB) durante uma reunião por videoconferência

Embora a quantidade de apoiadores do presidente tenha sido menor, eles fizeram mais publicações: 5,1 posts por perfil, em média, ante 2,1 mensagens de cada opositor. Isso mostra que, mesmo perdendo espaço nas redes sociais, os simpatizantes de Bolsonaro estão atuando para não deixar a narrativa da oposição ficar mais forte, segundo o professor da FGV Marco Antônio Teixeira. “É nítido que cresce uma opinião pública contrária ao presidente, sobretudo com o coronavírus, quando ele assume posições ambíguas ao próprio Ministério da Saúde”, afirmou Teixeira.

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Ao analisar o movimento nas redes sociais desde o dia 15, o diretor de Relações Governamentais da Bites, André Eler, lembrou que no dia em que participou do ato, Bolsonaro começou a ser criticado por influenciadores digitais que já o apoiaram, como o humorista Danilo Gentili e o youtuber Nando Moura. Três dias depois, foram registrados panelaços contra o presidente em 22 capitais. Segundo o levantamento da Bites, no dia 18, as referências ao presidente no Twitter atingiram um pico de 2,5 milhões, ante uma média diária de 500 mil. Foram 498 mil mensagens contra o governo e 330 mil a favor.

No dia seguinte, porém, o bolsonarismo voltou a equilibrar a disputa nas redes com a crise causada pelas declarações do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) contra a China e a reação da embaixada chinesa, que exigiu um pedido de desculpas

Governadores

Em evidência desde que passaram a recomendar o isolamento social, medida criticada por Bolsonaro, os governadores se fortaleceram nas redes sociais, aponta o levantamento. Governador do Pará, Helder Barbalho (MDB) registrou o maior ganho porcentual entre 20 e 27 de março – 23,9%. No período, viu o número de seguidores em suas redes saltar de 469.241 para 581.420. Na primeira quinzena do mês, quando a pandemia do novo coronavírus ainda não era discutida, apenas uma publicação de Barbalho superou 5 mil curtidas. Entre 16 e 26 de março, 26 posts ultrapassaram a marca. 

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“Como a população está assustada e Bolsonaro é essa figura errática, as pessoas encontraram referência nos governadores”, disse o cientista político e professor do Insper Carlos Melo. Também aumentaram suas bases no período os governadores de Santa Catarina, Comandante Moisés (PSL), 19,76%; do Ceará, Camilo Santana (PT), 15,13%; e do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), 11,56%. 

Um dos principais opositores de Bolsonaro, Doria conquistou 56.062 novos seguidores e reverteu uma tendência de perda que o acompanhava desde o início do seu mandato como governador. Ele concentra 30% do volume de seguidores no Twitter, Instagram, YouTube e Facebook entre os chefes dos Executivos estaduais. Já Wilson Witzel (PSC), do Rio, embora ainda tenha menos seguidores que Doria, tem sido mais citado, de acordo com a Bites. Nos últimos 12 meses, 336 mil usuários do Twitter o mencionaram, enquanto 231 mil falaram sobre Doria. 

Nuvem de palavras

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro adota um discurso mais combativo no Twitter - com ênfase na União, ataques a governadores e uso de palavras como "enfrentamento" e "combate", os chefes dos executivos estaduais optam por mensagens mais ligadas a informações sobre a pandemia. É o que mostra o levantamento do Estado com base em tuítes do presidente e dos governadores Helder Barbalho, Comandante Moisés, Camilo Santana, Flávio Dino, João Doria e Wilson Witzel entre os dias 17 e 27 deste mês. O resultado, em forma de nuvem de palavras, pode ser acessado na galeria abaixo:

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Mensagens de alerta à população apareceram com frequência nas nuvens dos governadores. No Twitter do Comandante Moisés, por exemplo, a quarta palavra que se repetiu com mais frequência foi a hashtag (palavra-chave) #FiqueEmCasaSC. Outro que usou as redes sociais para fazer apelo ao isolamento social foi Helder Barbalho. Em sua conta, "FiquemEmCasa" foi escrito sete vezes no período. 

As menções frequentes a termos relacionados a medicamentos para a cura do novo coronavírus aparecem apenas na rede de Bolsonaro. Questões econômicas, como emprego e recursos, também aparecem mais no Twitter do presidente. 

A palavra "leitos" e "uti" também figuram entre as mais citadas pelos governadores e não mencionadas pelo mandatário.  Com o agravamento da pandemia do novo coronavírus, a demanda por leitos de UTI está entre as principais preocupações da rede pública.  Flávio Dino escreveu a palavra "leitos" 12 vezes em seu Twitter, enquanto Wilson Witzel nove vezes e João Doria seis.