Negociada por Lula, adesão brasileira à nova Rota da Seda chinesa divide opiniões

Embaixadores afirmam que ingresso em projeto de Xi Jingping, que completa 10 anos agora, não traria vantagens evidentes para o País, mas ex-chanceler Celso Amorim fala a favor do Belt and Road

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Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM - O governo chinês colocou na mesa de negociação para a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Pequim a adesão formal ao projeto da nova Rota da Seda (Belt and Road), lançado por Xi Jinping em 2013. A iniciativa chinesa completa dez anos agora. A participação brasileira, ainda em avaliação, divide opiniões na diplomacia e seria um gesto político a favor da China, num momento de rivalidades e tensões exacerbadas com os Estados Unidos - segundo maior parceiro comercial e principal investidor externo no País.

O plano consiste na formação de uma grande rede de infraestrutura, passando por diversos modais de transporte, principalmente, portos, rodovias e ferrovias, conectando os continentes para escoamento de produtos. O projeto começou integrando países do Leste Europeu e da antiga União Soviética. Vizinhos do Brasil integram a lista de 147 países participantes, como Argentina e Chile.

O presidente Lula avalia proposta da China para que Brasil formalize adesão à nova Rota da Seda, mas ideia divide opiniões no governo. EFE/Andre Borges  Foto: Andre Borges/EFE

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­Fontes do governo brasileiro dizem que a adesão do Brasil, um objetivo perseguido pelos chineses, segue em negociação para a declaração conjunta que Lula e Xi Jinping devem fazer. O comunicado tem cerca de 50 parágrafos. O encontro formal dos líderes que estava marcado para a próxima terça-feira, dia 28, porém, foi adiado após Lula cancelar viagem à China em razão de um diagnóstico de broncopneumonia bacteriana e influenza A.

A pressão chinesa pelo ingresso do Brasil, maior economia da América Latina, é recorrente. Outros 20 da região já fazem parte e recebem investimentos chineses em infraestrutura, para conectar as rotas marítimas e terrestres.

Desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil, com comércio no ano passado de U$ 150 bilhões. Além de diversificar a pauta de produtos, atualmente ancorada nas commodities, o governo quer atrair mais investimentos chineses em setores estratégicos. O acumulado de investimentos é de cerca de U$ 70 bilhões. Na balança comercial, o saldo é favorável ao Brasil, com US$ 61,8 bilhões.

Integrantes do governo deram declarações conflitantes. Questionado sobre a possível adesão, o embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Itamaraty, indicou desinteresse do Brasil em aderir à iniciativa chinesa neste momento.

“Com relação ao Belt and Road (Cinturão e Rota), eu entendo que o Brasil já tem um arcabouço muito sólido que é a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban). Essa parceria, essa estrutura toda, tem permitido alcançar objetivos que são infraestrutura, desenvolvimento de comércio e investimentos. Estão em sintonia com os objetivos da iniciativa Cinturão e Rota. Ela não necessariamente tem um valor agregado nesse momento”, afirmou, ao detalhar os objetivos da visita presidencial a Pequim.

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Já o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial de Lula, afirmou que não haveria problemas na subscrição do governo brasileiro. Principal influenciador de Lula nas relações internacionais, Amorim disse ao jornal Valor Econômico que “não vê razão” para o Brasil deixar de ingressar na nova roda da seda, nem “dano político” com os norte-americanos.

A declaração é vista por embaixadores mais como um movimento político do ex-chanceler. Os resultados práticos a favor do Brasil e as consequências na relação com Washington, na avaliação de diplomatas especializados em China, são incertos. Para um ex-embaixador brasileiro em Pequim, trata-se de um “gesto político” a favor da China.

Esse mesmo diplomata, especialista em economia, afirma que a adesão seria apenas uma “vantagem retórica” para o Brasil e que o País de fato não necessita entrar no projeto para desenvolver a relação com a China. Para ele, além de não ser “fundamental” para o empresariado brasileiro, o lado chinês é quem mais insiste no ingresso brasileiro, e certamente haverá reação dos EUA.

Em seu primeiro mandato, Lula fez outro gesto importante para a China. Em 2004, durante visita do ex-presidente Hu Jintao a Brasília, Lula reconheceu o status da China como “economia de mercado”, sob resistência e crítica da indústria nacional. Isso submeteria processos antidumping a regras da OMC (Organização Mundial do Comércio). Em contrapartida, a China prometeu privilegiar o Brasil no acesso ao mercado interno. Só que o status anunciado aos chineses não foi posteriormente confirmado pela Câmara de Comércio Exterior.

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