BRASÍLIA – Com a demissão acertada, o sucessor escolhido, mas ainda sem ter recebido o cartão vermelho do chefe, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, cumpre nesta terça-feira, 25, o que promete ser sua última agenda no Palácio do Planalto. Na despedida ao lado do presidente Lula, no Salão Leste, Nísia vai assinar portarias que preveem o desenvolvimento de vacinas contra dengue, influenza H5N8 e vírus sincicial respiratório (VSR), além da ampliação do fornecimento de insulina injetável pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Nesta segunda-feira, 24, o Ministério ainda estava distribuindo convites para a cerimônia “Parcerias que fortalecem o SUS: produção e inovação local para garantia do acesso à saúde”, marcada para as 11 horas. O impresso pede que todos cheguem com uma hora de antecedência “tendo em vista a presença do Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva”.

Lula deixou vazar informações sobre a saída de Nísia e seu descontentamento com o atraso no programa Mais Acesso a Especialistas, mas ainda não conversou com ela. Embora já tenha escolhido o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, para substituir Nísia, o presidente também não falou com ele.
A ministra está aborrecida com a forma como vem sendo tratada há meses, considerada desrespeitosa, e vai conversar nesta terça com o presidente. A “fritura” de Nísia, que não é filiada ao PT, mas foi indicada pelo próprio Padilha, também incomoda integrantes de sua equipe.
Ministério da Saúde virou a ‘Geni’ da Esplanada
Nos bastidores, não são poucos os que dizem que o Ministério da Saúde virou a “Geni” da Esplanada. Avaliam, ainda, que a crise não é da Saúde, mas, sim, da articulação política do Planalto com o Congresso. O responsável por essa interlocução do governo com a Câmara e o Senado é Padilha.

Até agora, Lula ainda não definiu quem vai substituir Padilha nas Relações Institucionais. O Centrão reivindicava a Saúde, não vai levar e hoje pede a cadeira da articulação política. Se o nome for do PT, no entanto, o grupo prefere ver no Planalto o líder do governo na Câmara, José Guimarães.
Padilha foi ministro da Saúde no governo Dilma, de 2011 a 2014, é próximo do titular da Fazenda, Fernando Haddad, e tem vários aliados em secretarias do Ministério da Saúde. Uma ala do PT e até o chefe da Casa Civil, Rui Costa, queria que Lula escolhesse Arthur Chioro para o lugar de Nísia. Chioro é presidente da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares e também já foi ministro da Saúde sob Dilma.
Pressionado pela acentuada queda de aprovação, Lula optou, porém, por um perfil mais político para cadeira hoje ocupada por Nísia, ex-presidente da Fiocruz. Com um orçamento de R$ 239,7 bilhões, e concentrando praticamente a metade das emendas parlamentares, o Ministério da Saúde é uma das principais apostas de Lula para recuperar a popularidade perdida.
Desde o ano passado, o presidente tem cobrado Nísia para que o programa Mais Acesso a Especialistas, lançado em abril do ano passado, consiga chegar em todo o País, mas isso não está ocorrendo. O objetivo do plano é reduzir o tempo de espera para consultas, exames e resultados nas áreas de oncologia, cardiologia, oftalmologia, otorrinolaringologia e ortopedia.
O ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Sidônio Palmeira, decidiu mudar o nome do programa, considerado muito burocrático e sem apelo popular. Enquanto a nova marca não está fechada, o governo decidiu investir na propaganda do Farmácia Popular, mostrando que 100% dos medicamentos do programa são agora gratuitos.
Na cerimônia desta terça-feira, Nísia falará sobre suas realizações no ministério e fará um discurso na linha da prestação de contas. Para ela, uma das vitrines de sua passagem pelo cargo é justamente a produção dos imunizantes recomendados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
A vacina da dengue, por exemplo, está em fase final de produção pelo Instituto Butantan, em parceria com a empresa chinesa WuXi Biologics. A aprovação pela Anvisa da primeira vacina da dengue de dose única deve ocorrer ainda neste primeiro semestre. Já a vacina para grávidas contra o vírus respiratório que atinge bebês, e é responsável por aproximadamente 80% dos casos de bronquiolite, também será incorporada ao SUS.