No Vale do Ribeira, Bolsonaro causa aglomeração em evento para apresentar projeto de ponte

Houve aglomeração em Pariquera-Açu (SP) e dezenas de pessoas estavam sem máscara, incluindo o presidente; em Eldorado, ele disse se considerar um 'líder ímpar'

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Foto do author Matheus Lara
Por Matheus Lara, Ricardo Galhardo e enviados especiais

PARIQUERA-AÇU e ELDORADO - O governo federal realizou nesta quinta, 3, um evento presencial para apresentar a cerca de 2 mil pessoas um slideshow com vídeos do projeto de uma ponte em Pariquera-Açu, no Vale do Ribeira, interior de São Paulo. O município de 19 mil habitantes, que já registrou 520 casos do coronavírus e nove mortes, está na fase na 2, laranja, do protocolo de combate à pandemia no Estado. Eventos e convenções só são permitidos após 28 dias consecutivos da região na fase 3, amarela.

Houve aglomeração e dezenas de pessoas estavam sem máscara, incluindo o presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o ministro da Justiça, André Mendonça. Apesar de as falas no evento terem sido breves – o presidente discursou por três minutos na cerimônia de 15 minutos –, apoiadores de Bolsonaro se aglomeraram nas grades de proteção para abraçar e tirar fotos com o presidente antes e depois da cerimônia. 

O presidente da República, Jair Bolsonaro, cumprimenta populares emPariquera-Açu. Foto: Carolina Antunes/PR

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A assessoria do Planalto informou que cerca de mil cadeiras foram disponibilizadas na plateia. A cada dois assentos, estavam colados avisos para que as pessoas não se sentassem, mas foram ignorados. O sistema de som não emitiu nenhum tipo de orientação para o distanciamento social durante o evento.

"Os protocolos setoriais do Plano São Paulo são fundamentados em critérios técnicos e de saúde, com objetivo de controlar as taxas de contaminação pelo novo coronavírus", informa o governo do Estado de São Paulo. "Sobre eventos, convenções e atividades culturais, o governo de São Paulo informa que é permitido o funcionamento após 28 dias consecutivos da região na fase amarela, o que não é o caso de Pariquera-Açu, que se encontra na fase laranja."

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Populares ocupam lugares na plateiapara acompanhar passagem de Bolsonaro porPariquera-Açu, no interior de São Paulo. Foto: Matheus Lara/ Estadão

"Independentemente da importância do projeto, colocar pessoas juntas hoje em dia é temerário. Não é desejável, ainda mais em lugares de transmissão ativa", diz o infectologista Celso Granato, do grupo Fleury. "Na Europa, mesmo em lugares onde a situação já estava melhor, como na Espanha e Alemanha, foi só descuidar e os casos aumentaram."

A prefeitura de Pariquera-Açu informou que apenas atendeu aos requisitos do Planalto para a realização do evento. A Secretaria de Comunicação do governo federal foi contatada, mas não retornou até a publicação desta matéria. 

A ponte sobre o rio Pariquera-Açu receberá R$ 14,3 milhões de recursos federais e é apontada como uma possível solução para desafogar o tráfego de veículos no município e região e para a contenção de enchentes. Ninguém no evento falou sobre uma previsão de início das obras da ponte. 

De acordo com a prefeitura, parte da documentação ainda está sendo enviada para a Caixa Econômica Federal e a previsão é que a obra tenha início em março e a previsão de entrega é o segundo semestre de 2023.

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"Assumi posição ímpar como chefe de Estado"

Na outra agenda do dia, Bolsonaro apresentou projeto de outra ponte, dessa vez na cidade de Eldorado, também no Vale do Ribeira, onde passou a infância e a adolescência.  Acompanhado de Eduardo, Mendonça e Salles e sem máscara,  passou 50 minutos cumprimentando, abraçando e posando para fotos com as centenas de pessoas, entre elas idosos e crianças, que foram recebê-lo.

No momento em que o Brasil registra 123 mil mortos e 4 milhões de infectados pelo novo coronavírus, Bolsonaro se vangloriou de sua atuação diante da pandemia. O presidente disse se considerar um "líder ímpar" em nível mundial por ter apostado na hidroxicloroquina. "Desde o começo eu assumi uma posição ímpar não só dentro do Brasil, mas como chefe de Estado no mundo todo", disse o presidente. "Não vi um chefe de estado tomar uma decisão como a minha."

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Embora não existam estudos científicos que comprovem a eficácia do medicamento no tratamento da covid-19 e o Brasil seja um dos recordistas em mortes no mundo, Bolsonaro disse que a estratégia "deu certo". "Estudei a hidroxicloroquina, procurei embaixadas, procurei a Anvisa dos EUA, a FDA, e sobrou apenas isso. Defendo que quem vai ministrar é o médico e mais ninguém. Se não houvesse essa questão off the label, muita doenças não teriam remédio. Hoje em dia se comprova pelo menos de forma observacional que era o que tinha naquele momento e acabou dando certo", afirmou o presidente.

Bolsonaro instou governadores e prefeitos a permitirem a abertura em definitivo do comércio. "Apelo aos governadores, já que não tenho autoridade para tal, o Supremo Tribunal Federal me tirou essa possibilidade de agir nessa área, espero que os governadores e prefeitos, obviamente dentro da sua devida responsabilidade, abram em definitivo o comércio", disse o presidente no início da tarde desta quinta-feira.

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