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‘Nossas armas eram os abaixo-assinados’: a história por trás das mães do Movimento Custo de Vida

Após 60 anos do Golpe Militar, o ‘Estadão’ conta sobre o movimento de mulheres da periferia que lutaram por direitos básicos na década de 1970

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Foto do author Amanda Botelho
Foto do author Larissa Burchard

No começo dos anos 1970, dentro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica, formou-se o Clube de Mães da zona sul, em São Paulo. Entre aulas de bordado, costura e crochê, mulheres da periferia da cidade se reuniam para discutir muito mais do que afazeres domésticos. Falta de creches, saneamento básico e salários dignos eram o que as mães reivindicavam nos encontros que se tornaram a base do Movimento Custo de Vida, o qual reuniu mais de um milhão de assinaturas em um abaixo-assinado contra o sistema econômico da ditadura militar.

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Para a cidade de São Paulo, a periferia não existia, explica Irma Passoni, 80, ex-deputada federal e uma das participantes do movimento. Foi durante um programa da Igreja Católica de Educação Popular na zona sul que ela começou a participar do Clube de Mães, em 1973. ‘As mulheres traziam tudo quanto era necessidade dos bairros. Fazíamos os encontros para refletir a realidade’, explica.

O arrocho salarial, a alta no preço dos alimentos e a ausência de saneamento básico eram algumas das preocupações das famílias na época. ‘Como se vive em um bairro onde não têm água?’, questiona Irma.

De casa em casa, as mulheres chamavam a atenção para a realidade da periferia, convidando as vizinhas para entrar na discussão. Os encontros aconteciam em duas partes: primeiro, os trabalhos manuais e leitura da Bíblia; depois, um momento para elas se conhecerem. Odete Marques, 83, pedagoga, era uma das participantes que passou a questionar os versos bíblicos que falam de abundância e contrastavam com a vida que tinha. ‘A nossa discussão era bem misturada. A religião falava da fé que a gente tem e a política falava das nossas necessidades’, conta Odete.

Odete Marques participou do Movimento Custo de Vida depois de mudar para São Paulo vindo de Minas Gerais Foto: Júlia Pereira/TV Estadão

Aos poucos, os problemas de cada uma se tornaram uma reivindicação coletiva e os Clubes de Mães se expandiram, chegando na Brasilândia, zona norte de São Paulo. ‘Vimos que nós podíamos estar juntas lutando pelos nossos direitos no bairro e também na cidade, junto com outras mulheres’, conta Tereza Lajolo, 76, ex-vereadora e professora aposentada.

Repressão e luta

Depois de entenderem as principais reivindicações dos bairros, as participantes formaram o Movimento Custo de Vida. Fizeram pesquisas de preços da alimentação comparando com os salários da época e decidiram organizar um abaixo-assinado. Juntas, mais de 200 mulheres saíam às ruas de São Paulo para colher assinaturas. ‘Nossas armas eram os abaixo-assinados’, conta Ana Silva, 81, também conhecida como Ana Dias, participante do movimento e esposa de Santo Dias, operário morto pelos militares em 1979.

Em 1978, foram 1,3 milhões de pessoas que assinaram o documento que reivindicava congelamento do preço dos alimentos e aumento salarial. Em agosto do mesmo ano, o Movimento Custo de Vida conseguiu reunir mais de 20 mil pessoas na Catedral da Sé em época de repressão militar.

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Hoje, 46 anos depois, a história das mães da periferia de São Paulo é contada pelo Estadão. Confira o vídeo completo sobre o Movimento Custo de Vida com depoimentos, fotos e registros da época.

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