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Nunes e Boulos disputam segundo turno em São Paulo após superar vale-tudo de Pablo Marçal

Com 100% das urnas apuradas, atual prefeito tinha 29,48% dos votos válidos ante 29,07% do psolista; candidato do PRTB terminou corrida eleitoral na terceira colocação e tinha 28,14%

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Foto do author Pedro Lima
Foto do author Pedro Augusto Figueiredo
Atualização:

A disputa pela Prefeitura de São Paulo será definida no segundo turno entre o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e o deputado federal, Guilherme Boulos (PSOL). Com 100% das urnas apuradas na capital paulista, o emedebista somava 29,48% dos votos válidos ante 29,07% do psolista. As pesquisas de intenção de voto divulgadas na última semana de campanha eleitoral indicavam uma disputa acirrada entre Nunes, Boulos e Pablo Marçal (PRTB), que ficou de fora da disputa. Ele tinha 28,14%.

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Nunes larga na frente na disputa contra Boulos, considerando que as pesquisas eleitorais colocam o prefeito com uma rejeição significativamente menor do que o candidato do PSOL. Dessa forma, o emedebista teria mais chances de conquistar os votos necessários para vencer o pleito. Além disso, o eleitorado de Marçal, que quase foi ao segundo turno, é mais alinhado à direita, o que torna mais provável a migração desses votos para Nunes.

Por outro lado, Boulos foi o primeiro a receber apoio de outro candidato. Tabata Amaral (PSB), que tinha 9,91% dos votos válidos e vinha criticando o psolista, declarou que estará no palanque dele no segundo turno.

O resultado deste domingo é similar ao do primeiro turno das eleições municipais de 2020, quando Boulos enfrentou o ex-prefeito da capital paulista Bruno Covas (PSDB), que dividia chapa com Nunes. Na ocasião, o tucano venceu o candidato do PSOL por 32,8% a 20,2%, e saiu vitorioso na disputa no segundo turno com quase 60% dos votos válidos. Nunes apresenta sua gestão como uma continuação da administração do tucano, morto em 2021 vítima de câncer.

Os candidatos a prefeito de São Paulo Ricardo Nunes e Guilherme Boulos. Fotos: Werther Santana/Estadão Foto: Werther Santana/Estadão

Pablo Marçal encerrou sua participação nas eleições municipais neste domingo. Ele concederia uma entrevista coletiva em um centro de convenções em Pinheiros após o resultado, mas não apareceu. O influenciador chegou a contratar um trio elétrico para festejar na Avenida Paulista diante da crença que venceria a eleição paulistana no primeiro turno. O evento não ocorreu.

Nas semanas anteriores, aliados de Marçal afirmavam que, independentemente do resultado, ele sairia maior da eleição do que entrou e se projetaria como um líder da direita a nível nacional. O futuro eleitoral de Marçal, contudo, se tornou incerto porque ele pode ser condenado pela Justiça Eleitoral e se tornar inelegível após divulgar um laudo médico falso na sexta-feira, 4, que apontava que Boulos era usuário de cocaína.

Pela primeira vez, depois de quatro desistências em disputas anteriores, o eleitor poderia depositar seu voto para o comando da Prefeitura em José Luiz Datena (PSDB). O apresentador somava 1,84%, em quinto lugar. Marina Helena (Novo) ficou em sexto. Tinha 1,38% dos votos.

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Ricardo Luis Reis Nunes tem 56 anos e é filiado ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB). É o atual prefeito de São Paulo, cargo do qual “tomou posse” em 16 de maio de 2021, quando a Câmara Municipal da capital extinguiu o mandado de Covas. O então prefeito morreu poucos dias antes, aos 41 anos, vítima de um câncer agressivo no sistema digestivo contra o qual lutava desde 2019. Além de ter sido vice-prefeito, Nunes também já foi vereador de São Paulo por dois mandatos. O vice-prefeito na chapa dele é o coronel Ricardo Mello de Araújo (PL).

Ele fez uma campanha tradicional de prefeito que disputa à reeleição: focou o discurso nas entregas realizadas durante os três anos que estava na cadeira, feitos amplificados pelo domínio na propaganda eleitoral, onde teve mais de 60% do tempo total graças a uma ampla aliança com 11 siglas — o rádio e a televisão também foram fundamentais para descontruir Marçal. Na reta final, fez gestos ao bolsonarismo, como ao declarar que errou ao exigir o passaporte de vacinação durante a pandemia.

Guilherme Castro Boulos tem 42 anos e é filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Atualmente é deputado federal, e foi eleito em 2022 com a maior votação entre candidatos paulistas. Antes, o psolista nunca tinha ocupado um cargo público. Foi candidato à Presidência, em 2018, e à Prefeitura de São Paulo, em 2020. A ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT) é a vice na chapa de Boulos. Além de já ter comandado a capital paulista entre 2001 e 2004, Marta também é ex-ministra de Estado.

O candidato do PSOL adotou a moderação para chegar ao segundo turno e mudou de posição em temas caros à esquerda. Ele chamou o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, de ditadura e abandonou a defesa da descriminalização das drogas, passando a afirmar que apoia a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de diferencias usuários e traficantes.

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Boulos explorou o legado de Marta e evitou confrontos com os adversários na campanha — a militância pedia um tom mais duro contra Marçal — para não passar a imagem de agressividade que parte dos paulistanos atribui a ele por causa de seu passado no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST).

A disputa entre Boulos e Nunes reproduzirá o embate entre o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e Jair Bolsonaro (PL) em 2022, cenário que estava colocado antes da entrada de Marçal no pleito.

O petista apoia o candidato do PSOL, enquanto o ex-presidente está com o prefeito. A participação dos padrinhos políticos, tímida no primeiro turno, deve aumentar na segunda etapa. Lula veio à capital paulista em duas ocasiões para fazer campanha para Boulos, enquanto Bolsonaro não participou de nenhum ato organizado por Nunes, se limitando a gravar vídeos que circularam nas redes sociais. Aliados do ex-presidente afirmam que a tendência é que ele seja mais ativo no segundo turno.

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Primeiro turno em SP foi marcado por ataques

O primeiro turno da disputa pela Prefeitura de São Paulo ficou marcado pela troca de ataques entre candidatos. Ricardo Nunes e Guilherme Boulos tornaram-se os alvos preferidos de seus adversários - especialmente de Pablo Marçal, que se mostrou a grande “pedra no sapato” de todos os seus oponentes na campanha.

Em um desses encontros, contra o atual prefeito, o ex-coach insistiu por diversas vezes no caso em que a esposa do emedebista registrou um boletim de ocorrência contra o chefe do Executivo municipal por suposta violência doméstica. “Como você é baixo”, rebatia Nunes. Já contra Boulos, o influenciador o questionou sobre uso de cocaína - fala prontamente desmentida pelo psolista. “Provei maconha uma vez na adolescência. Nunca mais”, respondeu o deputado.

O auge da acusação de uso de drogas de Marçal contra Boulos veio na noite da última sexta, 4, quando o ex-coach publicou um laudo falso que acusava o psolista de ter sido atendido em uma clínica em São Paulo, em 19 de janeiro de 2021, após “surto psicótico grave” pelo uso de cocaína. No dia seguinte, véspera do primeiro turno, peritos da Polícia Civil analisaram e concluíram pela “evidente falsificação” do documento.

Nunes, no entanto, não precisava se defender de Marçal apenas nos debates. O prefeito da maior cidade do País viu-se obrigado, em diversos momentos, a focar na tentativa de atrelar mais firmemente seu nome ao de Jair Bolsonaro (PL), apoiador oficial do emedebista no pleito paulistano. Isso porque o empresário conseguiu atrair parte do eleitorado bolsonarista - uma das apostas do candidato do MDB para sair vitorioso no pleito.

Com uma ala bolsonarista, entre apoiadores e políticos, declarando voto em Marçal, aliados do ex-presidente chegaram a admitir, em determinado momento da campanha, que apoiar Nunes poderia ser um erro, e que Bolsonaro tinha como estratégia manter “um pé em cada canoa” na disputa paulistana. “Estamos no muro, vendo no que vai dar. Apostamos no cavalo errado e quem está na frente é o azarão”, afirmou no final de agosto ao Estadão uma pessoa próxima do ex-mandatário, que pediu para não ser identificada.

“Bolsonaro é um cara de palavra. Ele já declarou que tem o apoio à nossa candidatura”, disse Nunes durante a campanha. O teor do discurso foi repetido pelo prefeito em diversas ocasiões em todo o período do primeiro turno, apesar da ausência do ex-presidente na capital paulista e na propaganda eleitoral. Na sexta-feira, reta final, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo ao lado de Mello Araújo, seu indicado para a vice de Nunes, e pediu voto para o prefeito.

Tarcísio assumiu papel de principal cabo eleitoral

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) assumiu o papel de ser o principal cabo eleitoral do prefeito diante da reticência de Bolsonaro e de conselhos do ex-presidente para ele se afastar de Nunes e evitar contaminar sua imagem com uma eventual derrota.

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Tarcísio dobrou a aposta no candidato do MDB, indo às ruas para pedir voto no aliado, enquanto utilizava a propaganda eleitoral para dizer que votar em Marçal significava abrir caminho para a esquerda vencer em São Paulo. Com o resultado deste domingo, o governador passou no teste e demonstrou força como líder da direita na capital paulista.

O candidato do PRTB foi responsável pela maior parte dos ataques contra Nunes, a quem se dirigiu como “Bananinha” por diversas vezes, mas eles não vieram apenas do influenciador. Os outros adversários também seguiram essa mesma linha. O prefeito teve que se defender, além da acusação sobre suposta violência doméstica, de falas sobre contratos para obras sem licitação realizados durante sua gestão, sobre acusações de envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC) em empresas de ônibus e de uma suposta participação no esquema conhecido como máfia das creches, por exemplo.

Boulos também foi autor de críticas contra o emedebista. O deputado federal criticou diversos pontos da gestão do adversário, acusou Nunes de “sumir” durante os apagões de energia em São Paulo, por exemplo, e de “desaparecer” quando o povo precisou. O psolista, porém, também foi frequentemente alvo de discursos do candidato do MDB.

Para responder o oponente, Nunes citou parecer de Boulos que arquivou denúncia de suposta “rachadinha” contra o deputado federal André Janones (Avante-MG) e também mencionou, em diversas ocasiões, o histórico de invasões do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), que já foi coordenado pelo psolista anteriormente.

As críticas feitas por Marçal não se restringiram a Ricardo Nunes. O empresário acusou, sem apresentar provas, o adversário apoiado pelo presidente Lula (PT) de ser usuário de cocaína. Chamado de “aspirador de pó”, Boulos desmentia prontamente as falas do ex-coach. Frequentemente, o candidato do PRTB também se referia ao psolista como “Boules”, em referência à linguagem neutra usada por uma cantora ao interpretar o Hino Nacional em um dos comícios do postulante.

Em diversos momentos ao longo da campanha, os candidatos consideraram que o primeiro turno foi marcado por “baixaria” entre os postulantes e, nos debates, por pouco tempo de discussão de propostas, o que, segundo eles, é o interessa ao eleitor. Nunes e Boulos, inclusive, perderam o controle em várias ocasiões diante de ataques proferidos principalmente pelo influenciador contra eles.

A última pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no sábado, 5, simulou o embate entre os dois postulantes no segundo turno. No levantamento, o atual prefeito seria reeleito com 52% das intenções de voto contra 37% do deputado federal.

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