A disputa antecipada pelo comando da cidade de São Paulo colocou na agenda do prefeito Ricardo Nunes (MDB) temas que são bandeiras do seu principal adversário na eleição do próximo ano, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Programas de moradia, atendimento à população em situação de rua e tarifa zero no transporte público ganham protagonismo neste ano pré-eleitoral com duelo entre os potenciais postulantes à Prefeitura da capital paulista.
Enquanto tenta ganhar espaço no terreno adversário, o grupo de Nunes vai buscar associar Boulos a um risco de desordem social. Por sua vez, o deputado – escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para concorrer em 2024 – já bombardeia o adversário nas redes sociais com postagens críticas às políticas públicas da cidade.
Os maiores embates ocorrem em torno da habitação. A área é o berço político de Boulos, que é líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). O deputado aposta nesse setor como o maior ativo eleitoral contra Nunes e frequentemente faz postagens com ataques às medidas da Prefeitura para a população em situação de rua. Segundo Boulos, há um “abandono sem precedentes” da administração municipal.
Nunes, em resposta, tenta imprimir sua marca no âmbito da moradia e tem também intensificado postagens nas redes sociais com destaque às iniciativas para habitação. O carro-chefe do prefeito nessa seara é o programa habitacional Pode Entrar, comandado pelo Republicanos – partido do governador Tarcísio de Freitas –, que integra a base do emedebista na Câmara Municipal.
Em maio, o prefeito destacou que sua administração adquiriu 45 mil unidades habitacionais para colocar à disposição do programa. “Estamos empenhados em transformar a realidade da habitação em São Paulo”, publicou nas redes sociais. As ações na área de moradia popular também foram levadas a inserções do MDB na TV, com a intenção de tornar o prefeito mais conhecido do eleitorado.
A Secretaria Municipal da Habitação é comandada interinamente por Leonardo Gozzilo, do Republicanos. Ele assumiu a pasta após o ex-secretário João Farias pedir demissão em maio. Segundo o dirigente municipal do partido André Santos, a secretaria dará a Nunes a vantagem de ter ações concretas de seu governo para mostrar durante a campanha contra o deputado de esquerda.
“O que o Boulos terá para mostrar? O Pode Entrar já é uma realidade, é o maior programa habitacional da história da cidade de São Paulo”, disse Santos. Nas próximas semanas, Nunes vai se reunir com dirigentes do Republicanos para definir quem assumirá o lugar de Farias definitivamente. O combinado é que a Habitação continue sob o comando do Republicanos.
Ao Estadão, Boulos afirmou que o prefeito está sendo “compelido” a trabalhar. “É obrigação de todos os parlamentares fiscalizar o Executivo, e é isso que estamos fazendo em respeito aos mais de 1 milhão de eleitores – dentre eles, 500 mil paulistanos – do nosso mandato. Para nós, é um reconhecimento saber que nossa atuação parlamentar esteja compelindo o prefeito a trabalhar”, afirmou.
O prefeito também age para sinalizar interesse em levar adiante propostas de passe livre nos ônibus da capital. No segundo semestre do ano passado, Nunes encomendou estudos à SPTrans para avaliar a viabilidade econômica de zerar a tarifa no transporte municipal. A ideia foi debatida com Tarcísio no final do ano.
A discussão sobre passe-livre abre caminho para o candidato à reeleição colocar o seu carimbo no tema da tarifa zero, que foi uma das principais promessas de Boulos na eleição de 2020 e constava em seu plano de governo naquele ano. Aliados do prefeito na Câmara veem a iniciativa como decisiva para enfrentar o adversário. Mesmo que a medida não chegue a ser instituída, a avaliação é que adentrar essa área pode ser oportuno para Nunes na campanha.
Logo que o prefeito começou a sinalizar a favor do passe livre, Boulos foi às redes confrontar a posição da Prefeitura sobre esse tema. “Me engana que eu gosto”, escreveu, buscando preservar a bandeira da gratuidade nos transportes como uma marca sua.
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