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O Brasil precisa de um Mandela

Assim como Bolsonaro, Lula não consegue prescindir da polarização

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colunista convidado
Foto do author Carlos Pereira

Lula perdeu uma ótima oportunidade de apaziguar os ânimos dos derrotados no discurso proferido ontem na sua diplomação como presidente eleito no TSE.

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Poderia ter sido magnânime e ter falado para todos os eleitores brasileiros com um discurso de união e com um olhar para o futuro. Como destacado pelo Presidente do TSE, Alexandre de Moraes, Lula foi eleito por 60.345.999 votos, mas a partir de 1º de janeiro de 2023 será o presidente de 215.461.715 brasileiros.

Entretanto, Lula preferiu apostar na polarização. Reproduziu, mais uma vez, o discurso do nós contra eles…do bem contra o mal…do democrata contra o autoritário.

O presidente eleito Luiz Inácio da Silva (PT) discursa após ser diplomado no TSE Foto: EVARISTO SÁ/AFP

Lula chegou ao desplante de dizer que a vitória dele restabeleceu a democracia no Brasil.

Como destacou Alexandre de Moraes, a estabilidade da democracia não significa ausência de conflitos ou de ameaças, mas o funcionamento efetivo das instituições. E a maior prova de que a nossa democracia não havia sido rompida foi justamente a própria eleição de Lula.

Em um ambiente politicamente polarizado, como o brasileiro, é desejável que o vencedor estenda a mão… é muito mais difícil que o lado perdedor, que está doído e desnorteado, tenha a capacidade de perceber que o mundo não acabou…perceba que a vida segue e uma derrota hoje pode se traduzir em uma vitória amanhã.

Esse comportamento segregador é mais surpreendente quando se trata de um político experiente como Lula. Por já ter sofrido várias derrotas consecutivas (1989, 1994 e 1998) e, inclusive, ter sido preso, poderia ter sinalizado paz, união, pacificação e consolo para o lado derrotado.

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Lula poderia ter extraído essa lição de Nelson Mandela, que chamou para ser seu vice-presidente Frederik De Klerk, justamente quem o havia mantido na prisão. Essa atitude certamente não resolveu os problemas de segregação racial (Apartheid) da África do Sul, mas sinalizou um caminho… um sonho que pudesse ser seguido não apenas pelo lado vencedor, mas também com a chance de inclusão do lado derrotado.

É importante destacar que uma visão voltada para o futuro por parte do vencedor não é sinônimo de anistia ou de “panos quentes” com os potenciais comportamentos desviantes do derrotado e/ou de seus seguidores. Esse é um problema do Congresso e do judiciário, mas não do novo governo.

Por que Lula não conseguiu (ou não quis) seguir o exemplo de Mandela? Uma potencial explicação é que Lula estaria abrindo caminho para uma estratégia de transferência de responsabilidade (blame shifting) de potenciais erros no início do seu novo governo. Quanto mais construir a narrativa de estar em um cenário de “terra arrasada”, menos responsabilidade Lula teria por seus potenciais erros.

Além disso, assim como Bolsonaro necessitou implementar e reproduzir um discurso belicoso e de confronto aberto para manter unido e coeso o bolsonarismo, Lula também precisa desse discurso polarizado para alimentar e manter unido o lulismo.

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