BRASÍLIA – O governador reeleito do Pará, Helder Barbalho (MDB), minimizou a relação conturbada que existe entre seu partido e o PT desde o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016. Na sua avaliação, é natural que haja cotoveladas, mas isso não impede o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “O MDB tem a oportunidade de cumprir um papel de centro, de equilíbrio, nesse ambiente polarizado”, disse ele ao Estadão, numa referência à disputa entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Filho do senador Jader Barbalho (MDB-PA) e padrinho de uma aliança que abrigou partidos antagônicos, como PT, PSDB e União Brasil, Helder foi reeleito com 69,82% dos votos válidos no Pará, a maior porcentagem nas eleições para governos estaduais. Titular da Secretaria dos Portos na gestão Dilma e ministro da Integração sob Michel Temer, o governador classificou como “relevante” o apoio dado a Lula pela senadora Simone Tebet (MDB-MS), terceira colocada na disputa. “Não dá para se omitir nesse processo”, argumentou.
O PT e o MDB foram aliados nos governos de Lula e Dilma, mas romperam em 2016, quando a então presidente sofreu impeachment e Temer, à época vice, assumiu o Palácio do Planalto. Dilma até hoje se refere a Temer como “golpista”. Lula quer o apoio dele na campanha, mas não deixou de atacá-lo em público. A seguir, os principais trechos da entrevista:
De que modo o sr. vai colaborar com a campanha do ex-presidente Lula neste segundo turno?
Vou colaborar aqui no Estado, dialogar com os eleitores que votaram no Ciro (Gomes) e na Simone (Tebet). Tem um patamar de 8% que são eleitores que fizeram uma escolha pela mudança. Vamos saber se esses eleitores identificam esse modelo de mudança como sendo do Lula – não só do Ciro ou Simone – e se é possível atraí-los.
O MDB decidiu liberar os filiados. Acha que foi a decisão correta? Existe uma maioria pró-Lula ou a favor do presidente Bolsonaro no partido?
A maioria é favorável ao Lula, mas há uma representação importante a favor do Bolsonaro. Isso levou o partido a respeitar essa heterogeneidade.
Como o sr. avaliou a decisão do ex-presidente Michel Temer de não se posicionar na campanha?
O presidente Temer agiu certo. Ele demonstra estar acima dessas questões, dessa disputa de dois campos antagônicos. Liguei para ele para dizer que eu iria apoiar o presidente Lula e não queria que ficasse sabendo por terceiros. Ele estava dando palestra em Londres e conversamos. Sinalizou que não iria apoiar o Bolsonaro, que entendia que deveria ficar acima dessas disputas. Fiquei muito satisfeito com a carta que ele divulgou, destacando valores que compreendo serem pilares centrais da história do MDB, legados do mandato dele e sugestões importantes para o futuro do Brasil.
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, é do MDB e declarou voto em Tarcisio de Freitas, candidato de Bolsonaro ao Palácio dos Bandeirantes. Ele tomou a decisão correta?
Isso é resultado da realidade local. Óbvio que o Ricardo sabe que o Boulos (Guilherme Boulos, deputado eleito pelo PSOL), inevitavelmente, é um potencial adversário. A vitória do Fernando Haddad, como também a vitória do Lula, fortalece esse campo. Em uma lógica de conveniência e sobrevivência, ele tende a fazer sua opção.
O apoio da senadora Simone Tebet é importante para angariar votos?
Acho relevante ela ter se manifestado. Não dá para se omitir nesse processo.
O PL, partido de Bolsonaro, elegeu 99 deputados. Além disso, diversos ex-ministros, como Damares Alves, Sérgio Moro e Tereza Cristina, conquistaram vagas no Senado. Se Lula ganhar, conseguirá ter diálogo com um Congresso mais à direita?
Quem for (eleito) presidente deve primar pelo diálogo, pelo fortalecimento da democracia e das instituições. Deve ser analisado o perfil de cada bancada. Muitas vezes você tem o retrato de um partido no qual não necessariamente há uma identidade de ideologia rígida. É precipitado interpretar uma fotografia apenas por números. Por exemplo, 99 deputados do PL. Quantos destes são rígidos e ideológicos de direita e quantos estão no PL por já estarem ali? Isso é muito relativo. Você destaca exemplos, como a Damares. Tem também o Magno Malta. São pessoas que têm uma postura muito rígida e ideológica, mas eu entendo que é fundamental, em cada bancada, ter essa visualização para, a partir daí, poder conversar. O próximo presidente da República terá de fazer muito bem feito esse exercício. Entendo que o presidente Lula tem experiência e haverá de compreender que a configuração congressual é diferente da época que ele esteve na Presidência.
Há chances de MDB e PT terem uma relação harmoniosa no governo Lula, mesmo com toda essa briga após o impeachment de Dilma Rousseff?
Acho que sim. No meu entendimento, há todas as condições para diálogo. O MDB tem a oportunidade de cumprir um papel importante de centro, de equilíbrio, nesse ambiente polarizado. Não enxergo qualquer tipo de preconceito. É claro que a opinião de algumas lideranças com postura mais antagônica deve ser respeitada, mas eu entendo que há condição de diálogo, sim.
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