O que é o Centrão no Congresso Nacional e qual é sua relação com Bolsonaro?

Para se blindar de eventual impeachment e garantir governabilidade, o presidente Jair Bolsonaro se aproxima do Centrão; entenda o que é

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Por Bruno Nomura
Atualização:

Eleito com o discurso de deixar a “velha política” para trás, o presidente Jair Bolsonaro iniciou o mandato tentando governar sem formar uma coalizão de partidos, mas agora acena uma aproximação com o chamado Centrão para tentar garantir governabilidade após sucessivas crises com o Parlamento. Esse movimento do Planalto é visto com cautela por bolsonaristas, já que o presidente foi eleito fazendo críticas ao chamado 'toma lá, dá cá'.

A existência do Centrão não é novidade na política brasileira. O grupo atua desde a época da Assembleia Constituinte e ganhou novo impulso a partir da ascensão do ex-deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ) à presidência da Câmara, ocupando um vácuo deixado pela falta de articulação política do governo da então presidente Dilma Rousseff (PT).

O plenário do Congresso Nacional Foto: Gabriela Biló/Estadão

Entenda o que é o Centrão e qual é sua relação com o presidente Jair Bolsonaro:

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O que é o Centrão no Congresso Nacional?

Diferentemente das frentes parlamentares oficiais do Congresso, o chamado Centrão é um grande bloco informal determinado principalmente por comportamentos que visam a garantir vantagens políticas.

Na avaliação do cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria, o Centrão é um conjunto de partidos do baixo clero do Congresso com projetos ideológicos fluidos, que podem ser remodelados conforme variam seus interesses. “São partidos que têm um custo muito baixo de mudança de posicionamento diante da ausência de uma imagem minimamente consolidada entre os eleitores. São difíceis de terem seu comportamento monitorado e sobrevivem muito em função de estratégias para ter acesso a recursos de poder, diante da pouca pretensão de construir projetos nacionais”, descreve.

Entre as principais moedas utilizadas pelo Centrão para barganhar seu apoio está a nomeação de cargos públicos, “tendo em vista o controle de dotações orçamentárias”, aponta o cientista político.

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Cortez ressalta que o termo não faz referência ao seu posicionamento ideológico. “O adjetivo ‘centro’ não significa necessariamente um comportamento moderador. Do ponto de vista político-ideológico, na minha leitura, são legendas que estão no campo da direita, que se legitimam com temas associados à direita. O termo faz referência a essa ideia de fluidez nesses posicionamentos, já que essas siglas conseguem se adaptar com mais facilidade às circunstâncias”, avalia.

Quais partidos políticos que formam o Centrão?

Diante da fluidez de posicionamentos e de sua informalidade enquanto bloco parlamentar, Cortez afirma que não é possível listar os partidos que integram o Centrão. O cientista político estima, no entanto, que a aproximação do presidente Bolsonaro ao Centrão poderia representar o apoio de cerca de 200 parlamentares.

O Centrão apoia o presidente Jair Bolsonaro?

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Embora Bolsonaro tenha ensaiado aproximações com o Centrão, na avaliação de Cortez, não existe um apoio sistemático do grupo ao governo. “Não me parece que essa aproximação vai ocorrer em bases partidárias ou vai ser uma condição suficiente para o presidente enfrentar os riscos de interrupção de um mandato”, analisa. 

Neste momento, Cortez aposta em relações mais “fluidas” de Bolsonaro com o Centrão, já que ainda não existe uma opção do governo para fazer uma atração mais contundente do grupo em bases partidárias, com a nomeação de indicados para ministérios. O cientista político reforça, no entanto, os resultados dessa associação podem estar ameaçados.

“A taxa de retorno dessa aproximação pode ser cada vez menor se a gente caminhar para um cenário crescente de crise econômica, de consequências negativas em termos da pandemia. O que é desafiador para esse resultado mais efetivo é que é um movimento feito a partir de uma perda crescente de popularidade do presidente, mas sobretudo de seu isolamento no âmbito das instituições”, diz Cortez.

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A história do Centrão

A existência do Centrão no Congresso não é novidade na história. Sua origem remonta a um bloco surgido na época da Assembleia Constituinte para se contrapor às forças de esquerda. Em 1987, uma reportagem do Estado já repercutia as ações do Centrão. Em 1988, em troca da nomeação de cargos públicos, os parlamentares do Centrão conseguiram aprovar o aumento de quatro para cinco anos do mandato do então presidente José Sarney (MDB). Leia a reportagem do Acervo Estadão.

O ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) (04/11/2015) Foto: Dida Sampaio/Estadão
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