O que é ‘rachadinha’? Entenda a prática e por que é considerada um crime

‘Rachadinha’ é desvio de dinheiro público; suspeito da prática, André Janones teve processo arquivado pelo Conselho de Ética da Câmara, mas segue como alvo de inquérito do STF; ele nega irregularidades

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Foto do author Juliano  Galisi
Atualização:

O Conselho de Ética da Câmara aprovou, na quarta-feira, 5, parecer do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) pelo arquivamento do processo de cassação do deputado federal André Janones (Avante-MG). Janones era alvo de uma representação pela suspeita de prática de “rachadinha”.

Em novembro de 2023, veio à tona um áudio de André Janones datado de fevereiro de 2019. Na gravação, o então deputado federal diz ao seu gabinete que alguns funcionários estavam prestes a “receber um pouco de salário”. Esses servidores, por sua vez, o “ajudariam” a pagar dívidas de uma campanha a prefeito. Janones nega que tenha orientado o estorno dos vencimentos.

André Janones é investigado pelo STF por possível prática de 'rachadinha' Foto: Gilmar Félix/Câmara dos Deputados

O PL sugeriu a cassação de Janones, mas Boulos rejeitou a representação ao alegar que o assunto era de competência do Poder Judiciário. Um inquérito sobre a possível “rachadinha” de André Janones tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), sob relatoria do ministro Luiz Fux.

O que é ‘rachadinha’?

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O termo se refere a um tipo de desvio de dinheiro público. A verba para o pagamento dos salários dos assessores de políticos provém dos cofres públicos. No esquema de “rachadinha”, o servidor é cooptado para repassar uma parte de seu salário de volta ao político que o contratou.

Este repasse pode ser feito por meio de transferências bancárias ou pelo pagamento de despesas pessoais do político. No áudio atribuído a Janones, por exemplo, não há menção a um depósito na conta bancária do deputado federal, mas sim ao pagamento de dívidas.

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O esquema da “rachadinha” pode estar associado a outros crimes, como lavagem de dinheiro, para maquiar a origem dos recursos desviados. Além disso, a “rachadinha” pode se relacionar a outras formas de corrupção, como a contratação de funcionários “fantasmas” ou “laranjas”: nestes casos, o servidor está oficialmente loteado no gabinete de um político mas, na prática, não exerce as funções presumidas pelo cargo público.

‘Rachadinha’ é crime?

A prática de “rachadinha” é crime, mas não há, no Código Penal, um artigo específico que restrinja a conduta. Por outro lado, ao realizar a “rachadinha”, tanto o político quanto o servidor que consente com a prática podem ser qualificados em crimes como peculato, concussão e corrupção passiva. O enquadramento legal varia de caso a caso.

Por que Boulos pediu arquivamento do processo contra Janones?

O parecer de Boulos, que é aliado de Janones, sugeriu o arquivamento da representação contra o deputado federal mineiro e foi aprovado por 12 votos a 5. Para o deputado do PSOL, a possível prática de “rachadinha” já está sendo apurada pelo Judiciário, a quem compete a conclusão do inquérito.

Além do critério da competência, Boulos argumentou que Janones não incorreu em “quebra de decoro parlamentar” pois a gravação de áudio é datada de um período em que o mineiro ainda não tinha assumido o mandato.

A alegação não procede, pois o áudio atribuído a André Janones é de 5 de fevereiro de 2023, quatro dias depois de 1º de fevereiro, dia da posse dos deputados federais. Além disso, a sessão inaugural do Congresso havia sido realizada na véspera da gravação, no dia 4.

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Reunião do Conselho de Ética que apreciou parecer a favor de André Janones terminou em confusão Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Após o colegiado arquivar o a representação, parlamentares entusiastas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram a trocar insultos e provocações.

Janones chamou adversários de “boiola” e os convocou “para conversar lá fora”, entrando em conflito com o conterrâneo Nikolas Ferreira (PL-MG). “Dou na sua cara com um soco, seu otário”, disse Janones. “Pode vir, bate”, respondeu Nikolas. A situação escalou e a Polícia Legislativa separou os congressistas. Janones foi retirado da sala, mas Nikolas o seguiu pelos corredores da Casa.

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