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O que esperar da viagem de Lula à China? Especialistas respondem

Encontro deve selar acordos comerciais e geopolíticos, além de marcar retomada de diálogo entre Brasil e país asiático

Por Ana Luiza Antunes
Atualização:

ESPECIAL PARA O ESTADÃO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarcou na manhã desta terça-feira, 11, para a China na expectativa de selar cerca de 20 acordos bilaterais com o principal parceiro comercial do País. Lula se encontra com o presidente chinês Xi Jinping na sexta-feira, 14.

O que se espera da visita, do lado brasileiro, é que ela evidencie o papel de destaque do País na esfera política internacional e mostre o interesse do Brasil em estreitar laços com a China. Temas como o comércio entre as duas nações, a guerra entre Ucrânia e Rússia, além da possibilidade de transferência de tecnologia e o meio ambiente devem ser abordados entre as lideranças. Ao Estadão, especialistas analisam o que o País pode esperar do encontro, qual a visão da China sobre o Brasil e avaliam o retorno brasileiro ao diálogo multilateral.

Lula embarcou para a China na manhã desta terça-feira, 11; desembarque ocorre em Xangai após escala em Lisboa e Abu Dhabi. Foto: Secom/PR

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Para Lívio Ribeiro, pesquisador associado do FGV Ibre e sócio da BRCG, o Brasil volta a se colocar no cenário de negociações e debates internacionais em diversos fóruns. Segundo ele, houve um abandono do governo anterior, liderado por Jair Bolsonaro (PL) em relação à China. “O que essa administração faz agora é retomar esse contato multilateral. Esse é o ponto mais importante desta visita: recolocar o Brasil na arena do jogo”, afirmou o especialista.

Ribeiro aponta que cartas de intenção de investimento e acordo de cooperação tecnológica - principalmente no setor agrícola -, devem estar entre as discussões possíveis. Conforme mostrou o Estadão, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, já havia adiantado as negociações bilaterais e avaliou que a viagem aproxima ainda mais o agronegócio do governo brasileiro.

Segundo Leonardo Trevisan, professor de Economia e Relações Internacionais da ESPM, a grande expectativa da visita é abrir espaço para que o Brasil “sente na mesa decisória” do mapa geopolítico mundial. “O Brasil se aproxima da China nesta condição de ocupar algum espaço, uma confluência de interesses”, declarou. “A China enxerga que esse lado do continente (América Latina) está próximo, e o Brasil tem uma questão de liderança que é indiscutível. A evidência mais forte que esse interesse mútuo é real, foi a rapidez com que a vista foi remarcada.”

Em relação à agenda, o professor evidencia os interesses chineses de aproximação com o governo brasileiro, e diz que alguns acordos pontuais podem ocorrer, principalmente relacionados à produção de carros elétricos, construção do satélite CBERS-6 - que permite o monitoramento de biomas - e assuntos ligados à indústria de semicondutores.

“A agenda deste encontro vai estar capitaneada pelos interesses chineses.” De acordo com Trevisan, a China pode fazer alguma pressão para a assinatura do Belt and Road. Trata-se de uma iniciativa do governo chinês que visa o desenvolvimento de sua infraestrutura por meio de investimentos em diversos países. “Os Estados Unidos estão com uma certa restrição em fazer investimento no Brasil, principalmente em infraestrutura, e a China quer ocupar este espaço.”

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Na avaliação do professor, outro tema que deve entrar na pauta é a criação de uma abertura para que o presidente Lula participe diretamente das ações chinesas de mediação do conflito na guerra na Ucrânia. “A guerra da Ucrânia no ano de 2023 pode ser um agravante para a situação econômica. Se nós tivermos, nesse contexto, uma situação de agravamento com o preço do petróleo e energia, vamos ter uma situação difícil e a China quer voltar a crescer”, esclarece. “O PIB chinês depende do mundo para isso.”

O colunista do Estadão e mestre em ciência política pela UNB, Silvio Cascione, reforça ambos argumentos e afirma que a agenda internacional do presidente demonstra forte interesse pelo Brasil. “Com a sucessão de choques geopolíticos dos últimos anos, há um grande apetite por parcerias com o Brasil, e isso tem sido facilitado pela diplomacia ativa do atual governo, que reverteu o afastamento causado pela retórica radical do ex-presidente Jair Bolsonaro”, escreveu em artigo publicado nesta terça.

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