A nova pesquisa Datafolha sobre a intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo, que será publicada na tarde desta quinta-feira, 26, deve medir os possíveis impactos de um novo episódio de agressão física durante debate do Flow, realizado na noite desta segunda-feira, 23.
Antes da confusão, que resultou no marqueteiro do prefeito Ricardo Nunes (MDB), Duda Lima, ensanguentado após levar um soco de um assessor de Pablo Marçal (PRTB), o influenciador foi expulso do debate por desobedecer às regras já nos minutos finais do encontro. Há duas semanas, quando o apresentador de TV José Luiz Datena (PSDB) acertou uma cadeirada no ex-coach, os resultados das pesquisas seguintes não sofreram alterações significativas.
Especialistas ouvidos pelo Estadão pontuam, no entanto, que tão importante quanto os porcentuais de intenção de voto de cada candidato serão os índices de rejeição que levam do eleitorado. Outro ponto a ser observado na pesquisa será o índice de indecisos, que pode se transformar em abstenção no dia do pleito, a pouco mais de uma semana – ou, segundo uma tendência apontada, é de migrar para o candidato com menor rejeição.
Após a cadeirada, Marçal oscilou três pontos de rejeição para cima, apontou a última pesquisa Datafolha. Na série histórica do instituto, desde agosto, o influenciador cresceu 17 pontos em seis semanas e chegou a 47% no índice de quem o eleitor paulistano “não votaria de jeito nenhum”.
Para Pedro Paulo de Assis, pós-doutorando no Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), o cenário apresentado nesta quinta-feira deve ser semelhante ao apresentado pela Quaest desta terça-feira, 24, que coloca Nunes com 25%, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) com 23%, e Marçal com 20% – os três tecnicamente empatados. O pesquisador pontua, no entanto, que o índice de rejeição de Marçal pode se manter na tendência de crescimento observada nas últimas semanas.
“Quando a gente lida com rejeição, normalmente em pesquisas de opinião, estamos lidando com o teto que os candidatos possuem, então é o quanto eles podem crescer ainda nas eleições. Quando você tem um aumento da rejeição, há a diminuição da capacidade que o candidato tem de crescer”, explicou o pesquisador.
Assis comenta que, após o episódio da cadeirada, Marçal não oscilou na intenção de voto, mas a quantidade de indecisos que poderiam votar nele provavelmente diminuiu. “A rejeição não derruba o candidato, mas diminui a possibilidade de crescimento, então, de certa forma, o episódio enrijeceu um pouco mais a disputa”, disse.
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Para Vinícius Alves, pesquisador da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e diretor da Ipespe Analítica, que analisa o agregado das pesquisas mais recentes, Marçal interrompeu seu movimento ascendente. Então, para ele, a nova publicação pode ou mostrar um viés de declínio ou apresentar o candidato estacionado nas intenções de voto. “É possível que Nunes e Boulos se isolem na liderança ou mantenham alguma margem razoável, mas não muito grande em relação a Marçal”, analisou o pesquisador.
Para Alves, há ainda a possibilidade de Nunes abrir vantagem contra Boulos, uma vez que tem mais tempo de propaganda eleitoral na TV e rádio, e menos rejeição que o psolista. “Se isso ocorrer, pode vir às custas de alguma desidratação de Marçal, de outros candidatos ou da redução dos indecisos e menos convictos”, explicou.
Para a professora de ciência política e coordenadora do Laboratório de Eleições, Partidos e Política Comparada (Lappcom), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart, essa é uma eleição em que não é possível adiantar qualquer tipo de cenário baseado nas pesquisas, porque a oscilação entre os candidatos é muito próxima da margem de erro.
A pesquisadora também pontua uma preocupação no alto número de pessoas indecisas, principalmente na avaliação espontânea. Para ela, a possibilidade de Marçal ainda crescer com esses votos é maior que a dos demais candidatos.
Na avaliação dela, o eleitor que agora responde às pesquisas afirmando que votará em branco ou nulo apresenta uma tendência de fazer um “voto de protesto”. “O candidato do voto de protesto nesta eleição, o que está despontando como novidade, é o Marçal. Então, ele pode ter um plus nas próximas pesquisas ou somente no dia da eleição mesmo”, afirmou.
Já Assis avalia que a tendência é de que os indecisos, de forma geral, migrem para o candidato que têm a menor rejeição. Entre os que despontam na frente na intenção de voto, está o atual prefeito, com 21% de rejeição. Boulos, em comparação, tem 37% no último levantamento.
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