Alvo de uma operação da Polícia Federal (PF) nesta quinta-feira, 15, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) acumula um vasto histórico de declarações nas suas redes sociais acusando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Justiça, Flávio Dino, de fazerem parte de um conluio, no qual teriam prevaricado “de propósito” para prejudicar manifestantes dos atos antidemocráticos do 8 de janeiro em Brasília.
Por ordem do próprio ministro, o senador teve as redes sociais suspensas e o celular apreendido, ao mesmo tempo em que agentes federais vasculharam o gabinete e mais dois endereços dele. Do Val é investigado pelos crimes de divulgação de documento confidencial, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa. Na parede de externa do gabinete, há uma imagem do parlamentar vestido como um super-herói da Swat – grupo de armas e táticas especiais dos EUA, do qual ele afirma ser ex-instrutor.
O cerco começou a se fechar em torno de Do Val quando, em fevereiro, ele disse que foi convidado por Jair Bolsonaro e Daniel Silveira para participar de uma trama golpista, e que chegou a se consultar com Moraes, que teria lhe dito “vai porque informações são importantes”. Depois do episódio, ele ameaçou deixar o mandato, mas não o fez. As declarações lhe renderam uma investigação no Supremo.
Nesta quarta-feira, 14, véspera da operação, Do Val disse nas suas redes sociais que Alexandre de Moraes seria investigado no inquérito que apura os atos antidemocráticos do 8 de Janeiro. O ministro é relator do caso.
Na segunda-feira, 12, o senador publicou um trecho do que seria um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). “Vocês irão ver a prevaricação dos ministros Flávio Dias, Gonçalves Dias, Alexandre de Moraes e do presidente Lula”, disse o senador. A publicação termina com ele afirmando “ele (Lula) só não sabia que eu existia e que trabalho na inteligência”.
Na semana passada, Do Val revelou estar se articulando, com outros colegas de Casa, para abrir uma investigação parlamentar sobre o Supremo. “Em conjunto com outros senadores, já estamos finalizando uma petição para que possamos dar início o mais breve possível a uma CPI do STF”, disse o senador, compartilhando uma foto do que seria o protocolo do expediente.
A publicação também compara o que ele diz serem “atos anticonstitucionais do ministro Alexandre de Moraes” a uma “traição da pátria”, parafraseando uma citação de Ulysses Guimarães, deputado falecido em 1992, que dá nome ao plenário principal da Câmara.
O mote do parlamentar que presidiu a Assembleia Constituinte foi usado em outras publicações pelo senador. Do Val diz que ele e sua família estão sendo “perseguidos”, porque ele estaria, sozinho, lutando para “denunciar os verdadeiros culpados”. “Mesmo sozinho, segui em frente na defesa da democracia e dos patriotas que, em sua grande maioria, não faziam ideia de que grandes extremistas estariam organizando ataques”, disse em defesa dos manifestantes do 8 de Janeiro.
No dia 1° de junho, quando fez essas afirmações, o senador reclamou do fato de ser investigado pelo STF, em inquérito sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, que, segundo ele “pelo grupo de WhatsApp (criado exclusivamente para a manifestação do dia 08) recebia em tempo real as informações para que cada integrante do grupo tomasse as medidas necessárias para evitar a destruição dos Três Poderes”.
Marcos do Val afirmou, categoricamente, em diversas ocasiões, que haveria um conluio entre STF e governo para prevaricar e não agir para conter os manifestantes do 8 de Janeiro, para inclui-los, posteriormente, em uma espécie de “emboscada”, armada por meio das prisões e das ações criminais que hoje estão sob análise da Corte Constitucional.
Em maio, o senador já havia compartilhado publicações que continham supostos recortes de relatórios da Abin, que teriam, de acordo com o parlamentar, alertado o Supremo sobre as ações que radicais tramavam contra os Três Poderes.
Em fevereiro, quando Do Val foi a público falar do suposto plano golpista para o qual havia sido convidado, Alexandre de Moraes rebateu as afirmações durante uma palestra no dia 3 daquele mês. O ministro disse que, de fato, ouviu o relato do senador, mas o parlamentar não quis formalizar denúncia. A suposta tentativa de golpe foi chamada de “ridícula” e comparada a uma “operação Tabajara” por Moraes, que abriu inquérito para investigar o capixaba.
Em entrevista à Globonews na noite desta quinta, 15, o senador disse que a operação é uma “tentativa de intimidação” capitaneada por Moraes. Ele admitiu ter mentido à imprensa sobre as reuniões. “Usei a estratégia da persuasão”, disse o senador.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.