Desde os ataques golpistas que depredaram os prédios públicos do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto em 8 de janeiro de 2023, a Polícia Federal (PF) tem realizado ações para identificar articuladores, responsáveis e financiadores dos atos antidemocráticos. Até agora, as investigações da corporação apontam para uma rede de apoio, inclusive financeiro, de empresários, fazendeiros, influenciadores e políticos, que possibilitaram a ida de vândalos para Brasília, além da conivência de policiais militares durante a invasão às sedes dos Três Poderes.
Desde o dia 20 de janeiro de 2023 até esta terça-feira, 16, quando foi deflagrada a 26ª fase, a Operação Lesa Pátria já realizou 100 prisões preventivas e vasculhou 365 endereços. Os suspeitos podem responder pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
Entre os alvos da operação que busca identificar os envolvidos no 8 de Janeiro, estão apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que estavam em Brasília naquele domingo e invadiram, quebraram e depredaram as sedes dos Três Poderes. A PF já identificou e prendeu, por exemplo, Aildo Francisco Lima, que se filmou sentado na cadeira do ministro do STF Alexandre de Moraes durante os ataques, além de outro golpista, Nelson Ribeiro Fonseca Junior, que furtou uma bola autografada pelo jogador Neymar Júnior que ficava exposta no Congresso – e foi recuperada três semanas após a invasão. Antônio Cláudio Ferreira, o homem que quebrou o raro relógio de Dom João VI, também foi preso.
Débora Rodrigues dos Santos, flagrada pichando “perdeu, mané” na estátua da Justiça em frente ao prédio do STF, foi presa na 8ª fase, em 17 de março do ano passado, com outros 31 suspeitos. Em fevereiro do ano passado, o sargento da Polícia Militar William Ferreira da Silva que fez vídeos subindo a rampa do Congresso e dentro do STF também foi preso alvo da operação.
Já outro braço da operação investiga quem pagou ou arrecadou recursos para apoiar os vândalos com a estrutura necessária para chegarem a Brasília, incluindo também água e comida para os manterem na capital. O deputado estadual de Goiás Amauri Ribeiro (União) é um dos investigados. Alvo de busca e apreensão em agosto do ano passado, o parlamentar afirmou na tribuna da Assembleia Legislativa do Estado ter “ajudado a bancar” acampamento golpista montado em frente a quartel do Exército.
Na penúltima fase, em 29 de fevereiro, dois suspeitos de terem financiado o acampamento golpista em Brasília foram presos. Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio de Mesquita são sócios de uma rede de supermercados. Na operação desta terça, 16, outro suspeito de ajudar a financiar os atos foi alvo de busca e apreensão. O publicitário Rafael Moreno usou sua rede social para afirmar que, sim, fez um financiamento coletivo e que os valores arrecadados foram convertidos em “alimentos, remédios, barracas, colchões, aluguel de tendas, entre outras coisas, exclusivamente para o acampamento em frente aos quartéis”, mas nega ter participado do 8 de Janeiro.
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A Operação também chegou ao deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição na Câmara. As buscas contra o deputado foram motivadas por mensagens trocadas com uma liderança de extrema direita, responsável por organizar bloqueios de estradas após as eleições 2022.
A PF também prendeu suspeitos ou fez busca e apreensão em endereços de suspeitos de endossarem o quebra-quebra. O caso mais famoso até agora foi a prisão de 10 integrantes do grupo chamado “Festa da Selma”, codinome usado para se referir à invasão, segundo as investigações. Entre os presos, estão os influenciadores digitais Isac Ferreira e Rodrigo Lima, o pastor Dirlei Paz e a cantora gospel Fernanda Ôliver, conhecida como a “musa” dos atos golpistas.
Outros alvos, esses da 20ª fase, também são investigados por incentivarem outras pessoas a “participarem do ataque às instituições”, enquanto eles próprios estavam no ataque e se filmaram.
Outra linha de investigação da PF visa identificar a suposta atuação de militares no início das invasões às sedes dos Três Poderes. A PF fez buscas no endereço do general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, por exemplo, por suspeita de que ele tinha sido um dos idealizadores da ofensiva antidemocrática.
A cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) também foi alvo da operação, que prendeu quatro oficiais da corporação por suspeita de omissão e conivência com os invasores. No dia do ataque, o Estadão mostrou que a corporação permitiu que os vândalos transitassem livremente pela área, sem nenhum tipo de restrição. Eles seguem presos aguardando julgamento, já outros três policiais, presos em outra operação, foram soltos por determinação de Moraes no último dia 28.
Segundo o último balanço da Lesa Pátria, divulgado em janeiro pela PF, quando a invasão fez aniversário de um ano, 1.393 pessoas foram presas em flagrante na Praça dos Três Poderes. Além das prisões, que nas 26 fases da operação somam 100, foi realizado o bloqueio de R$ 11,6 milhões em bens dos investigados. Os prejuízos com a depredação é estimado pela PF em R$ 40 milhões.
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