O que se sabe sobre ataque contra assentamento do MST que deixou dois mortos

Ataque a assentamento em Tremembé, no interior paulista, deixou dois mortos e seis feridos; investigação apura possibilidade de relação com disputa fundiária da região e existência de mandantes

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Foto do author Juliano  Galisi
Atualização:

Um ataque ao assentamento Olga Benário, vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), deixou dois mortos e seis feridos na sexta-feira, 10, em Tremembé, no interior paulista. Segundo as investigações da Polícia Civil de São Paulo, o ataque foi realizado por dois homens, já identificados pelas autoridades. Um dos suspeitos já está detido, enquanto o outro segue foragido até a manhã desta segunda-feira, 13.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ligou para a direção nacional do movimento para prestar solidariedade às vítimas. Além disso, o governo federal pediu, por meio do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que a Polícia Federal (PF) investigue o caso.

Velório de um dos mortos por grupo armado que invadiu assentamento Olga Benário, em Tremembé (SP) Foto: Alex Silva/Estadão

Qual foi a dinâmica do crime?

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Segundo relatos à Polícia Civil, um grupo de motos e automóveis se aproximou do assentamento na noite de sexta, por volta das 23h, onde um grupo de assentados realizava a vigília do local. Após uma discussão sobre a “disputa de terrenos” do lote, os suspeitos dispararam contra os sem-terra. As diligências colheram 15 cápsulas de munições no local do crime.

Uma das vítimas relatou aos policiais que cinco carros e três motos participaram da ação. O assentado Altamir Bastos, dirigente regional do MST em São José dos Campos, afirmou ao Estadão que, segundo relatos das vítimas, os suspeitos desceram dos veículos “literalmente atirando”. Além disso, segundo Altamir, os disparos foram “para matar, mirando na cabeça”.

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Quem são os mortos?

Os mortos são Valdir Nascimento, o Valdirzão, de 52 anos, e Gleison Barbosa, o Guegue, de 28 anos. Nascimento era uma das lideranças do MST na região.

O velório foi realizado no domingo, 12, na presença de ministros do governo Lula Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário, e Macaé Evaristo, dos Direitos Humanos.

Quais são as linhas de investigação?

A Polícia Civil trabalha com a hipótese de que o crime foi motivado pela disputa por um dos lotes do assentamento. “Com o assentamento fechado que é, eles têm ali um entendimento de existir concordância para a admissão de pessoas novas no local. Até onde a gente apurou, essa concordância não teria acontecido nessa comercialização do terreno”, disse o delegado Marcos Ricardo Parra, da seccional de Taubaté, à TV Vanguarda.

Como mostrou a Coluna do Estadão, Paulo Teixeira desconfia que o ataque tenha sido ordenado por um mandante ligado à exploração imobiliária da região. O assentamento Olga Benário está regularizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) há 20 anos e já teve todos os seus lotes homologados.

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A suspeita do ministro vai ao encontro da alegada pelo MST. O movimento afirmou, por meio de nota, que o ataque representa “mais uma face” dos conflitos fundiários no Estado de São Paulo. “A ausência de políticas públicas efetivas por parte do governo paulista deixa os territórios de Reforma Agrária vulneráveis e as famílias assentadas, desprotegidas, reforçando um cenário de insegurança e violência.”

Quem são os presos suspeitos de serem autores do ataque?

A Polícia Civil de São Paulo prendeu no sábado, 11, Antônio Martins dos Santos Filho, conhecido como “Nero do Piseiro”. Ele é suspeito, segundo a investigação, de “organizar e participar da chacina”. Segundo o delegado Marcos Ricardo Parra, Nero foi reconhecido pelos sobreviventes do ataque e teria admitido envolvimento no caso.

Segundo relatos obtidos pelo Estadão, Nero estaria há pelo menos dois anos fazendo ameaças recorrentes aos sem-terra do assentamento Olga Benário. O MST afirma ter formalizado várias denúncias à Polícia Civil ao longo desse período, mas nenhuma delas teria resultado em investigação.

A prisão de Nero foi convertida em preventiva no domingo, 12. Na mesma decisão, o juiz Flavio de Oliveira Cesar, da Vara do Júri de Taubaté, decretou a prisão preventiva de Ítalo Rodrigues da Silva, identificado como um dos comparsas de Nero e que, até a amanhã desta segunda, não havia sido detido. Em relato aos policiais, Nero afirmou que Ítalo é filho de seu sobrinho. O despacho cita que há “indícios consistentes de autoria” da dupla no crime.

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