PUBLICIDADE

‘O Supremo sempre estará desagradando alguém’, afirma Barroso

Em entrevista, presidente do STF analisa papel do tribunal no Brasil e a influência da Constituição de 1988

PUBLICIDADE

Foto do author Vinícius Novais

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, disse que, pela forma como a Constituição é feita, a Corte sempre estará desagradando alguém. Segundo o ministro, o texto tira assuntos da política e os leva ao Judiciário. A declaração foi dada em entrevista ao portal Metrópoles.

PUBLICIDADE

“Um tribunal como o Supremo, nas circunstâncias brasileiras, vai sempre estar desagradando uma quantidade relevante de pessoas. Porque o arranjo institucional brasileiro dá um certo protagonismo ao Supremo e o papel dele de decidir e arbitrar as questões mais decisivas da sociedade brasileira. O Supremo desempenha no Brasil um papel diferenciado em relação a todas as Cortes constitucionais do mundo”, defende Barroso.

Segundo o presidente do STF, os constituintes trouxeram vários assuntos para o texto de 1988 e, com isso, os colocaram sob a guarda do Judiciário. O ministro cita seguridade social, tributação, educação, saúde, orçamento, finanças, proteção ambiental, proteção às comunidades indígenas, crianças, adolescentes, idosos, famílias, além do papel do Estado na economia.

O presidente do STF, Luis Roberto Barroso, avalia como a constituição colocou assuntos sob a tutela do Supremo Foto: WILTON JUNIOR/Estadão

“É preciso que um interesse seja muito desimportante para, em algum momento, não chegar ao Supremo. A gente decide desde importação de pneu até pesquisas com células-tronco embrionárias, passando por uniões homoafetivas, mudanças climáticas, conflitos tributários, queima da palha da cana… Estamos sempre desagradando setores poderosos da vida nacional”, explica.

O ministro conclui que, exatamente por tratar de assuntos tão importantes, o Supremo sempre desagradará. “Se você decide uma questão tributária a favor do contribuinte, o governo se queixa e diz que aquilo vai produzir uma quebra fiscal do país. Se você decide a favor do governo, tributaristas dizem que você é fazendário. Se você decide uma questão em favor das comunidades indígenas, a bancada ruralista diz que a gente está fazendo com que o país seja todo tomado por demarcações de terras indígenas”. Sendo assim, Barroso conclui que, por conta desse cenário, é impossível medir a importância do STF por pesquisas de opinião pública.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.