O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), enfrenta três provas cruciais na transição: o assédio bolsonarista por cargos; a articulação política para ter maioria na Assembleia Legislativa (Alesp) e base para governar; a articulação dos serviços públicos para desenvolver os projetos prioritários.
O assédio bolsonarista vem de Brasília e não está recaindo sobre a equipe que cuida do terceiro obstáculo. Natural que, com a derrota nacional e a substituição que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) irá realizar na máquina federal, os políticos mais proeminentes que perderão cargos almejem o acalento do ninho paulista para se reorganizarem.
Tarcísio está lidando com atribulação sobre o primeiro trabalho, pelo pioneirismo na função política. Não conseguirá driblar todas as demandas, vai mitigá-las. Com ajuda de Gilberto Kassab (PSD).
A articulação política está por conta de Kassab, que a maioria dos principais apoiadores deseja na Casa Civil, com o argumento de que ele consagraria a união de experiência política com o viés gerencial de Tarcísio. Kassab está reticente.
Já o grupo que cuida da articulação dos serviços públicos como, por exemplo, que a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) só efetue projetos habitacionais em harmonia com as informações do Metrô, Enel e Sabesp em conexão, não estaria sendo feito devidamente. A equipe que trabalhou no programa de governo se encarrega de tal tarefa. Possui engenheiro experiente na área pública. Também está articulada com Kassab.
Na parte vinculada ao empreendedorismo e ao emprego, Guilherme Afif Domingos (PSD) comanda o processo e tem muita credibilidade junto a Tarcísio. Ocupará o cargo que desejar.
A transição de Tarcísio tem sido contemplada com a sombra causada pela transição de Lula, sob o foco principal da mídia que, em parte, olvida a relevância da transição e da futura atuação do governo paulista.
Dado relevante, em todos os âmbitos citados: a eleição para a Prefeitura de São Paulo já começou.
Haverá um candidato do núcleo governista, com a bênção do governador e de Kassab, trilhará o campo da direita, dividindo-o com Ricardo Nunes (MDB). Imagina-se que o adversário à esquerda será Guilherme Boulos (PSOL) e, na centro-esquerda, provavelmente Tabata Amaral (PSB). Estima-se.
Apesar da sombra lulista, a transição não está simples, porque a resiliência bolsonarista pressiona Tarcísio para um embate imediato que ele não deseja fazer precocemente.
Perspectiva de poder sempre conta mais do que o poder com validade vencida.
*José Luiz Portella é professor doutor de História Econômica e pesquisador pós-doutorando no IEA-USP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.