BRASÍLIA — Sidônio Palmeira, marqueteiro responsável pela campanha vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, assumiu a Secretaria de Comunicação nesta terça-feira, 14, já com desafio de combater uma onda de de desinformação que dissemina a falsa afirmação de que o governo vai taxar o Pix.
Um levantamento interno da pasta indica que notícias falsas sobre esse tema alcançaram ao menos 22,5 milhões de pessoas entre 9 e 13 de janeiro — o número pode ser maior, já que o monitoramento não inclui o YouTube. O volume é comparado ao da desinformação disseminada a respeito de uma suposta omissão federal na ajuda aos afetados pelas enchentes do Rio Grande do Sul, no ano passado.
A Receita Federal implementou novas diretrizes para a fiscalização de transações financeiras realizadas por meio do Pix e de cartões de crédito. Essas mudanças, que entraram em vigor no dia 1º de janeiro, determinam que todas as movimentações mensais, tanto de recebimentos quanto de pagamentos, que atinjam ou ultrapassem o valor de R$ 5 mil para pessoas físicas e R$ 15 mil para pessoas jurídicas, devem ser reportadas ao Fisco. Não existe, no entanto, tributação sobre o Pix.
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O relatório da Secom mostra que o discurso predominante na internet apontou o governo Lula como responsável por uma espécie de “Big Brother financeiro”, um suposto monitoramento das transações financeiras da população. A circulação do conteúdo gerou “temor de aumento de impostos e interferência nas finanças pessoais, afetando principalmente pequenos comerciantes e cidadãos de baixa renda”, diz a análise.
Entre as 100 principais publicações nas redes sociais, as interações negativas correspondem a 58%, as positivas, a 14%, e as informativas, de viés neutro, a 28%. A publicação com mais engajamento veio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), com 304 mil interações para 5,3 milhões de seguidores: “Atenção, trabalhador informal: o governo Lula está de olho no seu dinheiro, e, se depender deles, as coisas vão ficar ainda mais difíceis para você”.
O relatório da Secom também destaca a repercussão de críticas vindas de apoiadores do governo, para quem houve “falhas na comunicação oficial e a demora em combater a desinformação”. Apesar das tentativas de Lula e aliados de desmentir os boatos, a onda desinformativa persiste.
Os dados alarmaram o governo, e a comunicação do Palácio do Planalto correu para o contra-ataque. Lula publicou um vídeo na sexta-feira, 10, fazendo uma doação via Pix para a vaquinha de quitação da NeoQuímica Arena, estádio do Corinthians, e aproveitou o momento para desmentir as notícias falsas. Naquele dia, a Secom registrou o pico de publicações enganosas até o momento.
A confusão a respeito do assunto, porém, conta com apoio de parlamentares. Os deputados federais Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO) e Júlia Zanatta (PL-SC), por exemplo, fizeram publicações endossando a desinformação, e o líder da oposição na Câmara dos Deputados, Luciano Zucco (PL-RS), chegou a publicar uma “nota de repúdio” contra uma suposta “estratégia de controle e vigilância sobre a população brasileira” por parte do governo Lula.
Ao falar após a cerimônia de posse no Palácio do Planalto, Sidônio se mostrou irritado com a atitude dos parlamentares. Questionado sobre se o governo está atento a eventuais impactos eleitorais da disseminação de desinformação, o novo ministro respondeu que a preocupação principal “é com a população em si, que está sendo enganada e prejudicada”, e defendeu punição para os responsáveis pela desinformação.
“Eu fico vendo um aproveitamento político, o que é grave. (Tem) políticos que aproveitam de uma fake news, uma desinformação que causa problemas para a população e fica ampliando isso, a gente tem que estar muito atento nesse aspecto. Temos que fazer uma campanha de esclarecimento quanto a essa grande mal que hoje assola a humanidade”, afirmou Sidônio.
Sidônio chega a Brasília para substituir Paulo Pimenta no comando da comunicação federal. O petista gaúcho deve passar alguns dias de férias antes de decidir junto a Lula seu destino. Há no horizonte tanto a opção de Pimenta continuar na gestão, mas em outro posto de menor relevância, quanto a de voltar à Câmara dos Deputados, para a qual se elegeu em 2022.