Operação da PF que mira Juscelino Filho é baseada em reportagens do ‘Estadão’

Irmã de ministro das Comunicações foi afastada do cargo de prefeita de cidade no Maranhão e alvo de mandado de busca e apreensão; investigação mira organização criminosa que desviou verba pública da Codevasf

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Foto do author Tácio Lorran
Atualização:

BRASÍLIA - A terceira fase da Operação Benesse, deflagrada nesta sexta-feira, 1º, contra a irmã do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil-MA), foi baseada em uma série de reportagens do Estadão.

A ação mira uma organização criminosa estruturada para promover fraudes licitatórias, desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro com verbas da Codevasf. Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Luís, Vitorino Freire e Bacabal, no Maranhão. Um dos alvos é Luanna Rezende, prefeita de Vitorino Freire e irmã de Juscelino. Ela foi afastada do cargo.

Ministro das Comunicações, Juscelino Filho, assumiu a pasta em 1º de janeiro de 2023, no início do terceiro mandato de Lula Foto: Isac Nóbrega / MCom

A investigação da PF foi iniciada com base na reportagem “Gerente da Codevasf é afastado por receber propina, mas continua com salário de R$ 20 mil”, publicada pelo Estadão em 30 de janeiro. A matéria mostrou que Julimar Alves da Silva Filho foi afastado do cargo de gerente da estatal após ser acusado de receber propina de um conhecido de longa de data do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, mas ainda continuava recebendo um salário pago com dinheiro público.

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Julimar é titular da Gerência Regional de Empreendimentos da Codevasf no Maranhão e assinou um parecer, no dia 18 de agosto de 2021, dando aval para um convênio da empresa com a prefeitura de Vitorino Freire.

O dinheiro foi parar em uma obra que beneficiou diretamente o ministro das Comunicações. Conforme revelou o Estadão, Juscelino enviou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente a fazendas da própria família, e onde o ministro construiu um heliponto e uma pista de pouso particular.

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De acordo com uma outra investigação da Polícia Federal, Julimar recebeu R$ 250 mil em propina da Construservice, investigada por fraudar licitações no Maranhão. A empresa foi contratada para asfaltar a estrada que beneficia o ministro.

O verdadeiro sócio da Construservice, de acordo com a PF, é o empresário Eduardo Costa, chamado de “Eduardo Imperador”. Juscelino disse que ele é seu conhecido “há mais de 20 anos”.

O Estadão também mostrou que ao menos quatro empresas de amigos, ex-assessoras e uma cunhada do ministro das Comunicações ganharam mais de R$ 36 milhões em contratos com a prefeitura de Vitorino Freire. Há aspectos em comum entre as beneficiadas. Todas intensificaram os negócios a partir de 2015, quando Juscelino assumiu pela primeira vez uma cadeira de deputado – três foram abertas no início do mandato.

De acordo com a PF, se confirmadas as suspeitas, os investigados poderão responder por fraude a licitação, lavagem de capitais, organização criminosa, peculato, corrupção ativa e corrupção passiva.

Outras investigações

Na série de reportagens, o Estadão também mostrou que Juscelino Filho usou uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir e voltar de São Paulo, onde participou de leilões de cavalos de raça, assessorou compradores de animais, promoveu um dos seus, recebeu prêmio em um “Oscar” de vaqueiros e inaugurou praça em homenagem a um cavalo de seu sócio.

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O Ministério da Defesa calculou em R$ 130.392,87 a despesa com o voo da FAB solicitado pelo ministro das Comunicações. Esse caso deflagrou uma crise interna no governo. Ameaçado de demissão, Juscelino Filho chegou a se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas conseguiu se manter no cargo devido ao apoio do Centrão. Um processo foi aberto na Comissão de Ética Pública (CEP) da Presidência da República, mas foi arquivado no fim de julho.

Ministro Juscelino Filho é frequentador de leilões de cavalo e um dos mais conhecidos criadores de animais da raça Quarto de Milha, voltada para vaquejada. Na imagem, ele em um evento em 22 de janeiro de 2022 Foto: Reprodução/TV Vaquejada

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O Estadão também revelou que Juscelino Filho omitiu da Justiça Eleitoral um patrimônio de ao menos R$ 2,2 milhões em cavalos da raça. Em agosto do ano passado, quando registrou sua candidatura a deputado federal, ele possuía ao menos 12 animais Quarto de Milha, adquiridos em leilões. Os cavalos são criados no haras dele em Vitorino Freire, no Maranhão, onde ele mandou asfaltar, com dinheiro do orçamento secreto, uma estrada que corta fazendas da família e passa em frente a sua pista de pouso particular.

Quando deputado federal, Juscelino também empregou em seu gabinete o “faz-tudo” de fazendas da sua família. O motorista Waldenôr Alves Catarino passou quase uma década realizando diversos serviços braçais na roça enquanto era pago pela Câmara. Em entrevista exclusiva ao Estadão, o homem de 57 anos afirmou que foi contratado por Juscelino como assessor parlamentar, mas nunca trabalhou na função.

“Era assim, ó: eu era lotado aí na Câmara Federal e trabalhava aqui para o tio dele na fazenda”, afirmou. “Eu fazia tudo, trabalhava num caminhão. Levava óleo para trator, instalando estaca na fazenda, fazia tudo…”, disse Waldênor.

Motorista Waldenôr Alves Catarino que foi nomeado assessor da Câmara por Juscelino Filho, mas só trabalhava na fazenda do tio do ministro das Comunicações Foto: Reprodução/Estadão e Wilton Junior/Estadão

O jornal mostrou também que o piloto da aeronave e o gerente do haras de Juscelino também foram pagos com verba da Câmara. Eles estavam lotados no gabinete do suplente do ministro, neste ano, mas dão expediente mesmo nas propriedades de Juscelino.

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O ministro ainda abriu o gabinete do ministério para o sogro empresário despachar como se tivesse um cargo público. O empresário Fernando Fialho, sogro do ministro das Comunicações despachou no gabinete do genro, onde recebeu empresários, mesmo não sendo nomeado para nenhum cargo público. Registros de entradas do ministério mostram que o empresário atende na sede da pasta, em Brasília, inclusive quando o genro cumpria agenda no Maranhão, sua base eleitoral. A Comissão de Ética Pública também abriu um processo sobre esse caso. Ainda não há definição.

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