Oposição no Senado quer convocar Mauro Vieira por ‘omissão’ em crise após eleição na Venezuela

Chanceler brasileiro é acusado de ‘silêncio’ após pleito na Venezuela; Nicolás Maduro foi reeleito com suspeitas de fraude no processo eleitoral, reação brasileira foi contida

PUBLICIDADE

Foto do author Juliano  Galisi
Atualização:

Os senadores de oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vão propor a convocação do ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira, após o “silêncio” do Brasil na crise por suspeitas de fraude no pleito presidencial da Venezuela. Segundo o senador Ciro Nogueira (PP-PI), ex-ministro-chefe da Casa Civil durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o pedido será protocolado com urgência.

A convocação, segundo o senador, ocorrerá “diante da omissão, do silêncio, da conivência e da falta de reação” do governo brasileiro. “Para tentar explicar o inexplicável.”

O comparecimento de autoridades na Câmara ou no Senado pode ocorrer por meio de dois tipos de requerimentos: por convite, com o qual a presença é facultativa, ou por convocação, cujo cumprimento é obrigatório.

Luiz Inácio Lula da Silva e Mauro Vieira na Reunião da Força-Tarefa para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza Foto: Pedro Kirilos/Estadão

PUBLICIDADE

A reação do Brasil após a eleição para presidente na Venezuela foi na contramão de países vizinhos, mesmo os governados por autoridades de esquerda, como o Chile, de Gabriel Boric, e a Colômbia, de Gustavo Petro. A opinião predominante entre governos sul-americanos e mundo afora é o de que as queixas da oposição venezuelana, que afirma não ter obtido acesso a mais de 70% das atas eleitorais do país, são procedentes.

Os governos da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai, juntamente com Equador e Paraguai, emitiram um comunicado conjunto pela recontagem de votos e respeito à soberania popular. A reação brasileira, contudo, foi mais contida. O assessor de Lula para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, cobrou acesso das atas da eleição aos observadores internacionais, mas ainda não rechaçou de forma contundente as suspeitas de fraude.

Publicidade

A Venezuela é uma ditadura comandada por Nicolás Maduro, herdeiro político do chavismo, a doutrina política inaugurada por Hugo Chávez. Maduro está tentando um terceiro mandato presidencial, mas a disputa pela sucessão ao governo foi marcada por perseguição a opositores e falta de transparência a observadores internacionais.

Segundo o resultado divulgado pelo órgão eleitoral da Venezuela, aparelhado por Maduro, o chavista venceu o pleito por 51% a 44% de Edmundo González, o principal candidato de oposição ao regime. Enquanto o Itamaraty não se posiciona sobre o tema de forma contundente, setores do PT, partido do presidente brasileiro, se colocam de forma favorável a Maduro. A executiva nacional petista chamou o presidente venezuelano de “reeleito”, sem contestar a lisura do processo eleitoral.

Como mostrou a Coluna do Estadão, Lula e Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, conversarão para articular um posicionamento conjunto sobre a eleição venezuelana. A conversa deverá ocorrer às 15h30 desta terça-feira, 30.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.