Pacheco adia CPMI do 8 de janeiro e oposição promete fazer obstrução na Câmara e no Senado

Parlamentares oposicionistas quem instaurar comissão parlamentar apara apurar ataques a prédios públicos defendendo a tese de que não só bolsonaristas praticaram atos extremistas

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Foto do author Levy Teles
Atualização:

BRASÍLIA — Com gritos de “vai ter CPMI”, parlamentares da oposição marcaram presença massiva em reunião de lideranças do Congresso Nacional que aconteceu na tarde desta terça-feira, 18, exibindo o desconforto com mais um adiamento da leitura do requerimento de criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar os atos extremistas do 8 de janeiro.

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Os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG), Coronel Chrisóstomo (PL-RO), Bia Kicis (PL-DF) e o senador Marcos do Val (Podemos-ES) lideraram a ofensiva ante o presidente do Congresso e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que postergou o ato para o dia 26 de abril.

A decisão foi tomada após um encontro de Pacheco com líderes partidários do governo no dia anterior, que pediram adiamento da agenda, sob alegação que o piso salarial dos enfermeiros, precisaria passar antes por parecer da Comissão Mista de Orçamento (CMO). A sessão da Casa iria avaliar vetos. A base bolsonarista cogita a obstrução ao governo para garantir a realização.

O descumprimento da palavra revoltou a oposição, que usa o tema como principal pauta contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A base de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pressiona desde março para que Pacheco dê início aos trabalhos da CPMI, que já tem o número mínimo de 1/3 de deputados e senadores para a abertura. Algumas pessoas gritaram “CPMI já” enquanto parlamentares falavam com a imprensa.

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O acordo inicial definiu o dia 11 de abril como a data inaugural. A promessa foi quebrada após o presidente da Casa acompanhar a delegação de Lula para a China, em viagem oficial. Já havia, naquele momento, desconfiança de deputados bolsonaristas de que pudesse haver um novo adiamento, já que Pacheco tinha uma viagem para Londres marcada na tarde do dia 18, para participar de um evento do Grupo de Líderes Empresariais (LIDE).

O Republicanos é um dos partidos que geraram atrito com a oposição. O líder da legenda, Hugo Motta (PB), pediu adiamento. “Por que o partido Republicanos assinou junto com partidos da base do Lula um ofício ao Pacheco pedindo adiamento da sessão conjunta? Não havia um posicionamento de jamais ser base do Lula? Espero que os 27 deputados do Republicanos que ainda NÃO assinaram a CPMI, repensem”, escreveu o deputado André Fernandes (PL-CE), autor do requerimento.

Os bolsonaristas chegaram cedo ao Congresso para garantir quórum para a abertura da sessão do Congresso para garantir quórum. Mesmo atendendo aos requisitos mínimos para começar a sessão, Pacheco prosseguiu com o adiamento. O governo ainda não conseguiu esvaziar as assinaturas do requerimento da CPMI. Pouco mais de uma dezena deputados e senadores optaram por retirar a assinatura do requerimento enquanto ainda outros parlamentares aderem ao movimento.

Poucos antes de Pacheco tomar a decisão, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, disse que seria uma situação “muito ruim, constrangedora, de que a palavra não fosse cumprida”, disse. Ele ainda garantiu que a oposição aumentará o enfrentamento ao governo. “Não sendo possível, certamente a Câmara e no Senado haverá um trabalho de obstrução, dificuldade de aprovação de matérias”, afirmou.

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“Obstrução. Apenas obstrução! Não tem como prosseguir normalmente no congresso sabendo que centenas de inocentes continuam presos enquanto autoridades comprovadamente omissas estão livres. Se os parlamentares não pararem TUDO, a CPMI não vai acontecer. Obstrução. Obstrução!”, escreveu Fernandes.

Na Comissão de Segurança Pública da Câmara, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) reforçou o desejo de investigar uma possível omissão do governo federal e a situação dos presos na Papuda e na Colmeia Pessoas. Ele também defendeu o ex-ministro de Segurança Pública Anderson Torres, então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal em ação durante os atos golpistas, que está preso. “Tenta abafar uma investigação, deixando por vezes senhorinhas dentro de uma pressão, pessoas que mais mereceriam passar na frente de uma porta de uma delegacia passar meses ali dentro. O caso de Anderson Torres é um dos mais notórios”, afirmou.

Nas últimas semanas, o senador Marcos do Val lidera o esforço nas redes para pressionar deputados e senadores ao requerimento do deputado André Fernandes (PL-CE), e montou um grupo no Telegram para que os mais de 9 mil membros telefonem e enviem e-mais para o gabinete de parlamentares. Membros de gabinete de deputados ouvidos pela reportagem declaram ter recebido telefonemas com acusações como “defensor de comunista”.

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