Pacheco recebe convite do União Brasil e pode deixar PSD em meio à indefinição do partido sobre Lula

Segundo aliados, senador tem demonstrado incômodo com possibilidade de sigla de Gilberto Kassab não apoiar reeleição do petista e embarcar em uma candidatura de direita em 2026

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Foto do author Pedro Augusto Figueiredo

O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) recebeu convite para deixar o PSD e se filiar ao União Brasil. Aliados afirmam que ele ainda não bateu o martelo, mas avaliam que há chance da troca partidária ocorrer diante da possibilidade de o partido presidido por Gilberto Kassab não apoiar a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026 e da proximidade de Pacheco com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). A escolha, porém, passa pela definição se Pacheco será candidato a governador de Minas Gerais e qual será sua estratégia de campanha em relação ao petista, que o quer como palanque no Estado.

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O presidente do PP, senador Ciro Nogueira, disse ao Estadão que o convite foi feito por ele e pelo próprio Alcolumbre — os dois partidos negociam uma federação. Embora Nogueira seja aliado de Jair Bolsonaro (PL) e o União tenha o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, como pré-candidato a presidente, a avaliação é que Pacheco teria liberdade para apoiar Lula em Minas Gerais caso opte por esse caminho. “Não definimos 2026″, disse Ciro Nogueira ao ser perguntado sobre a hipótese.

A assessoria de imprensa de Pacheco não quis se posicionar. Pessoas próximas a Alcolumbre negam o envolvimento dele nas conversas. Kassab não se manifestou. O convite foi revelado pelo site O Fator e confirmado pelo Estadão, que avançou no assunto.

Após deixar presidência do Senado, Pacheco avalia sair do PSD após convite de Alcolumbre Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

Pacheco é o candidato preferido de Lula para o governo de Minas Gerais, mas ainda não decidiu se disputará o cargo. Ele se recusou a assumir um ministério, mas declarou que apoiará a reeleição do presidente em 2026.

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“Espero que Lula seja candidato à reeleição. Ele terá meu voto e apoio, em especial por seu compromisso absoluto com a democracia, com a estabilidade das instituições e com a melhoria da vida dos brasileiros”, disse Pacheco à colunista Raquel Landim, do portal UOL, na terça-feira, 18.

Principal liderança do PSD em Minas Gerais, o senador tem demonstrado incômodo com a postura da sigla nacionalmente, segundo aliados, e avalia deixá-la — outra possibilidade é se filiar ao MDB. O temor é que o PSD abandone Lula para embarcar em uma candidatura de direita, hipótese que ganha força caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) se lance na disputa presidencial. Kassab, que é secretário de Governo na gestão Tarcísio, já manifestou nos bastidores que tentará ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes se o chefe do Executivo paulista não disputar a reeleição. O apoio do governador seria fundamental para a pretensão do presidente do PSD.

Pacheco não deve ir ao encontro nacional do partido que será realizado em Belo Horizonte (MG) no final do mês. Enquanto Kassab, governadores e outras lideranças da sigla se reunirão na capital mineira, o senador estará na comitiva de Lula que viajará ao Japão e ao Vietnã.

Embora Pacheco tenha dito que apoiará Lula, há quem defenda em seu entorno que o melhor caminho é ele manter certa distância do presidente e se posicionar como um candidato de centro ao governo de Minas. Aceitar ser ministro, nessa visão, seria “colocar a estrela do PT no peito”, nas palavras de um aliado, em um Estado em que a rejeição aos petistas é significativa por causa do governo feito por Fernando Pimentel (PT) entre 2015 e 2018.

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Este raciocínio é baseado na aposta que o apoio do PT viria naturalmente diante da falta de quadros competitivos do partido no Estado, a exemplo do que ocorreu com Fuad Noman (PSD), aliado do senador que foi reeleito prefeito de Belo Horizonte no ano passado. Mesmo com o apoio dos petistas no segundo turno, Noman evitou colar a imagem a Lula e não fez nenhum evento de campanha junto com o presidente.

A possível saída do senador do PSD não está relacionada aos desentendimentos recentes com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD). Segundo interlocutores dos dois em Minas Gerais, Pacheco mantém diálogo com Silveira e tem dito que apoiará a candidatura do ministro ao Senado no ano que vem. Eles tiveram atritos no ano passado em meio à disputa por indicações para agências reguladoras.

A ida ao União Brasil, de certa forma, seria um retorno: Pacheco era do DEM, que se fundiu com o PSL para dar origem à sigla em 2021. Mesmo no PSD ele manteve influência sobre o União em Minas Gerais. No ano passado, por exemplo, foi o responsável pelo acordo para que Fuad Noman escolhesse Álvaro Damião (União Brasil) como vice na chapa que saiu vitoriosa na Prefeitura de Belo Horizonte.

A volta de Pacheco seria atrativa na visão de aliados do ex-presidente do Senado porque a aliança do União Brasil com o PP tornará a federação a maior força partidária do País. Isso se traduz em abundância de tempo de propaganda eleitoral, recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral, pontos fundamentais para sustentar a candidatura de Pacheco a governador.

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Com o PSD preparando uma guinada à direita, a troca também é vista como vantajosa porque o União Brasil continua sem uma unidade ideológica clara — há alas mais próximas ao governo Lula e outras que fazem oposição à gestão. A leitura é que isso facilitaria a articulação de Pacheco para formar uma coalizão com o PT e outros partidos de esquerda mesmo com a pré-candidatura de Caiado a presidente.

Ao sair do PSD, Pacheco deixaria a sigla livre para uma aliança com o governador Romeu Zema (Novo), que pretende lançar o vice-governador Mateus Simões (Novo) como seu sucessor. O presidente do partido no Estado, Cássio Soares (PSD), disse que não descarta apoio do PSD a Simões. A declaração foi dada entrevista ao jornal O Tempo na quinta-feira, 20.