Padilha vira alvo de críticas no Congresso por falta de articulação do governo com aliados

Parlamentares cobram cargos e dizem que ministro de Relações Institucionais ‘não entrega’ o prometido e ‘não tem boa vontade para conversar’

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Foto do author Levy Teles

BRASÍLIA - Em dois meses de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não conseguiu azeitar sua base de apoio no Congresso, e deputados responsabilizam o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais). Parlamentares cobram cargos e dizem que o ministro, que coordena a articulação política, “não entrega” o prometido e “não tem boa vontade para conversar”.

Padilha funciona como uma ponte entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Sua pasta é vital para garantir a governabilidade. Presidentes que não conseguem uma coalizão se inviabilizam politicamente. Dilma Rousseff, por exemplo, sofreu impeachment pela falta de articulação política do seu governo. Antes disso, trocou o ministro das Relações Institucionais quatro vezes. O ex-presidente Jair Bolsonaro também mudou o titular da pasta quatro vezes, mas a distribuição de emendas via orçamento secreto permitiu que ele conseguisse barrar 158 pedidos de impeachment.

A atuação do ministro Alexandre Padilha como articulador político tem sido criticada por deputados Foto: Wilton Junior / Estadão

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Um dos partidos que mais atacam Padilha é o União Brasil, que comanda três ministérios, mas se manifestou como “independente”. No início da semana, a sigla pressionou o presidente, ameaçando votar contra o governo caso o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, fosse demitido. Para garantir os 59 votos da sigla na Câmara e nove no Senado, Lula cedeu e recuou da sua disposição de trocar o ministro que usou dinheiro público para ir a leilões de cavalo. O caso foi revelado pelo Estadão.

Enquanto a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, cobrava a troca do ministro, Padilha pedia calma, e fez uma defesa pública de Juscelino, num gesto de pacificação. Além das Comunicações, o União Brasil patrocinou a indicação dos ministros da Integração Nacional e do Turismo. Os três foram apadrinhados pelo senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), o que levou a outra ala do partido a se sentir desprestigiada.

Cargos

Congressistas relatam “lentidão” e “morosidade” de Padilha na divisão dos cargos de segundo e terceiro escalões. “Há um descontentamento muito grande em relação a esse relacionamento do Padilha com o Congresso, que não está acontecendo. Ele não tem nos procurado, pelo menos no União Brasil, e eu não vejo essa boa vontade do Padilha para conversar”, disse José Rocha (União Brasil -BA).

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O deputado Rodrigo de Castro (União Brasil-MG), fez coro ao colega baiano e apontou que o governo entra no terceiro mês de mandato com “o diálogo ainda incipiente”.

De acordo com o deputado Luiz Carlos Busato (União Brasil-RS), o diálogo do governo está sendo feito com a presidência dos partidos. “Está ruim em função disso. Os deputados ficam sem saber o que está ocorrendo, não falo nem em questão de cargo”, afirmou. “Está faltando diálogo direto com a bancada e isso não agrada. Dessa forma, cada um vai votar como bem entender”.

O União Brasil reúne parlamentares irredutíveis em fazer oposição a Lula, os ditos “independentes” e os parlamentares aliados – em minoria. Quase a metade da legenda na Câmara assinou o requerimento para a abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar os ataques golpistas de 8 de janeiro, medida que o Palácio do Planalto não quer, sob o argumento de que pode atrapalhar votações importantes no Congresso.

Para o deputado José Nelto (PP-GO), a indicação de ministros por um partido não significa que o governo tem o apoio de todos os parlamentares. “Para ter o apoio, o governo tem que usar o Diário Oficial e a caneta”, disse.

Emendas

Padilha vai centralizar a liberação de emendas parlamentares no governo Lula, o que aumenta a pressão dos congressistas. O ministro também foi escalado por Lula para negociar a liberação de verbas extras dos ministérios com o Congresso, aquelas não vinculadas a emendas e sob controle total do Executivo, retomando uma antiga prática de “toma lá, dá cá” para pagamento de recursos federais em troca de votos no Congresso.

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Padilha também não tem interlocução com os comandos das três maiores frentes parlamentares da Câmara – as bancadas da bala, dos ruralistas e dos evangélicos. A primeira reúne 200 deputados, a segunda 240 e a terceira, 132. O ministro não se envolveu na disputa pela liderança destas bancadas, o que poderia ter evitado que fossem comandadas por bolsonaristas.

No Planalto, auxiliares do presidente afirmam que a articulação emperra por causa do desgaste gerado pelos ataques golpistas às sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro, assim como pela lentidão do início das atividades da Câmara.

Em nota, a assessoria do Ministério das Relações Institucionais afirmou que, desde o início do governo Lula, Padilha tem mantido relacionamento e diálogo permanente com parlamentares de todos os partidos. “No período, já foram realizadas mais de 400 audiências com parlamentares, individual ou coletivamente, além de diversas reuniões com comissões temáticas, partidos e bancadas.”

Nesta semana, diz o texto, o ministro convidou os 90 deputados em primeiro mandato das regiões Sul e Centro-Oeste para café da manhã e reunião no Palácio do Planalto, em Brasília. “Na próxima semana, haverá atividade semelhante com os deputados das demais regiões.”

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