BRASÍLIA - O governo espera que a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Luciana Lóssio segure, por tempo indeterminado, a análise do recurso do PSDB que pede que a Corte dê continuidade a uma ação que pode levar à cassação do mandato da presidente Dilma Rousseff e de seu vice, Michel Temer.
A ministra interrompeu anteontem, com um pedido de vista, a sessão que analisava o caso. A avaliação entre lideranças petistas no Congresso é que, como não há um prazo formal para que a ministra devolva o processo, e assim o julgamento possa ser retomado, o ideal seria que essa discussão demorasse para voltar à pauta do tribunal.
Reservadamente, um senador da base aliada afirmou que Luciana é tida como um dos nomes favoráveis ao governo na Corte e que, por isso, a ministra poderia tomar essa decisão para evitar o agravamento da atual crise política.
O fato de a maioria dos ministros do TSE ter votado a favor do recurso do PSDB acendeu uma "luz amarela" no governo, que acreditava que esse assunto já estava resolvido. Se ninguém mudar de ideia, o processo que investiga as supostas irregularidades na campanha petista vai voltar a tramitar no tribunal e Dilma e Temer terão que se defender no tribunal.
Em fevereiro, a ministra Maria Thereza de Assis Moura havia arquivado o processo, proposto pela coligação do candidato derrotado à Presidência Aécio Neves (PSDB), alegando que não havia provas para dar prosseguimento à ação.
O PSDB, porém, entrou com um recurso para que o processo voltasse a tramitar. Na terça-feira, em uma sessão tensa, com direito a bate-boca entre ministros, Luiz Fux e Henrique Neves votaram a favor do pedido tucano. Gilmar Mendes e João Otavio de Noronha já haviam se manifestado nesse sentido.
Apesar do clima de apreensão que se instalou no PT, integrantes do partido foram escalados ontem para defender a presidente e a legitimidade dos recursos levantados para a campanha do ano passado. O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), afirmou que a presidente não tinha por que se preocupar com esse assunto. "Dilma já tem contas aprovadas pelo TSE. Não tememos", disse.
A argumentação do líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), foi na mesma linha. "Esse é um assunto que o TSE já aprovou e agora dá um passo atrás", disse. Em dezembro, o tribunal havia aprovado, com ressalvas, as contas da campanha de Dilma do ano passado.
Dentro do PSDB, o grupo ligado ao senador Aécio é o mais interessado no prosseguimento da ação. Por essa via, eles imaginam que Temer também possa ser impedido de assumir o cargo de presidente, o que acarretaria na realização de novas eleições. Conforme as mais recentes sondagens, Aécio é o líder de todas as pesquisas de intenção de voto para presidente.
Em uma nova eleição ele largaria com vantagem, avaliam os aliados do senador mineiro.