Pastores intermediavam reuniões no MEC, afirmam prefeitos

Segundo relatos, religiosos sem vínculo com a administração pública se ofereciam para ‘resolver problemas’ na pasta

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BRASÍLIA — Prefeitos ouvidos pelo Estadão admitiram que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, sem vínculos com a administração pública nem com o setor de ensino, atuaram na intermediação de reuniões com o ministro da Educação, Milton Ribeiro. Os relatos mostram que os pastores se ofereceram para “resolver problemas” de prefeitos no MEC – de auxílio em prestações de contas atrasadas a pedidos de liberação de verbas para compra de ônibus escolares e construção e reforma de escolas.

Conforme revelou o Estadão nesta quinta-feira, 17, o gabinete de Milton Ribeiro foi capturado por pastores ligados a ele. Lideram o grupo Gilmar Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da entidade. Especialistas consideraram que a atuação dos pastores pode configurar crime de usurpação da função pública.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro (à esq.), durante reunião com pastores em gabinete no MEC. Foto: Luis Fortes/MEC

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O prefeito de Guarani D’Oeste (SP), Nilson Caffer (PTB), disse que os pastores se apresentaram para ajudar a solucionar questões dentro do MEC, como prestações de contas de recursos federais recebidos pelo município. “Coisas que eu não sabia em que porta bater, eles saberiam me orientar. Ajuda para resolver alguma coisa que eu não desse conta. Por exemplo, eu tenho um negócio enroscado aí, que não sai, essas coisas, para falar com eles, que eles iam me direcionar nos locais certos”, afirmou Caffer, sem detalhar o que seriam esses “enroscos”.

A prefeita de Israelândia (GO), Adelícia Moura (PSC), declarou que foi incluída na lista de uma reunião pelo pastor Arilton. “Eu tinha algumas demandas e fui para tentar resolver. O rapaz que organizou (Arilton) que me incluiu na lista dessa reunião”, disse ela, que administra uma pequena cidade a 180 km de Goiânia.

O prefeito de Jaupaci (GO), Laerte Dourado, afirmou ao Estadão que é “amigo do pessoal” dos pastores. Por intermédio deles, esteve duas vezes no MEC. A primeira foi uma reunião em janeiro. Buscava investimento de R$ 800 mil para “reformar escola” e “comprar ônibus”, e os pastores lhe disseram que iriam ajudar. 

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Em ambas as agendas, segundo o prefeito, Gilmar Santos e Arilton Moura conseguiram os encontros com Milton Ribeiro. “Vim naquela reunião dos prefeitos e depois voltei”, relatou, referindo-se a encontro de janeiro deste ano, organizada pelos pastores. 

Já o prefeito de Jandira (SP), Doutor Sato (PSDB), declarou que frequentava a igreja dos pastores e que também foi levado por eles para falar com o ministro. “Nossa, foi fantástico, foi uma coisa divina.”

Procurados pelo Estadão, os pastores admitiram que levam prefeitos para dentro do gabinete do ministro, mas não explicaram por que participam de reuniões onde são discutidas liberações de recursos para municípios. Eles disseram que não pedem contrapartida pelo acesso ao ministro.

“Nunca houve direcionamento de recursos, houve atendimento lá, o ministro com a sua equipe dando orientações, respondendo a perguntas sobre recursos do MEC, sobre equipamentos escolares”, disse Gilmar. Sustentou ainda que recebe pedidos de prefeitos por ser chefe da igreja e que, por causa da amizade com o ministro, podem usar seu nome no ministério. “Eu não tenho nenhuma influência, nenhuma autonomia em questão de prefeitos, do ministro, eu participei de algumas reuniões sempre falando num momento devocional, fazendo uma oração pela nação.”

Arilton alegou que nunca participou de reunião sobre obras em municípios, embora a agenda oficial do ministro registre o contrário. No dia 24 de fevereiro, está escrito no tema do encontro “obras” e a informação de que foi o próprio pastor quem solicitou a reunião. Na ocasião estavam presentes prefeitos do Maranhão. Procurado, o ministro não se manifestou. 

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A revelação de que pastores  atuam como um gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC) provocou reações no Congresso, entre especialistas e até no Tribunal de Contas da União. O Ministério Público junto ao TCU pediu para que o caso seja apurado pela Corte. 

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