BRASÍLIA - O economista e blogueiro Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho foi um dos alvos da Operação Tempus Veritatis da Polícia Federal (PF), deflagrada nesta quinta-feira, 8. A operação investiga o planejamento de um golpe de Estado pela cúpula do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após as eleições de 2022. Paulo é neto de João Batista Figueiredo, o último presidente da ditadura militar (1964-1985), e, segundo relatório da PF, é investigado pela propagação de fake news para incentivar ataques contra militares contrários ao golpe em programas de rádio e televisão.
De acordo com a PF, Paulo fazia parte de um grupo responsável por incitar militares a aderir ao golpe. As acusações contra o blogueiro giram em torno de participações que ele fez em programas televisivos e nas redes sociais. O Estadão buscou contato, mas não localizou Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho. O espaço segue aberto para manifestação.
Segundo apontam as investigações, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, acompanhado do coronel Bernardo Romão Correa Neto e do tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere Medeiros, articulavam com Paulo a divulgação de notícias falsas. Essas fake news eram produzidas para expor militares que não estavam alinhados com as iniciativas golpistas.
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O objetivo, segundo a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, responsável por ordenar a ação da PF nesta quinta, foi a de “incitar os integrantes do meio militar a se voltarem contra os comandantes que se posicionam contra o intento criminoso”.
“Eu apurei que há (generais do Alto Comando do Exército) que têm se colocado de forma aberta contra uma ação mais contundente das Forças Armadas. Mas, hoje, por um dever cívico, vou dar nome aos bois, pois o povo brasileiro tem direito de saber quem é quem”, disse Paulo em 22 de novembro de 2022, em publicação nas redes sociais reproduzida no relatório da Polícia Federal.
Como mostrado pela coluna do Marcelo Godoy no Estadão, a fala do jornalista desencadeou uma campanha nas redes sociais que passou a caluniar e a difamar os generais, qualificados como carreiristas, traidores e melancias. Entre os alvos, estava o general Tomás Paiva, atual comandante do Exército.
Na decisão que deflagrou a operação desta quinta-feira, Moraes ordenou que Paulo fosse alvo de busca e apreensão pessoal e domiciliar e sofresse medidas cautelares diversas da prisão, como a proibição de manter contato com outros investigados pela operação e a desativação das suas redes sociais.
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Investigado é neto de ex-presidente da Ditadura
Paulo é neto do ex-presidente João Figueiredo, que foi o último mandatário da ditadura militar, entre os anos de 1979 e 1985. O regime foi iniciado por um golpe militar em 1964 e durou 21 anos.
O governo de Figueiredo foi marcado pela abertura política, iniciada pelo seu antecessor, Ernesto Geisel. Foi na gestão do ex-presidente, que era general do Exército, que foi extinto o bipartidarismo e promulgada a Lei da Anistia, que beneficiou perseguidos pelo regime e autoridades acusadas de torturas.
A gestão de Figueiredo também foi marcada por atentados terroristas. O mais icônico foi o Atentado do Riocentro, que ocorreu em abril de 1981. Militares insatisfeitos com a abertura política planejaram um ataque à bomba em um show no Rio, porém, o plano falhou e os explosivos mataram um sargento.
A repercussão e as tentativas dos militares de abafar o caso acabaram selando o fim da Ditadura, que terminou na eleição indireta do ex-presidente Tancredo Neves em 1985. Após deixar a Presidência, Figueiredo se retirou da vida pública e militar, morrendo em 1999, aos 81 anos.
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