BRASÍLIA - O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello informou nesta terça-feira, 4, que está com suspeita de covid-19 e, por isso, não comparecerá presencialmente ao Senado para prestar depoimento aos integrantes da CPI da Covid. A fala do general estava marcada para esta quarta-feira, 5, mas foi adiada para o dia 19, após as duas semanas necessárias para a quarentena.
“Ele teve contato com dois coronéis auxiliares dele nesse fim de semana que estão com covid. Segundo a informação que eu tenho, ele entrará em quarentena e não virá depor amanhã”, disse o presidente da CPI, deputado Omar Aziz (PSD-AM), no início da sessão desta terça.
Pazuello já teve a doença em outubro de 2020, e chegou a ficar internado no hospital DF Star, em Brasília. Apesar de já ter se contaminado, há a possibilidade de reinfecção. Alguns testes para covid apresentam resultado em uma hora.
Após o anúncio de Aziz, o ex-ministro foi criticado porque, até então, desconsiderava recomendações sanitárias. A senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) lembrou que Pazuello foi flagrado na semana passada em um shopping de Manaus sem a máscara de proteção facial. "Ele anda sem máscara e não pode vir à CPI. Vai sem máscara para o shopping e não pode vir à CPI", reclamou.
O depoimento de Pazuello, que comandou a pasta de Saúde até março deste ano, é considerado um dos mais importantes pela comissão, que investiga erros e omissões do governo de Jair Bolsonaro no enfrentamento da pandemia.
Substituído pelo médico Marcelo Queiroga, Pazuello fez acusações graves ao deixar o Ministério da Saúde, admitindo até a existência de um esquema de corrupção na pasta. Os integrantes da comissão têm na manga uma série de omissões de Pazuello, que reputam terem sido responsáveis pelo agravamento da pandemia de coronavírus no Brasil.
O militar tem sido “treinado” pelo governo para suportar a pressão. Pazuello é um dos alvos do senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da CPI. “Guerras se enfrentam com especialistas, sejam elas bélicas ou sanitárias. A diretriz é clara: militares nos quartéis e médicos na saúde. Quando se inverte, a morte é certa”, disse Renan.
Pazuello foi convocado na condição de testemunha. A estratégia foi adotada pelos senadores para evitar que recorra à Justiça para ficar em silêncio, sob a alegaçaõ de não produzir provas contra si mesmo. Como testemunha, ele é obrigado a comparecer e dizer a verdade. Mentir é considerado crime, com pena prevista de até quatro anos de prisão. No entanto, testemunhas também têm direito a não responder a perguntas que possam comprometê-las.
Mandetta e Teich
Nesta terça-feira, os senadores ouvem o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, o primeiro a ocupar a pasta na pandemia, que deixou o governo após desentendimentos com Bolsonaro. O médico não concordou em recomendar medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença nem em criticar o isolamento social, contrariando o presidente.
Como mostrou o Estadão, emissários de Bolsonaro reuniram uma série de informações sobre Mandetta e as repassaram a senadores. Além disso, perguntas que serão feitas ao ex-ministro foram preparadas dentro do Planalto e enviadas aos aliados. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, estiveram pessoalmente envolvidos no municiamento dos governistas, segundo apurou a reportagem.
Também está previsto o depoimento do sucessor de Mandetta no ministério, Nelson Teich. Aziz afirmou que, caso se confirme o adiamento da presença de Pazuello, Teich pode ser ouvido apenas nesta quarta.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.