PEC da Segurança Pública de Lula provoca contra-ataque bolsonarista no Congresso

Governo federal deve ouvir até associações de municípios e prefeitos enquanto partido de Jair Bolsonaro articula projeto de lei concorrente no Parlamento

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Foto do author Guilherme Caetano

BRASÍLIA - A proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata de temas de segurança pública preparada pelo governo Lula, apresentada aos governadores na última semana, deflagrou um contra-ataque da oposição no Congresso. O texto da gestão petista é chamado pelos adversários como “PEC da Insegurança Pública”. O discurso bolsonarista é que Lula quer “propor maior controle federal”, centralizar as decisões e “aumentar o seu poder sobre a segurança pública nos Estados, retirando a autonomia deles e invadindo prerrogativas estaduais”.

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Garantir que não haja interferência federal nas políticas estaduais tem sido a precaução central do governo Lula. Em diversas entrevistas, o ministro Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública), autor do texto, e o secretário nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo, disseram não querer interferir na competência dos governadores.

O PL do ex-presidente Jair Bolsonaro articula para apoiar um projeto de lei, de autoria dos deputados Alfredo Gaspar (União-AL) e Alberto Fraga (PL-DF), para influenciar no processo. O texto de 95 páginas e 115 artigos cria um modelo de colaboração entre os Estados — em contraposição à ampliação de atribuições da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal da PEC petista —, coordenado por um colegiado.

“A PEC não traz nada de inovação. Ela mostra claramente uma intervenção nos Estados, e ampliar poderes para a PRF é muito arriscado, uma vez que a própria PRF está com seu efetivo abaixo do previsto. Vamos nos posicionar contra”, diz Fraga, presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública, conhecida como “bancada da bala”.

Lula reuniu os governadores no Palácio do Planalto para debater a PEC da Segurança Pública Foto: Wilton Junior/Estadão

O projeto também define “organização criminosa transnacional” e inclui na categoria crimes como tráfico de drogas e de pessoas, controle ilegal de territórios e financiamento ao “terrorismo”. As penas estipuladas para esses crimes atingem 40 anos de reclusão.

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“É bem melhor que o projeto do governo federal”, diz o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN).

Governo tenta aparar arestas

Enquanto a oposição tenta bancar seu plano B, a gestão petista ativou uma operação delicada para medir a aceitação ao texto em diferentes esferas, inclusive dos municípios.

Depois de repousar no departamento jurídico da Casa Civil por meses, a chamada PEC da Segurança Pública foi tornada pública na semana passada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou o texto aos governadores para medir a recepção ao texto antes de enviá-lo ao Congresso. Mas agora o projeto deve passar por uma longa rodada de apreciação antes de sair das mãos do Poder Executivo.

O Conselho da Federação, criado por Lula em abril de 2023 para fortalecer o diálogo com Estados e municípios, deve se reunir nos próximos dias com os secretários-executivos dos governos estaduais e de entidades nacionais de municípios para pensar e definir um cronograma de ação e discussão. A operação vai ser comandada pela secretaria-executiva do conselho, chefiado por Rafael Bruxellas, vinculado à Secretaria de Relações Institucionais.

O Consórcio do Nordeste, formado pelos nove Estados da região, vai se reunir virtualmente para debater um posicionamento conjunto sobre a medida. Os demais governadores se comprometeram a enviar seus pareceres ao governo federal depois da reunião no Palácio do Planalto.

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O ministro Ricardo Lewandowski diz não haver um “prazo fixado” para a aprovação da proposta. “Vamos ouvir os governadores, secretários de segurança, a sociedade civil, a academia. Nós estamos esperando as sugestões, vamos maturá-las, examiná-las, e a partir de um consenso mínimo enviaremos um anteprojeto para o Congresso”, declarou em entrevista à GloboNews nesta terça-feira, 5.

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A preocupação em coletar o máximo de feedbacks possível vem do fato de que a PEC versa sobre uma atribuição conferida pela Constituição Federal de 1988 aos próprios Estados, o que pode gerar celeuma nos demais governantes. É nisso que os bolsonaristas vem apostando para desgastar o texto do governo antes mesmo de ele começar a tramitar.

O progresso das discussões da PEC despertou outros movimentos. Um projeto de lei complementar (PLP 215/2019), que autoriza governos estaduais a alterar a legislação do Código Penal e do Código de Processo Penal, foi pautado com discrição na Câmara dos Deputados na semana passada. Se aprovado, ele permitirá que Estados atuem na tipificação de crimes (exceto hediondos, eleitorais e militares), aumentando penas, criando novos crimes e endurecendo punições e prisões.

A proposição vem na linha da demanda levantada por alguns governadores na reunião com Lula na semana passada. Nenhuma ideia expressada pelos presentes teve tanta adesão quanto a de dar maior autonomia para Estados modificarem a legislação penal. Chefes estaduais como Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo, e Fábio Mitidieri (PSD), de Sergipe, queixaram-se que “o Congresso faz as leis, e nós (governadores) pagamos as contas”.

A Rede Justiça Criminal, que reúne nove organizações para combater as políticas de encarceramento no Brasil, alertou os deputados Erika Kokay (PT-DF), Bacelar (PV-BA), Helder Salomão (PT-ES), Laura Carneiro (PSD-RJ), Patrus Ananias (PT-MG) e Delegada Katarina (PSD-SE), que entraram com pedido de vista conjunto contra o PLP. Mas o texto deve voltar à pauta nas próximas semanas.

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Outro PLP similar (108/2023), que também concede aos Estados competência para legislar na pauta das armas de fogo, está pronto para ser colocado em pauta. Janine Salles de Carvalho, coordenadora-executiva da Rede, avalia que “o conservadorismo tem encontrado bastante força nos Estados e, por isso, utilizado essa pauta da autonomia (estadual) para burlar a organização federativa e emplacar suas pautas”.

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