CPI da Covid: entenda a investigação contra o governo Bolsonaro no Senado

Ministro Luís Roberto Barroso, do STF, determinou que o Senado instaure Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a atuação do governo federal na pandemia

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Foto do author Adriana Ferraz

Chamada pelo presidente Jair Bolsonaro de produto da “militância política” do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, a CPI da Covid, determinada na quinta pelo ministro e que ainda precisa ser referendada nesta quarta, 14, pelo plenário do tribunal, poderá tomar medidas como convocar autoridades do governo para depor, determinar quebra de sigilo fiscal e telefônico de investigados e indiciar culpados.

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O objetivo é investigar a atuação do governo na pandemia. A decisão de Barroso aprofunda o desgaste do governo em um momento de queda de popularidade do presidente Jair Bolsonaro e de agravamento da pandemia, que já levou à morte mais de 350 mil brasileiros. 

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) protocolou no sábado, 10, pedido para que a CPI da Covid também apure ações dos governos de Estados, do Distrito Federal e dos municípios. Em requerimento encaminhado à Secretaria-Geral da Mesa do Senado, Vieira afirma que as competências e responsabilidades na pandemia são “compartilhadas”, o que justificaria ampliar o escopo da comissão para além das ações do governo Jair Bolsonaro.

Jair Bolsonaro, presidente da República Foto: Adriano Machado/ Reuters

O Estadão mostrou nesta segunda que integrantes do governo de Jair Bolsonaro e dos partidos de oposição já se movimentam nos bastidores para tentar obter a hegemonia dentro da comissão. Por ser uma CPI com estrutura enxuta, com apenas 11 membros titulares, o grupo que garantir influência sobre seis integrantes terá maioria e dará as cartas nos trabalhos, inclusive para fazer com que ela não avance. 

“A CPI que Barroso ordenou instaurar, de forma monocrática, na verdade, é para apurar apenas ações do governo federal. Não poderá investigar nenhum governador, que porventura tenha desviado recursos federais do combate à pandemia”, postou Bolsonaro nesta sexta, 9, nas redes sociais. “Barroso se omite ao não determinar ao Senado a instalação de processos de impeachment contra ministro do Supremo, mesmo a pedido de mais de 3 milhões de brasileiros. Falta-lhe coragem moral e sobra-lhe imprópria militância política.”

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Veja perguntas e respostas sobre a CPI da Covid:

Por que o STF ordenou a abertura da CPI?

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, determinou a abertura da CPI após ser provocado pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO), que contestavam a demora do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), de abrir a investigação apoiada por 32 senadores - mais que o mínimo necessário, de 27.

O plenário do STF terá de referendar a decisão de Barroso?

Sim, o ministro já submeteu a liminar que concedeu ao plenário virtual da Corte. Dessa forma, os demais ministros serão convocados a manter ou derrubar a decisão.

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Quais os próximos passos para que a CPI seja de fato instalada?

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, precisa fazer a leitura do requerimento em plenário para que a comissão seja criada. Em seguida, partidos indicam seus integrantes (11 titulares e 7 suplentes) e, uma vez instalada, são eleitos presidente e relator.

A comissão pode convocar autoridades, como ministros e até mesmo o presidente da República?

Sim, mas os integrantes da CPI devem apresentar requerimentos caso queiram convidar ou mesmo convocar autoridades a fornecer informações. Se forem aprovados, até mesmo o presidente pode ser convidado a falar, mas sem a obrigação de atender e nunca como investigado.  

Os senadores têm poder para quebrar sigilos fiscal ou telefônico dos investigados?

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Sim, os senadores atuam como ‘juízes’ em uma CPI. Podem inquirir testemunhas, ouvir indiciados, requisitar informações oficiais e ainda pedir inspeções do Tribunal de Contas da União. 

Que tipo de material pode ser colhido ao longo da investigação?

Assim como podem convocar autoridades, a CPI pode requisitar documentos e determinar a realização de diligências, como visitas a gabinetes, unidades de saúde ou escritórios de fornecedores. 

Os senadores podem mandar prender suspeitos ou abrir processos?

Não, apenas investigar.

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Que resultado pode ter a CPI?

Após aprovado internamente na comissão, o relatório final da CPI é enviado à Mesa Diretora para conhecimento do plenário. A depender da conclusão dos trabalhos, o documento pode gerar um projeto de lei e até mesmo ser remetido ao Ministério Público com pedido de responsabilização civil e criminal dos infratores.

Quanto tempo dura a CPI?

O prazo inicial é de 90 dias, que pode ser prorrogado pelo mesmo período.

Quem deve presidir e relatar a CPI?

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Os nomes ainda não foram escolhidos. A expectativa, no entanto, é que os proponentes da apuração ocupem essas posições, como os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO).

O que é e como funciona uma CPI?

Uma Comissão Parlamentar de Inquérito é um instrumento que dá a parlamentares - deputados e senadores - poderes de investigação próprios das autoridades judiciais. No artigo 58, a Constituição Federal estabelece três requisitos para que uma CPI possa ser instalada: um terço das assinaturas dos parlamentares da Casa onde ela for instalada (no caso do Senado, 27); um fato determinado a ser investigado; e um tempo limitado de funcionamento. No caso da CPI da Covid, foram 32 assinaturas de senadores incluindo a do ex-senador Major Olimpio (PSL-SP), morto há alguns dias. O prazo de funcionamento é de 90 dias e o fato determinado é a atuação ou omissão do governo federal no enfrentamento da pandemia. A CPI tem o poder de pedir ao Ministério Público o indiciamento de quem for considerado responsável pelos fatos sob investigação. No andamento das investigações, a Comissão pode pedir quebras de sigilos bancário, fiscal e de dados, inclusive telefônico, bem como convocar depoentes e investigados, que são obrigados a comparecer. 

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