Apesar da defesa do governo brasileiro à permanência do embaixador José Maurício Bustani na direção geral da Organização para Prevenção de Armas Químicas (OPAQ), o Itamaraty e o Palácio do Planalto consideravam nesta terça-feira esta causa como perdida. Conforme explicou uma fonte da diplomacia ao Estado, Bustani sempre foi pouco maleável aos interesses das nações mais poderosas e nada cínico para acomodar as pressões que recaíam sobre a sua mesa. De acordo com a mesma fonte, a conduta do embaixador tornou-se inconveniente nos últimos meses para a política externa norte-americana depois dos ataques terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro passado. Até então, um dos grandes feitos de Bustani à frente da organização foi a incorporação do Iraque como membro -apesar desse país não fazer parte da Organização das Nações Unidas (ONU). O Iraque passou a ser submetido, assim como os outros 144 membros da OPAQ às regras de controle de produção de armas químicas e as inspeções periódicas da instituição. Com o novo cenário internacional gerado a partir de setembro, as posições defendidas por Bustani tornaram-se focos potenciais de resistência a estratégia dos Estados Unidos em relação ao Iraque. Segundo explicou a mesma fonte, o cargo de diretor geral ou de secretário geral de organismos internacionais exige um perfil mais aberto às negociações políticas e às pressões exercidas pelos Estados Unidos. ?Não é o caso de Bustani, nem foi o caso de Bouthros Boutrhos Gahli na Secretaria Geral da ONU?, afirmou. O egípcio Gahli perdeu o posto por não ter demonstrado comunhão com as idéia norte-americanas e por demonstrar até mesmo antipatia pela preponderância anglo-saxonica nas Nações Unidas. Em reuniões da organização, por exemplo, ele preferia falar em francês. Assim como o governo brasileiro fez nesta terça-feira, o Egito defendeu a permanência de Gahli no posto, naquela ocasião. Mas, como o Brasil, nada pode fazer ao ver Gahli atropelado pelos Estados Unidos.
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