A revelação mais importante que a pesquisa Ipec traz é que nenhuma das táticas adotadas por Jair Bolsonaro foi suficiente para alterar sensivelmente sua alta rejeição e sua baixa intenção de voto. Entre todos os presidentes que buscaram a reeleição desde 1998, Bolsonaro é o que detém os piores indicadores.
Tudo o que Bolsonaro poderia — e o que não poderia — fazer para subir nas pesquisas, ele fez. Driblou a Lei Eleitoral e o teto de gastos para criar diversos auxílios financeiros. Participou de algumas sabatinas e do primeiro debate presidencial. Nada disso, demonstram os eleitores ouvidos pelo Ipec, fez Bolsonaro sair do lugar: está com 31%. Também não alterou sua elevada rejeição, de quase 60%.
O último movimento relevante do presidente em todo o ano ocorreu quando engoliu integralmente os votos que antes estavam na candidatura proto-bolsonarista de Sergio Moro, seu ex-funcionário. Isso ocorreu em maio. De lá para cá, nada mudou para Bolsonaro.
Dado que insistir nas mesmas táticas – legais ou ilegais – tende a não dar resultado, só resta ao presidente da República criar algum fato novo, seja com as manifestações para o 7 de Setembro, beirando golpismo institucional, seja com alguma confusão na semana final do mês. Tudo é possível.
A liderança eleitoral do ex-presidente Lula, que continua a ter porcentuais próximos a de uma vitória em primeiro turno, não foi abalada por qualquer movimentação nas últimas semanas. Resta claro que se tivermos segundo turno presidencial, a única vaga realmente disponível é a de Bolsonaro.
Eleições no 'Estadão'
A despeito da elevadíssima concentração de votos em Lula e Bolsonaro, com o eleitorado viciado na polarização que se estabeleceu entre os dois, alguns movimentos interessantes ocorrem no pelotão abaixo.
O desempenho vistoso da senadora Simone Tebet nas sabatinas e no debate presidencial, aliado a competente campanha oficial em rádio e TV, tem gerado tração no eleitorado: a candidata era a menos conhecida do público quando tudo começou. Nas últimas semanas ela saiu, pelo Ipec, de 2% para 4%.
Ciro Gomes tem norteado sua campanha numa equivalência entre diferentes, Lula e Bolsonaro. O eleitorado, sabendo que eles não são idênticos, tem mantido Ciro relativamente estável em um distante terceiro lugar, com 8%. É sintomático.
A ver como se comportará Bolsonaro em mais uma tentativa de usar o feriado nacional para seus interesses escusos. Mais que isso: veremos como o eleitorado reagirá a mais uma demonstração de radicalidade de um presidente fortemente rejeitado pelo público.
É PROFESSOR E DOUTORANDO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E GOVERNO NA FGV-SP.
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