A Polícia Federal prendeu, na manhã deste sábado, 14, o general da reserva Walter Souza Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL) em 2022. O militar foi detido em sua residência, localizada no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, sob a acusação de obstrução da Justiça. A prisão preventiva foi solicitada pela PF e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
A prisão de Braga Netto, o primeiro general quatro estrelas preso na era democrática do País, está relacionada às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado que ocorreu após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2022. A operação que levou à prisão do militar contou com o apoio do Exército. Braga Netto ficará sob custódia do Comando Militar do Leste e será mantido na Vila Militar, na zona oeste do Rio. De 2016 a 2019, o general foi chefe do Comando Militar do Leste.
A defesa do general da reserva afirmou neste sábado, 14, que vai comprovar que ele não atuou para atrapalhar as investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022.
“Registra-se que a defesa se manifestará nos autos após ter plena ciência dos fatos que ensejaram a decisão proferida. Entretanto, com a crença na observância do devido processo legal, teremos a oportunidade de comprovar que não houve qualquer obstrução as investigações”, diz a nota assinada pelos advogados Luís Henrique César Prata, Gabriella Leonel Venâncio e Francisco Eslei de Lima.
Ao ordenar a prisão do general, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que existem “fortes indícios” de que Braga Netto tenha contribuído de forma mais efetiva e de maior importância do que se sabia inicialmente para o planejamento e financiamento da tentativa de golpe que visava manter Jair Bolsonaro no poder. A decisão foi tomada com o apoio do procurador-geral da República, Paulo Gonet.
Além do mandado de prisão, a operação cumpre dois mandados de busca e apreensão, e uma medida cautelar diversa da prisão, contra indivíduos acusados de dificultar a produção de provas durante a instrução processual penal, informou a PF em nota. “As medidas judiciais têm como objetivo evitar a reiteração das ações ilícitas”, diz o texto.
Os mandados foram cumpridos no Rio de Janeiro e em Brasília. A operação estava prevista para ocorrer na quinta-feira, 12, mas Braga Netto estava em viagem de férias a Alagoas com a família, com retorno agendado para o final da tarde. A PF optou por prender o general no sábado, quando ele já havia retornado à sua residência no Rio.
O coronel Flávio Peregrino, assessor e homem de confiança de Braga Netto, também foi alvo da operação da Polícia Federal realizada hoje. A PF cumpriu mandado de busca e apreensão em sua residência, além de proibir o militar de manter contato com outros investigados.
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Ao solicitar a prisão de Braga Netto, a Polícia Federal indicou que ele teria financiado a ação dos oficiais das Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, com o objetivo de assassinar autoridades da República. Segundo os federais, o general teria entregue recursos aos golpistas dentro de uma sacola de vinho. A informação foi repassada pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, durante sua delação premiada.
Braga Netto é apontado também pela PF como uma figura central na tentativa de golpe. Segundo o relatório do inquérito, as chamadas “medidas coercitivas” previstas no plano Punhal Verde e Amarelo, que incluíam o planejamento operacional para ações de Forças Especiais, foram elaboradas para serem apresentadas ao general. Entre outras ações, o plano previa o assassinato de Lula, Moares e do vice-presidente Geraldo Alckmin.
“Os elementos probatórios obtidos ao longo da investigação evidenciam a sua participação concreta nos atos relacionados à tentativa de golpe de Estado e da abolição do estado democrático de direito, inclusive na tentativa de embaraçamento e obstrução do presente procedimento”, diz a PF.
O general da reserva é um dos personagens mais mencionados no relatório de 884 páginas da Operação Contragolpe, sendo citado 98 vezes. A operação resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros 36 acusados por três crimes: tentativa de abolição do estado democrático de direito, golpe de Estado e organização criminosa.
Segundo o relatório, as “ações operacionais para o cumprimento de medidas coercitivas foram planejadas em reuniões que ocorreram na cidade de Brasília, nos meses de novembro e dezembro de 2022″. Ainda segundo os federais, em reunião do dia 8 de novembro, pouco depois do segundo turno da eleição presidencial, os militares investigados ajustaram a elaboração do plano que seria exibido a Braga Netto
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