BRASÍLIA - O comitê de campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) avalia envolver a primeira-dama Michelle Bolsonaro na contraofensiva ao desgaste provocado pela declaração dele sobre encontro com adolescentes venezuelanas, durante a pandemia. A ideia é que Michelle participe da reação, faça uma visita à casa onde as imigrantes estavam, em São Sebastião (DF), e converse com elas para descrever como foi o contato com Bolsonaro.
Ainda não há previsão de quando o encontro será realizado, mas a intenção ganhou força neste domingo, dia 16. O objetivo seria colher depoimentos das adolescentes e imagens que ajudem na defesa. A primeira-dama aumentou o engajamento na campanha no segundo turno. Ao lado de parlamentares apoiadoras do presidente, Michelle fez um tour independente no Nordeste, com foco, principalmente, no eleitorado feminino e evangélico, para melhorar a imagem do marido.
Neste domingo, visitou Aracaju (SE) e Feira de Santana (BA). Durante tour pelo Nordeste, onde fez campanha pela reeleição do marido focada no público feminino e evangélico, Michelle minimizou a frase “pintou um clima” e disse que Bolsonaro usa a expressão com frequência, em diversos contextos.
“Quantas injustiças, quantos ataques à nossa honra e à nossa moral. Começaram com um agora que ele é pedófilo. Nos acusam de tudo o que eles são”, afirmou a primeira-dama, em Aracaju. “Em tudo ele fala ‘se pintar um clima’. ‘Amor, você não vai almoçar não?’. ‘Se pintar um clima’. Quer dizer que se a carne estiver boa, se a comida estiver boa, ele vai lá e come. Então, tudo ele tem essa mania de falar ‘se pintar um clima’.”
Durante entrevista a um podcast alinhado a ele na sexta-feira, dia 14, Bolsonaro afirmou que estava passeando de moto na região periférica do Distrito Federal, num sábado de manhã, quando avistou um grupo de adolescentes “bonitas”, na faixa de 14 anos, 15 anos, quando “pintou um clima”. O presidente disse que pediu para entrar na residência delas e deu a entender que estavam se arrumando “para ganhar a vida”, indicando possível exploração sexual de menores. “Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando. Todas venezuelanas. Eu pergunto, meninas bonitinhas, 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, afirmou o presidente.
A frase, explorada por adversários, que passaram a associá-la à pedofilia e a uma suposta omissão do presidente em tomar providências quanto à situação de vulnerabilidade das meninas, abriu uma crise na campanha do presidente. Vídeos com a frase já circulam na propaganda eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O presidente acionou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar tirar as propagandas do ar, alegando “desqualificação e ofensa” à sua imagem.
No sábado, coordenadores da campanha bolsonarista publicaram vídeos que registraram parte do encontro de Bolsonaro com um grupo de imigrantes venezuelanas, em 2020.
Na madrugada deste domingo, Bolsonaro fez uma transmissão ao vivo às pressas nas redes socais para se defender. O comitê também gastou pelo menos R$ 145 mil de última hora na compra de anúncios online dizendo que “Bolsonaro não é pedófilo”.
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