PL dá pontapé em turnê com Bolsonaro de olho no eleitorado de Lula no Nordeste

Rota 22, idealizado pelo senador Rogério Marinho, levará o ex-presidente ao interior do Rio Grande do Norte para apresentar obras de seu governo; outros seis Estados devem receber viagens

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Foto do author Guilherme Caetano

BRASÍLIA – Na tentativa de arrebatar o eleitorado lulista de olho nas eleições de 2026, o Partido Liberal (PL) dá início nesta sexta-feira, 11, a uma série de viagens no Nordeste com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O pontapé será no Rio Grande do Norte, terra do senador Rogério Marinho, secretário-geral do partido, ex-ministro de Bolsonaro e idealizador da iniciativa. A turnê começa por um evento em Pau dos Ferros, a cerca de 400 km de Natal, incluindo passagem por Acari e Jucurutu e pernoite em Tenente Ananias. No dia seguinte, o trajeto inclui Major Sales, Luís Gomes e Mossoró, antes de partir para o embarque em Fortaleza.

O então presidente Jair Bolsonaro e Rogério Marinho, seu ministro do Desenvolvimento Regional Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

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A tática do PL para conquistar a preferência de quem votou em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última eleição passa por apresentar às populações locais obras iniciadas ou entregues pela gestão Bolsonaro (2019-22). A iniciativa faz parte do Rota 22, principal aposta de Marinho para ampliar o eleitorado bolsonarista.

A escolha de Pau dos Ferros como largada do roteiro obedece a essa lógica: o trajeto de Natal até o município de 30 mil habitantes na outra extremidade do Rio Grande do Norte prevê a passagem do ex-presidente pelas duas maiores obras no Estado com investimentos de seu governo: a Barragem de Oiticica, inaugurada por Lula no mês passado, e o Ramal do Apodi. Os dois projetos são associados à transposição do Rio São Francisco.

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Outras lideranças do bolsonarismo, como parlamentares, o presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, devem participar de viagens posteriores pelo Estado. Em maio, os destinos devem ser Mossoró e Assu, em junho, Caicó e Santa Cruz, e em agosto, Natal e Nova Cruz.

Os bolsonaristas querem usar o Rio Grande do Norte como projeto-piloto, e replicar a turnê em outros seis Estados: três no Nordeste e três em outras regiões do País. Em cada território, o partido deve elaborar um relatório com diagnósticos locais para a eventual construção de programas de governo nas eleições do próximo ano.

A leitura dos bolsonaristas é que, apesar de a legenda ter apresentado mau desempenho no Nordeste em 2022 — enquanto o PT teve 50,90% contra 49,10% na disputa nacional contra o PL, o placar foi de 68,34% contra 30,66% nesses Estados —, agora é Lula quem enfrenta desafios na região. A pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta semana apontou para uma queda na aprovação do presidente em todas as regiões, inclusive a Nordeste, área que tradicionalmente deu apoio maciço ao petista.

Entre os eleitores nordestinos, o apoio a Lula caiu de 67% em dezembro para 59% em janeiro, e atingiu 52% em março. A desaprovação, por sua vez, era 32% no fim de 2024, e agora corresponde a 46% da população — um quase empate, algo que surpreendeu petistas. Os bolsonaristas querem aproveitar a crise para tomar parte do espólio.

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“A região onde tivemos uma dificuldade maior nas últimas eleições foi justamente a Nordeste. Ocorre que a região está se desencantando com o governo do PT. Como é uma população com maior fragilidade do ponto de vista econômico e social, ela é mais suscetível a mudanças que a economia porventura apresenta”, diz Marinho, referindo-se às mudanças no câmbio e na inflação — o dólar encostou nos R$ 6 esta semana e o preços dos alimentos tem gerado desespero no Palácio do Planalto.

A região deve ser palco de outra pauta fundamental para o bolsonarismo: a anistia aos presos nos ataques de 8 de Janeiro aos Três Poderes em Brasília. “Não tem data marcada. A ideia é pegar uma cidade do Nordeste”, respondeu Bolsonaro ao ser questionado se haverá próxima manifestação pró-anistia, como a que houve em São Paulo no último domingo, 6, e no Rio de Janeiro no mês passado.

A ideia do PL com a turnê é aproveitar o contato com a população tanto para montar canais de comunicação via aplicativos de mensagem com o objetivo de capilarizar o conteúdo pró-Bolsonaro quanto para identificar potenciais candidaturas. O partido também deve contar com influenciadores locais durante a turnê para ajudar a divulgar a viagem de Bolsonaro de forma orgânica.

O partido tem apostado na comunicação digital como força-motriz do bolsonarismo. Em fevereiro, a sigla realizou um evento em Brasília com a participação de representantes das principais plataformas digitais (Meta, Google, TikTok). Além de palestras de prodígios do bolsonarismo nas redes sociais, houve seminário das empresas para ensinar a ampliar alcance das publicações online.

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Além do Rota 22 e do seminário de comunicação digital, a sigla tem investido em outras frentes para se fortalecer em eleitorados tradicionalmente avessos ao conservadorismo. Os setoriais PL Mulher, presidido por Michelle, e PL Jovem, com o deputado estadual Carmelo Neto (CE) à frente dos trabalhos, são tratados como exemplos de sucesso dentro da sigla.

Já a recém-lançada Academia Brasileira de Política Conservadora, plataforma dedicada à formação de potenciais candidatos que oferece aos interessados cursos gratuitos — inclusive do estúdio Brasil Paralelo —, pode chegar a 200 mil inscritos até o fim do ano, segundo cálculo dos dirigentes. Hoje tem 5 mil.

Outro projeto do PL que tem ajudado a energizar a base bolsonarista nos últimos anos, o CPAC Brasil, no entanto, tem realização incerta neste ano. Isso porque seu idealizador e organizador, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP), se autoexilou nos Estados Unidos, onde diz ter atuado para pressionar a Casa Branca a impor sanções ao Brasil e ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, responsável pelos inquéritos contra seus aliados. Não há previsão de que Eduardo retome o mandato após o fim de sua licença parlamentar, que dura quatro meses.

Assim, ainda que Bolsonaro se mantenha inelegível até 2030 — após ter sido condenado pela Justiça Eleitoral por ataques à democracia — e seja condenado no STF, onde é réu por tentativa de golpe, o PL tenta se posicionar para conseguir eleger seu candidato na disputa de 2026.

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