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Planalto, GSI e até Agricultura; Roberto Jefferson teve 10 reuniões com governo Bolsonaro

Agendas oficiais registram que ex-deputado foi recebido oficialmente por ministros, pelo próprio presidente e pelo vice Mourão; Bolsonaro tenta se desvincular de Jefferson após tiros em policiais no último domingo

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Foto do author André Borges
Foto do author Francisco Leali
Atualização:

BRASÍLIA - O ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) teve livre acesso a ministros e ao Palácio do Planalto nos últimos dois anos. Levantamento feito pelo Estadão a partir de agendas oficiais do próprio governo aponta que o presidente de honra do PTB que, neste domingo, 23, lançou granadas e disparou tiros de fuzil contra agentes da Polícia Federal, participou de pelo menos dez reuniões com a cúpula do governo, discutindo os mais variados assuntos. Após o ataque de Jefferson a policiais, o presidente Jair Bolsonaro tenta se desvincular do ex-deputado a quem passou a chamar de “bandido”.

Entre 2020 e 2021, Jefferson foi recebido na presidência da República e ainda nos ministérios da Justiça, Direitos Humanos, Agricultura e Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

03/08/2021 Roberto Jefferson mantinha armamento pesado em sua própria casa, apesar de ser um condenado e de cumprir prisão domiciliar  Foto: REPRODUÇÃO

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Em julho de 2020 e agosto de 2021, quando seria preso por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, acusado de atuar em organização criminosa digital para atentar contra a democracia, Roberto Jefferson teve duas agendas com a Presidência da República. Em maio, participou ainda de uma reunião com o vice-presidente Hamilton Mourão, acompanhado do pastor Joel Bitencourt Serra, que hoje é coordenador do Movimento Cristão Evangélico no PTB.

Em abril de 2021, o Ministério da Justiça abriu agenda para receber Roberto Jefferson, em uma reunião que também contou com a participação do reverendo José Góes, capelão da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.

As articulações de Roberto Jefferson e sua influência sobre todo tipo de assunto também alcançam a pasta da Agricultura (Mapa). A ex-ministra Tereza Cristina teve encontro com Jefferson em fevereiro do ano passado, para falar sobre assuntos como “ações de desenvolvimento para a Cooperativa Mista dos Produtores Rurais na Agricultura Familiar da Paraíba”.

Ainda na Agricultura, o deputado de extrema-direita encontrou espaço para discutir, em maio de 2021, um “termo de cooperação técnica no banco de dados do Ministério da Agricultura”. A reportagem questionou o Mapa sobre as razões de Roberto Jefferson participar de uma discussão a respeito do banco de dados da Pasta. Não houve posicionamento até a publicação desta reportagem.

Em junho do ano passado, a pesca também entrou no radar de Roberto Jefferson, que tratou de participar de uma agenda com a Secretaria de Pesca, que também é vinculada ao Ministério da Agricultura, para tratar de assuntos de seu interesse.

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O ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, então comandado por Damares Alves, também tratou de abrir as portas para Roberto Jefferson. Foram duas reuniões realizadas em março e maio do ano passado, com a Secretaria Nacional da Família.

As questões estratégias de segurança da própria Presidência também não passaram incólumes. Em abril de 2021, Roberto Jefferson teve agenda com o general de Exército Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.

A reportagem questionou cada um dos ministérios mencionados nesta reportagem sobre o objetivo de cada um dos encontros realizados. O MDH declarou, sobre as duas agendas mencionadas, que, no dia 22 de março de 2021, houve contato telefônico entre a secretária Angela Gandra e Roberto Jefferson, “a fim de alinhar agendas para a reunião presencial que ocorreu no dia 27/05/2021″. Segundo a pasta, neste encontro, “houve apresentação dos programas da Secretaria Nacional da Família, uma vez que o então dirigente partidário havia manifestado interesse na temática sobre o fortalecimento de vínculos familiares”.

Após publicação desta reportagem, o GSI afirmo que a agenda com general Heleno foi “uma visita de cortesia do Deputado Roberto Jefferson ao Sr. Ministro”. Já o Mapa declarou que, apesar do que consta oficialmente em agenda, a então ministra Tereza Cristina e o então secretário-Executivo Marcos Montes não encontraram Roberto Jefferson. A Pasta declarou que, em 04 de fevereiro de 2021, Tereza Cristina recebeu representantes da Cooperativa Mista dos Produtores Rurais na Agricultura Familiar da Paraíba (Cooprafe), mas não detalhou a agenda, nem os motivos de incluir Jefferson na agenda.

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Já sobre a agenda do dia 20 de maio de 2021, o secretário-executivo Marcos Montes declarou que se reuniu com Ricardo Luiz Monteiro Francisco, secretário de Estado das Cidades e Territórios do Amazonas e que “a pauta abordou troca de informações de uso do banco de dados do Mapa para que o secretário de Estado pudesse aplicar na sua Secretaria”.

Sobre o encontro de Jefferson com a Secretaria de Aquicultura e Pesca em 09 de junho de 2021, o ministério afirmou que o “objetivo da reunião foi a pesca e aquicultura no Estado de Santa Catarina, especialmente no trato da agilização de emissões de documentos de pescadores e aquicultores”. A Pasta afirmou que “a Secretaria de Aquicultura e Pesca recebe convites de agendas de autoridades de todos os partidos políticos e sempre prioriza por fomentar as pautas do setor, sem distinção partidária”.

Não houve nenhum posicionamento do Ministério da Justiça até a publicação deste texto.

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Prisão

No domingo, 23, o presidente Bolsonaro acionou o ministro da Justiça, Anderson Torres, para que atuasse diretamente no caso da ordem de prisão expedida contra Jefferson pelo STF por conta da reação do ex-deputado. Aliados do governo, como o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ), chegaram a ir para as redes para dizer que já tinham recebido informações do governo federal e que até mesmo as Forças Armadas já tinham sido acionadas para “proteger” Jefferson.

Numa live, Bolsonaro chegou a dizer que não havia nenhum foto dele com o ex-deputado. Depois gravou um vídeo chamando o aliado de “bandido” por ter atirado contra policiais federais.

Após o reposicionamento do presidente, o vídeo do deputado Otoni falando em Forças Armadas passou a ser ironizado nas redes sociais.

Preso em agosto do ano passado, o ex-deputado extremista, ficou no Complexo Prisional de Gericinó, em Bangu, no Rio, mas foi transferido em janeiro deste ano para a prisão domiciliar, sob o argumento de que estaria com a sua saúde fragilizada. Após uma série de ofensas grotescas à ministra do STF Cármen Lúcia e a novas ameaças, Jefferson teve a prisão domiciliar revogada, para que volte à cadeia.

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