Maioria da população rejeita decisão de Toffoli que anulou provas do caso Odebrecht, aponta pesquisa

Levantamento do instituto Atlas também mostrou brasileiros divididos sobre atuação de ministros do STF e avaliação estável do governo Lula

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Foto do author Ricardo Corrêa
Atualização:

A maioria da população brasileira rejeita a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli que anulou um conjunto de provas colhidas pela Lava Jato no caso da Odebrecht e que beneficiou a defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). De acordo com o instituto Atlas, 54,1% dos brasileiros discordam da decisão, enquanto 27,6% afirmam concordar com ela. Os que disseram não saber são 18,3%. Os dados foram colhidos por meio do método de recrutamento digital aleatório, que ouviu 3.038 respondentes entre os dias 20 e 25 deste mês. A margem de erro do estudo é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%.

Mesmo com Lula sendo beneficiado pela decisão, 18,3% de seus eleitores no segundo turno da última eleição discordam da posição de Toffoli. Enquanto isso, 50,1% concordam e 31,6% disseram não saber. Entre os bolsonaristas, a reprovação é bem maior: 94,3%, contra 3,3% que concorda e 2,5% que diz não saber. A rejeição à anulação das provas também é majoritária entre os eleitores que dizem ter votado em branco (67,8%) e entre os que não votaram (17,7%).

Ministro Dias Toffoli anulou provas colhidas pela Lava Jato no caso Odebrecht, o que é rejeitado pela maioria dos brasileiros Foto: Rosinei Coutinho/STF

A Procuradoria-Geral da República (PGR) entrou, na sexta-feira, 22, com um recurso no STF para o ministro Dias Toffoli esclarecer pontos da decisão, que atendeu a um pedido de Lula. A defesa do petista alegou que o acordo foi negociado com a ajuda de autoridades estrangeiras sem observar critérios de colaboração internacional. O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também entrou com recurso no STF. O procurador-geral de Justiça do Estado, Mario Luiz Sarrubbo, afirma que as provas foram usadas em “diversas ações e investigações” que agora estão em xeque. Ele pede que Toffoli reconsidere a decisão ou envie o caso ao plenário do STF. Para ele, a decisão só deveria valer para o caso de Lula e não em todos os casos em que as provas foram usadas.

Condenação dos primeiros réus do 8 de janeiro é aprovada

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Entre os eleitores ouvidos pelo instituto Atlas, 45,4% concordam com a decisão que condenou os primeiros réus pelos ataques de 8 de janeiro. De outro lado, 40,7% discordam da decisão. Outros 14% não sabem. Também neste caso, como esperado, o apoio é maior entre os lulistas (77,4%) do que entre os bolsonaristas (8,8%).

Além da decisão de Toffoli, o Atlas também mediu as percepções dos brasileiros sobre a atuação dos ministros do STF em diversas questões. Em uma delas, ao serem questionados se confiavam no trabalho e nos ministros da Corte, 47,7% disseram que não, enquanto 44,5% afirmaram que sim. Os que não souberam são 7,8%.

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Já em pergunta se há competência e imparcialidade dos ministros no julgamento dos processos, 44,7% disseram que sim, enquanto 40,8% apontam que não. Neste caso, os que não sabem são 14,6%.

Instituto Atlas mediu várias percepções sobre o trabalho de ministros do STF e mostrou uma população dividida em relação a eles Foto: Wilton Junior/Estadão

Os eleitores ouvidos pelo Atlas também foram questionados se odeiam os ministros da Corte, como chegaram a dizer advogados de réus do 8 de janeiro no julgamento dos primeiros réus pelos ataques. A maioria, 51,7%, diz que não odeia, mas possui posição negativa sobre alguns deles. Outros 32,3% afirmam que, ao contrário, possuem opinião positiva sobre a maioria dos ministros. Enquanto isso, 16% respondem que “sim, odeiam”.

Entre os ministros, o único que tem saldo positivo entre as avaliações favoráveis e desfavoráveis é o mais novo integrante do STF. Cristiano Zanin tem imagem positiva para 35% dos brasileiros e negativa para 32%. Os mais rejeitados são Gilmar Mendes (51% positiva e 31% negativa), Dias Toffoli (49% negativa e 30% positiva). Alexandre de Moraes é o ministro que mais divide opiniões entre os brasileiros, que praticamente se igualam entre apoio e reprovação.

Veja a avaliação de cada ministro:

Alexandre de Moraes: 47% positiva e 48% negativa

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Cármen Lúcia: 43% positiva e 45% negativa

Rosa Weber: 40% positiva e 43% negativa

Cristiano Zanin: 35% positiva e 32% negativa

Roberto Barroso: 34% positiva e 44% negativa

Edson Fachin: 32% positiva e 47% negativa

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Luiz Fux: 43% positiva e 43% negativa

Gilmar Mendes: 31% positiva e 51% negativa

André Mendonça: 30% positiva e 42% negativa

Dias Toffoli: 30% positiva e 49% negativa

Nunes Marques: 27% positiva e 41% negativa

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Notório saber jurídico e cargos pesam mais que gênero e cor por vaga ao STF

Os eleitores também foram instados a comentar também sobre os atributos importantes para a escolha de um ministro para o STF, decisão que Lula terá que tomar com a aposentadoria de Rosa Weber nesta quinta-feira, 28. O requisito mais citado como “muito importante” foi o notório saber jurídico, citado por 74% dos eleitores. O fato de ter exercido cargos de relevância nacional foi citado por 36% como muito importantes e por 11% como importantes. Já o fato de ser mulher foi lembrado por 32% como muito importante e por 5% como importante. Outro ponto citado por grupos que defendem maior representatividade no STF, a cor do futuro ministro, tem menos apelo junto à maioria dos brasileiros. São 28% os que dizem que ser negro é muito importante para ser indicado e 6% os que dizem que é importante.

Critérios que devem ser usados para a escolha de futuro ministro do STF por Lula também foram abordados na pesquisa Atlas, assim como a avaliação de seu governo Foto: Wilton Junior/Estadão

Avaliação de governo estável, com leve aumento de desaprovação

A pesquisa Atlas também mostrou uma avaliação estável do governo Lula. Sobre o desempenho pessoal do presidente, 51,5% aprovam e 46% desaprovam. Houve uma variação apenas na margem de erro em relação a julho, quando 52,6% aprovaram e 45,8% desaprovavam.

Já em relação à avaliação de governo, são 44,1% os que consideram ótimo ou bom, 41,5% os que veem como ruim ou péssimo e 13,1% os que apontam como regular. Em julho, eram 43,5% os que achavam o governo ótimo ou bom, 40% os que achavam ruim ou péssimo e 16% os que viam como regular.

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