RIO – A aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em queda livre desde o início do terceiro mandato do petista. A insatisfação da população com gestão do chefe do Executivo acendeu um alerta e fez com que integrantes do governo buscassem soluções em medidas populares, como o Crédito do Trabalhador, e na intensificação da articulação política para atender aos interesses do Congresso Nacional na continuidade da reforma ministerial.
Lula tem se empenhado pessoalmente nas tratativas com os líderes partidários e representantes das duas Casas legislativas para acomodar as demandas dos parlamentares na adiada reforma ministerial.
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Nesta quarta-feira, 2, dia em que pesquisa Genial/Quaest mostrou que a aprovação do governo voltou a cair e atingiu o pior patamar desde janeiro de 2023, Lula recebeu o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, e vai se reunir com a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e líderes da Casa.
Sidônio Palmeira e Gleisi Hoffmann foram convocados por Lula para reverter a imagem do governo federal e intensificar a relação com o Congresso.
Especialistas em ciência política e pesquisas de opinião ouvidos pelo Estadão detalham os motivos da queda de aprovação do governo federal e possíveis saídas para a reversão da crise.
Alta no preço dos alimentos
Entre os fatores que explicam a queda na avaliação do petista, segundo os institutos de pesquisa e especialistas em ciência política, está a alta no preço dos alimentos e como a questão afeta especialmente a base eleitoral de Lula, incluindo eleitores que tradicionalmente apoiam o PT, como pessoas de menor renda.
O presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, avalia que os índices da macro economia não impactam diretamente a percepção da população. De acordo com ele, os preços finais dos alimentos nos supermercados é que alteram a responsabilidade atribuída ao governo e, consequentemente, a aprovação ou não.
“Um fator que não está ligado aos índices macro de inflação, e não é nem a inflação do alimento, como a inflação do café, a inflação da picanha que agora vai diminuir, é tudo aquilo que são compras recorrentes da pessoa. A inflação para o economista é um número. Para um eleitor do Recife é o arroz, o feijão que está sumido do prato, o café que está fugindo da xícara. É o entendimento de que ele não toma um cafezinho com os números do PIB”, avaliou.
Comunicação do governo
O presidente Lula e o governo federal tem apostado na comunicação do governo para reverter a imagem ruim. A primeira medida tomada foi a mudança na Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). O publicitário Sidônio Palmeira, que comandou a campanha do petista em 2022, assumiu como ministro da pasta, em janeiro deste ano, com a missão de deixar o governo mais popular.
Para a cientista política Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), os novos meios de comunicação e as falhas do governo na área podem afetar a percepção da população sobre o que está sendo feito.
“A rede de comunicação que a gente vive hoje impacta em como a população enxerga o governo federal. Então, é preciso repensar como o governo federal está trabalhando certas informações. Resultados de medidas não estão chegando num eleitorado que precisa ter mais informações. Isso gera ruídos. Falta um trabalho mais consistente, de comunicação, especialmente, nesses novos meios, como redes sociais”, explicou.
Como mostrou o Estadão, o governo se prepara para uma cerimônia para marcar os dois anos do governo, sob o slogan “Brasil dando a volta por cima”. Mesmo com as dificuldades enfrentadas, o governo vai aproveitar a cerimônia para reembalar programas novos e antigos, como o Pé-de-Meia e o Farmácia Popular. O ato político, que terá Lula no palco e exibição de vídeos, foi planejado em detalhes para transmitir a mensagem de que, após um período de “União e Reconstrução”, slogan da gestão petista, o governo começa agora um “segundo tempo”.
Histórico de denúncias de corrupção
Para Renato Meirelles, o histórico de denúncias e acusações por corrupção contra o presidente e integrantes do governo ainda molda a opinião de parcela da população, em especial nas classes A e B, e afetam a popularidade da gestão petista.
“Um terceiro fator que ainda aparece. Ainda não teve nenhuma nenhuma denúncia de corrupção no terceiro mandato do governo Lula, mas essas questões não foram tratadas pelo Partido dos Trabalhadores da forma que poderiam ter sido tratadas, do ponto de vista de comunicação e de relação com a sociedade. Então, tem muita gente ainda que acha, mesmo sem nenhuma denúncia, que esse é um governo corrupto porque essas denúncias voltaram na última eleição de 2022. Ficou o rescaldo que permanece nesse processo, em especial nas classes A e B”, explica.
No ano passado, em junho, as menções à corrupção no governo Lula dispararam nas redes sociais. O tema cresceu 97,3%, em relação ao primeiro ano de governo, em 2023, segundo dados da AP Exata Inteligência Digital.
Violência urbana e insegurança pública
A pesquisa Genial/Quaest mostrou ainda que a violência é o foco de maior preocupação do brasileiro atualmente. Os altos índices de criminalidade fizeram com que 29% dos entrevistados apontassem o problema como o maior no Brasil atual. Na pesquisa anterior, eram 26% os que citaram a violência como principal preocupação.
Para Meirelles, as pessoas não associam o aumento da violência aos governos estaduais de direita e a percepção passa a ser direcionada ao governo federal, de esquerda, pelo histórico de dificuldade do campo progressista em tratar o tema.
“Vai para esquerda pela falta de ter um discurso no processo eleitoral sobre a questão da violência. Muito mais do que atribuir a culpa de quem, o bandido municipal, estadual ou federal. É mais crível a direita falar sobre violência do que a esquerda falar sobre violência ainda mais quando a esquerda não tem propostas para área”, disse.
Diante da ampliação da preocupação com o tema e das críticas à atuação na área, o governo federal passou a trabalhar na tentativa de criar de uma marca no combate à criminalidade, construindo a PEC da Segurança Pública. A proposta, porém, encontra resistência de governadores que questionam a perda de autonomia de suas polícias e enfrentará muitos obstáculos para ser aprovada no Congresso.
Relação com o Congresso Nacional
O presidente Lula se empenha para apaziguar a relação entre o Executivo e o Legislativo numa tentativa de aprovar medidas de autoria do governo que, a longo prazo, podem impactar na avaliação de sua gestão. A reforma ministerial aguardada pelo Congresso é uma das tentativas de aproximação do petista com a base governista.

De acordo com Renato Meirelles, Lula faz as “alterações que julga necessárias” e cita a ida de Alexandre Padilha (PT) para o Ministério da Saúde como uma das estratégias bem-sucedidas do presidente para ampliar a interlocução com o Congresso.
“O presidente Lula é um técnico. Ele está fazendo as alterações que julga necessárias. O impacto da ida do Padilha para o Ministério da Saúde é ainda mais importante do que o da Gleisi, porque a saúde é o segundo ponto mais mencionado pela pesquisa da Quaest. O principal garoto de propaganda de qualquer governo é o presidente da República. É o presidente da República que tem que ter capacidade de falar direto com seu eleitor. Foi ele que teve voto”, disse.