Por que Alckmin quer Tabata na Prefeitura de SP em 2024? E qual o impacto no futuro político dele?

Vice-presidente tem difundido a leitura de que dificilmente seria escolhido para compor novamente uma chapa com Lula e já é ventilado como candidato em São Paulo

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Foto do author Gustavo Côrtes

Ao declarar, no último sábado, 28, apoio à deputada federal Tabata Amaral (PSB) para a eleição à Prefeitura de São Paulo em 2024, o vice-presidente Geraldo Alckmin deu a partida no que, segundo aliados, será sua volta à política paulista. Em conversas reservadas, ele tem difundido a leitura de que dificilmente será escolhido novamente para compor chapa com Luiz Inácio Lula da Silva em uma campanha à reeleição.

Em 2026, o petista terá 81 anos. A idade avançada, avaliam interlocutores do ex-governador, deve reforçar a vontade da cúpula do PT de colocar na linha de sucessão presidencial alguém vinculado ao partido e à esquerda para assumir o governo caso necessário. Em que pese o grupo de Jair Bolsonaro ainda conservar força eleitoral, acreditam que, até lá, Lula não precisará mais da aliança com um adversário histórico para amansar o antipetismo e derrotar um candidato da direita.

Geraldo Alckmin participou de ato na Alesp e apontou apoio a Tabata Amaral na disputa pela Prefeitura de São Paulo Foto: Marcio Pinheiro/PSB

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O nome de Alckmin já é ventilado por ex-correligionários do PSDB e líderes de outros partidos como um forte concorrente ao governo de São Paulo ou ao Senado. Eles o veem como uma alternativa aos candidatos do PT, que tradicionalmente têm desempenho baixo no Estado.

Acreditam que, embora o vice-presidente tenha perdido o apoio de parcela da população conservadora no interior paulista, que enveredou pelo bolsonarismo, ele tem prestígio de parte dos eleitores do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e poderia, com o apoio de Lula, ganhar votos que não teve durante o período em que governou o Estado.

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No ato realizado na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Alckmin se apresentou pela primeira vez em público como cabo eleitoral de Tabata e se referiu a ela como “a verdadeira mudança”. Assim, fincou o pé em posição contrária à do presidente, que apoia o também deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP).

“Nesse processo, vai ser importante que a gente mantenha uma relação de respeito com o Boulos, mas também mostrando nossas diferenças”, diz o deputado estadual Caio França, que participou da cerimônia junto com o pai, o ministro das Microempresas e Empreendedorismo, Márcio França (PSB).

Geraldo Alckmin tem feito chegar aos aliados a interpretação de que dificilmente será escolhido como vice de Lula novamente em 2026 e que, por isso, precisa trabalhar com outras alternativas Foto: Ricardo Stuckert/PR

Oficialmente, o ato não tinha como foco a candidatura de Tabata, mas sim o lançamento de pré-candidaturas a vereador na capital. A declaração de Alckmin, no entanto, mudou o sentido do evento, admite França.

“Ainda vai ter um lançamento de pré-candidatura da Tabata. Era a formatura dos pré-candidatos a vereador. (A presença de Alckmin) era uma forma de mostrar prestígio. Acabou se transformando em um grande evento dela. As circunstâncias levaram ele a uma fala mais enfática. Ele se empolgou com o ambiente, o que é ótimo.”

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Segundo aliados, Alckmin vinha recebendo cobranças para manifestar publicamente apoio à parlamentar, mas resistiu por receio de causar ruídos com Lula. No entanto, a avaliação é de que o gesto não causou prejuízo na relação com o petista, que já havia assentido à candidatura do PSB na capital paulista.

Pré-candidatura de Tabata tenta quebrar polarização entre prefeito Ricardo Nunes e Guilherme Boulos em busca de uma vaga no segundo turno em São Paulo Foto: Werther Santana, Felipe Rau e Pedro Kirilos/Estadão

Apesar do ineditismo do discurso, Alckmin ajuda a parlamentar a construir sua pré-campanha desde o início do ano e tem a introduzido em segmentos nos quais angariou simpatia ao longo dos 13 anos em que foi governador. Ele é próximo de representantes de associações comerciais, de líderes católicos e evangélicos e também de entidades sociais, que também mantém relação com sua mulher, Lu Alckmin, ex-presidente do Fundo Social de São Paulo.

A ajuda nestes segmentos é vista como uma forma de avançar sobre um eleitorado de centro, resistente a Boulos, com quem Tabata compete na esquerda. O atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), ainda não conseguiu o apoio de Bolsonaro, mesmo após diversos encontros e cortejos públicos. Na última semana, o ex-presidente voltou a declarar que “que tem esperança “ de que o deputado federal Ricardo Salles (PL-SP), seu ex-ministro do Meio Ambiente, tenha sucesso em São Paulo. Na visão de integrantes do PSB, nesse cenário, Tabata disputa uma vaga no segundo turno contra Boulos, que lidera as pesquisas.

Procurada, a deputada festejou o apoio, por meio de nota. “É uma honra contar com o apoio e a experiência de uma liderança que admiro e tanto contribuiu e segue contribuindo com São Paulo, como o nosso vice-presidente e ministro, Geraldo Alckmin. A admiração e respeito que temos um pelo outro é recíproca”, afirmou ela.

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Tabata Amaral ainda afirmou que São Paulo hoje “está dividida em duas cidades: a das desigualdades e a dos privilégios”. “Alckmin e eu compartilhamos de um mesmo sonho, o de construir uma ponte sobre esse abismo para que a verdadeira mudança aconteça na nossa cidade”, completou.

Já o vice-presidente Geraldo Alckmin também foi procurado para se manifestar sobre o assunto. Em resposta, sua assessoria informou que ele “tem hoje a única preocupação de trabalhar para ajudar o presidente Lula a governar o País”.