Por que o agro não gosta de Lula? Ruralistas citam seis motivos

Lula perguntou ao ministro da Agricultura por que integrantes do agronegócio ‘não gostam’ dele; Ruralistas listam pelo menos seis motivos para responder ao presidente

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Foto do author Daniel  Weterman
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva perguntou ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, por que o agronegócio não gosta dele. O relato foi feito pelo próprio ministro na segunda-feira, 22, durante uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

Ministro da Agricultura, Carlos Favaro tenta conciliar diálogo entre Lula e o agronegócio. "Ele me pergunta por que não gostam dele", disse o ministro.  Foto: Reprodução/YouTube/Roda Viva

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Líderes do agronegócio e ruralistas do Congresso acumulam uma série de irritações com Lula desde que o petista assumiu a Presidência. Invasões promovidas pelo Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ligado ao PT, e comentários do petista estão entre os principais motivos.

Integrantes do governo fizeram movimentos para tentar uma conciliação de Lula com o agronegócio nos últimos dias, mas a situação não foi resolvida. Nesta terça-feira, 23, a Câmara iniciou os trabalhados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, instalada para investigar as invasões promovidas pelo movimento.

O funcionamento da CPI é uma derrota para o governo, que precisará lidar com a comissão enquanto tenta montar uma base de apoio no Congresso e aprovar projetos de interesse de Lula, como o arcabouço fiscal e o novo Bolsa Família.

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Ele (Lula) me pergunta por que não gostam dele.

Carlos Fávaro, ministro da Agricultura

Confira seis motivos que respondem a pergunta do presidente feita para o ministro:

Apoio a Bolsonaro

Líderes do agronegócio tiveram um alinhamento com o governo de Jair Bolsonaro e apoiaram a reeleição do ex-presidente. A avaliação no setor é que o petista não “engoliu” até hoje essa aliança do agro com seu opositor e vai tentar usar o governo para dar o troco. Bolsonaro venceu no primeiro turno em 77 dos 100 municípios com agro mais rico.

“Nós não temos problemas com esse agro, mas também queremos priorizar e apoiar a agricultura familiar”, responde o deputado Nilto Tatto (PT-SP), escalado para defender o governo na CPI do MST.

“O governo dá sinais absolutamente contraditórios e tem vivido uma certa esquizofrenia com o agro. Dá uma no cravo e outra na ferradura, mas vai ter que se definir”, disse o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da frente da agropecuária na Câmara.

A bancada ruralista tem 347 integrantes no Congresso.

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Mudanças no Ministério da Agricultura

A bancada ruralista reagiu às mudanças promovidas por Lula no Ministério da Agricultura assim que o petista tomou posse como presidente, em janeiro. A pasta, que é comandada pelo ministro Carlos Fávaro, integrante da bancada ruralista, perdeu o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (CAR), que centraliza as ações de regularização ambiental nas terras, para o Ministério do Meio Ambiente, comandado pela ambientalista Marina Silva (Rede).

Outros dois órgãos de interesse do setor - Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) - foram para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, chefiado pelo ministro Paulo Teixeira, deputado licenciado do PT de São Paulo.

Invasões do MST

Invasões promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), ligado ao PT, também afastaram o presidente do agronegócio. Ruralistas condenam as invasões e cobram do governo uma ação mais enérgica para conter atos ilegais.

As invasões levaram a Câmara a instalar uma CPI. O relator é o deputado Ricardo Salles (PL-SP), ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro e opositor ferrenho do PT.

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Foto oficial de encontro do presidente Lula com Xi Jinping na China com João Pedro Stédile do MST ao fundo Foto: Divulgação / Dep. Fausto Pinato

MST na China

O presidente Lula levou o principal líder do MST, João Pedro Stédile, para um encontro com o presidente da China, Xi Jinping, em abril. A presença de Stédile na comitiva ocorreu após a divulgação de vídeo em que o dirigente do movimento prometeu retomar as invasões de terra.

“O Bolsonaro deu um olhar melhor para o agro, eu não acho correto o PT vir e chutar. O menino está bonito e vamos bater nele para que ele fique fraquinho e machucado?”, disse o deputado Marco Brasil (PP-PR), integrante da bancada ruralista no Congresso. “O Lula não fez nada que prejudicou o agro, mas tem que suavizar esse discurso.”

‘Fascistas’

No dia 11 de maio, o presidente Lula fez menção à Agrishow, maior feita do agro no País, e disse que “alguns fascistas de São Paulo” não quiseram a presença do ministro da Agricultura no evento. O comentário irritou representantes do setor.

O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR) afirmou ao Estadão que Lula estava se “distanciando” cada vez mais do setor, gerador de empregos e ganhos econômicos para o Brasil no exterior.

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Feira do MST

A presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e de outros ministros do governo na feira nacional do MST, no último dia 13, no momento em que o grupo promove invasões de terras incomodou integrantes da bancada ruralista no Congresso. Parlamentares chegaram a falar que o governo “arrancou” a ponte com o agro ao prestigiar o evento.

“É a fotografia que nós precisávamos para poder provar o envolvimento do governo com o MST nessas invasões de terra”, disse o segundo vice-presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio na Câmara, deputado Evair de Melo (PP-ES). Somente durante o chamado ‘Abril Vermelho’, o movimento movimento invadiu ao menos 13 fazendas.

“Se ele não tivesse falado nada, estava tudo certo”, disse o parlamentar ruralista, ao comentar a pergunta feita por Lula para o ministro sobre a razão de o agro não gostar dele.

O vice-Presidente da Republica Geraldo Alckmin ao lado do coordenador do MST João Pedro Stédile (centro) participam da IV Feira da Reforma Agrária no Parque da Água Branca, em São Paulo Foto: TABA BENEDICTO