BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva perguntou ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, por que o agronegócio não gosta dele. O relato foi feito pelo próprio ministro na segunda-feira, 22, durante uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Líderes do agronegócio e ruralistas do Congresso acumulam uma série de irritações com Lula desde que o petista assumiu a Presidência. Invasões promovidas pelo Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ligado ao PT, e comentários do petista estão entre os principais motivos.
Integrantes do governo fizeram movimentos para tentar uma conciliação de Lula com o agronegócio nos últimos dias, mas a situação não foi resolvida. Nesta terça-feira, 23, a Câmara iniciou os trabalhados da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, instalada para investigar as invasões promovidas pelo movimento.
O funcionamento da CPI é uma derrota para o governo, que precisará lidar com a comissão enquanto tenta montar uma base de apoio no Congresso e aprovar projetos de interesse de Lula, como o arcabouço fiscal e o novo Bolsa Família.
Ele (Lula) me pergunta por que não gostam dele.
Carlos Fávaro, ministro da Agricultura
Confira seis motivos que respondem a pergunta do presidente feita para o ministro:
Apoio a Bolsonaro
Líderes do agronegócio tiveram um alinhamento com o governo de Jair Bolsonaro e apoiaram a reeleição do ex-presidente. A avaliação no setor é que o petista não “engoliu” até hoje essa aliança do agro com seu opositor e vai tentar usar o governo para dar o troco. Bolsonaro venceu no primeiro turno em 77 dos 100 municípios com agro mais rico.
“Nós não temos problemas com esse agro, mas também queremos priorizar e apoiar a agricultura familiar”, responde o deputado Nilto Tatto (PT-SP), escalado para defender o governo na CPI do MST.
“O governo dá sinais absolutamente contraditórios e tem vivido uma certa esquizofrenia com o agro. Dá uma no cravo e outra na ferradura, mas vai ter que se definir”, disse o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da frente da agropecuária na Câmara.
A bancada ruralista tem 347 integrantes no Congresso.
Mudanças no Ministério da Agricultura
A bancada ruralista reagiu às mudanças promovidas por Lula no Ministério da Agricultura assim que o petista tomou posse como presidente, em janeiro. A pasta, que é comandada pelo ministro Carlos Fávaro, integrante da bancada ruralista, perdeu o Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (CAR), que centraliza as ações de regularização ambiental nas terras, para o Ministério do Meio Ambiente, comandado pela ambientalista Marina Silva (Rede).
Outros dois órgãos de interesse do setor - Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) - foram para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, chefiado pelo ministro Paulo Teixeira, deputado licenciado do PT de São Paulo.
Invasões do MST
Invasões promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), ligado ao PT, também afastaram o presidente do agronegócio. Ruralistas condenam as invasões e cobram do governo uma ação mais enérgica para conter atos ilegais.
As invasões levaram a Câmara a instalar uma CPI. O relator é o deputado Ricardo Salles (PL-SP), ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro e opositor ferrenho do PT.
MST na China
O presidente Lula levou o principal líder do MST, João Pedro Stédile, para um encontro com o presidente da China, Xi Jinping, em abril. A presença de Stédile na comitiva ocorreu após a divulgação de vídeo em que o dirigente do movimento prometeu retomar as invasões de terra.
“O Bolsonaro deu um olhar melhor para o agro, eu não acho correto o PT vir e chutar. O menino está bonito e vamos bater nele para que ele fique fraquinho e machucado?”, disse o deputado Marco Brasil (PP-PR), integrante da bancada ruralista no Congresso. “O Lula não fez nada que prejudicou o agro, mas tem que suavizar esse discurso.”
‘Fascistas’
No dia 11 de maio, o presidente Lula fez menção à Agrishow, maior feita do agro no País, e disse que “alguns fascistas de São Paulo” não quiseram a presença do ministro da Agricultura no evento. O comentário irritou representantes do setor.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputado Pedro Lupion (PP-PR) afirmou ao Estadão que Lula estava se “distanciando” cada vez mais do setor, gerador de empregos e ganhos econômicos para o Brasil no exterior.
Feira do MST
A presença do vice-presidente Geraldo Alckmin e de outros ministros do governo na feira nacional do MST, no último dia 13, no momento em que o grupo promove invasões de terras incomodou integrantes da bancada ruralista no Congresso. Parlamentares chegaram a falar que o governo “arrancou” a ponte com o agro ao prestigiar o evento.
“É a fotografia que nós precisávamos para poder provar o envolvimento do governo com o MST nessas invasões de terra”, disse o segundo vice-presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio na Câmara, deputado Evair de Melo (PP-ES). Somente durante o chamado ‘Abril Vermelho’, o movimento movimento invadiu ao menos 13 fazendas.
“Se ele não tivesse falado nada, estava tudo certo”, disse o parlamentar ruralista, ao comentar a pergunta feita por Lula para o ministro sobre a razão de o agro não gostar dele.
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