O presidente Jair Bolsonaro reafirmou no fim de semana que vai decidir nesta segunda-feira, 8, sobre o futuro do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, alvo de críticas dentro e fora do governo e pressões diversas. O ministro enfrenta uma crise que vem desde sua posse, com disputa interna entre grupos adversários, medidas contestadas, recuos e quase 20 exonerações. A Presidência da República informou que Vélez foi ao Palácio do Planalto encontrar o presidente na manhã desta segunda.
Na sexta-feira, num explícito processo de fritura pública do auxiliar, Bolsonaro afirmou que o ministério "não estava dando certo". “É uma pessoa bacana, honesta, mas está faltando gestão, que é uma coisa importantíssima. Vamos tirar a aliança da mão esquerda e pôr na mão direita ou na gaveta”.
Na ocasião, disse que ele poderia ser aproveitado em outro ministério. “Quem decide sou eu. Segunda é o dia do fico ou não fico. A situação da educação será resolvida”, afirmou. Vélez respondeu, em evento em São José dos Campos, que não iria entregar o cargo.
Neste três meses de governo, Vélez perdeu até o apoio de seu "padrinho", o escritor Olavo de Carvalho, influenciador do bolsonarismo. Olavo afirmou que não iria fazer nada contra Vélez, a quem chamou de "traiçoeiro". "Mas garanto que não vou lamentar se o botarem para fora do ministério".
A crise no MEC afeta, inclusive, programas do ministério. O Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio está paralisado. O cronograma do Sistema nacional de Avaliação Básica (Saeb) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estão comprometidos.
O ministro também coleciona declarações polêmicas. Logo que assumiu o Ministério da Educação, um edital dos livros didáticos de 2020 dizia que não seriam mais necessárias referências bibliográficas. Também foi retirado o item que impedia publicidade e coibia erros de revisão e impressão. Após questionamentos, o MEC retirou o texto e abriu sindicância, alegando erro da gestão anterior.
Vélez também já disse que haverá mudanças em livros didáticos para revisar a maneira como são retratados nas escolas o golpe de Estado de 1964 que retirou o presidente João Goulart do poder. Ele rejeita a palavra golpe. "Foi uma mudança de tipo institucional", disse ao jornal Valor Econômico.
No início de fevereiro, deu uma declaração à revista Veja dizendo que o brasileiro viajando é um “canibal”, pois “rouba coisas dos hotéis” e isso precisa ser revertido na escola. Questionado no Supremo Tribunal Federal (STF), ele informou à ministra Rosa Weber que foi “infeliz” na declaração.
Outra ação questionada foi o envio de uma carta oficial do Ministério da Educação a diretores de escola sugerindo a leitura de um texto com slogan da campanha de Bolsonaro, seguida do Hino Nacional. Os alunos deveriam ser filmados e a gravação, enviada ao MEC. O caso fez com que a Procuradoria-Geral da República abrisse uma investigação para apurar possível improbidade administrativa por parte do ministro.
Quem substitui?
Entre os cotados para o cargo estão o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Anderson Ribeiro Correia. Ainda não há convites.
Izalci Lucas tem recebido apoio da bancada do PSL e também de entidades não governamentais ligadas à educação. Ele foi contador de escolas particulares no Distrito Federal e atuante na Comissão de Educação quando era deputado.
Stavros Xanthopoylos, consultor de educação de Bolsonaro no período da campanha, também voltou a ser aventado como uma possibilidade para substituir Vélez. Outro nome cotado é o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Camargo.
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