Posto de Cauê Macris quitou dívida de imóvel de luxo após campanha

Empresa usada para compensar R$ 881 mil em cheques das campanhas do presidente da Alesp e do pai dele havia comprado apartamento de R$ 2,3 milhões em São Paulo

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O presidente da Alesp, Cauê Macris (PSDB) Foto: AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO

SÃO PAULO - Dois meses após as eleições de 2018, o posto de gasolina do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), Cauê Macris (PSDB), que foi usado para compensar cheques de campanha, assinou um acordo com uma incorporadora para quitar uma dívida referente à compra de um apartamento de R$ 2,3 milhões na capital. O tucano é o favorito para se reeleger no comando da Casa na eleição que ocorre na sexta-feira, 15.

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Em nota, a assessoria do deputado afirmou que “é uma irresponsabilidade tentar relacionar a vida empresarial do deputado Cauê Macris com sua vida pública, ainda mais às vésperas da eleição da presidência da Assembleia”. Segundo a nota, o posto possui faturamento bruto superior a R$ 5 milhões mensais e o acordo feito foi uma “renegociação de parte do valor de entrada do imóvel”. Segundo a nota, todos os bens e empresas do deputado, que iniciou a carreira política aos 21 anos, foram declarados à Receita.

No mês passado, o Estado revelou que o Posto União de Limeira Ltda, do qual Cauê é sócio desde 2012, recebeu R$ 881 mil em cheques emitidos pelas campanhas dele e do pai, o deputado federal Vanderlei Macris (PSDB), em 2018, embora não tenha sido fornecedor de nenhuma delas. Ambos afirmam que usaram a empresa para “facilitar o pagamento dos cabos eleitorais” que não têm conta bancária e moram no interior – as contas eleitorais foram abertas na capital. Embora a prática seja vedada por lei, as contas de Cauê foram aprovadas e as de Vanderlei reprovadas por outros motivos pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

Em agosto de 2016, o posto de Cauê, que fica no km 134 da Rodovia Anhanguera, em Limeira, no interior paulista, comprou, ainda na planta, um apartamento residencial de 213 m² no 10.º andar do empreendimento Splendor Brooklin. O prédio de 24 andares é descrito como “ícone do alto padrão”, na zona sul de São Paulo. Em maio do ano passado, porém, a empresa do deputado parou de pagar as parcelas de compra do imóvel, acumulando um dívida de R$ 344,2 mil com a incorporadora Toscana. 

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Prédio em São Paulo onde empresa do deputado estadual Cauê Macris (PSDB) comprou imóvel Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

Após notificar Cauê sobre a dívida duas vezes, em julho e agosto do ano passado, a incorporadora moveu uma ação na Justiça em outubro para rescindir o contrato de compra e venda do apartamento. A juíza Cláudia Longobardi Campana, da 8ª Vara Cível do Foro Regional de Santo Amaro, indeferiu o pedido de liminar para rescisão imediata e mandou citar a empresa de Cauê sobre a ação.

Passada a eleição, no dia 13 de novembro, a incorporadora informa a Justiça que as partes estavam “em tratativas de acordo para manutenção da unidade”. Em 6 de dezembro, ambos assinam um acordo extrajudicial no qual o posto se compromete a pagar a dívida de R$ 344,2 mil em três parcelas até fevereiro e os cerca de R$ 1,5 milhão restantes para quitar o imóvel, que deve ser entregue em setembro deste ano.

No dia 19 de fevereiro, a incorporadora pediu à juíza a homologação do acordo com o posto de Cauê e a extinção do processo. Ainda não houve decisão da magistrada. Segundo a empresa, as chaves do apartamento devem ser entregues em setembro deste ano. O prédio fica no mesmo bairro onde o tucano mora de aluguel, pelo qual gasta R$ 2,8 mil do auxílio-moradia custeado pela Assembleia.

Documentos anexados ao processo, ao qual o Estado teve acesso, mostram que a conta bancária informada pelo posto de gasolina no acordo com a incorporadora é a mesma que foi usada pela empresa de Cauê para compensar os cheques de campanha dele e do pai. Em 2016, o irmão de Cauê, Rafael Macris, também depositou 69 cheques de sua campanha a vereador de Americana na conta do poso de gasolina, no valor total de R$ 22,5 mil. Na ocasião, a conta eleitoral de Rafel Macris ficava na mesma agência bancária da conta do posto de gasolina do irmão. 

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Bens. Na declaração de bens entregue à Justiça Eleitoral antes da campanha, Cauê informou ter um patrimônio total de R$ 276,6 mil, sendo 50% de uma casa em Americana, que ele recebeu do pai, um carro e 50% de participação nas empresas Posto União de Limeira e Churrascaria União de Limeira, que ele já passou para o nome da mulher.

Em maio do ano passado, porém, o presidente da Alesp abriu com a mulher uma holding para atuar com aluguel de imóveis próprios, a T-Life Participações. Em julho, essa nova empresa adquiriu um outro posto de gasolina no km 244 da Rodovia Washington Luiz, na cidade de Ibaté, entre São Carlos e Araraquara. No dia 17 de janeiro deste ano, a holding de Cauê abriu uma empresa em Orlando, na Flórida, para fazer investimentos nos Estados Unidos. 

Em nota, a assessoria de imprensa do deputado afirmou a "a transação (compra do apartamento de alto padrão) foi feita dois anos antes da eleição de 2018" e a "com sua entrada financiada em 36 meses". Segundo o texto, após a entrega das chaves, prevista para setembro deste ano, "o débito existente ainda será fruto de mais um financiamento de 96 parcelas, conforme contrato celebrado".

A assessoria de Cauê Macris disse ainda que "nenhum acordo de quitação de dívida foi realizado" com a incorporadora. "O que ocorreu foi uma renegociação de parte do valor de entrada do imóvel", afirmou. Sobre a empresa aberta este ano na Flórida, a nota afirma que "a holding que pertence ao deputado abriu uma empresa nos Estados Unidos visando novos investimentos" e que "a transação obedece legislação vigente".

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No dia 25 de fevereiro, o deputado estadual eleito Gil Diniz (PSL) solicitou ao Ministério Público Estadual (MPE) uma investigação sobre as doações de mais de R$ 100 mil feitas por nove funcionários comissionados à campanha de Cauê Macris no ano passado, além de contribuições financeiras feitas por 92 agentes fiscais de renda, lotados na Secretaria Estadual da Fazenda.

O pedido de investigação foi encaminhado ao procurador-geral de Justiça, Gianpaolo Smanio, que ainda não analisou de quem é a competência para investigar o presidente da Assembleia paulista no Ministério Público.

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