O presidente da torcida Independente do São Paulo Futebol Clube (SPFC), Henrique Gomes de Lima, conhecido como “Baby”, disse que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, ligou para ele nesta terça-feira, 26, pedindo desculpas. “De bate pronto eu já falei para ela: a maior resposta que eles têm que ter agora é estar demitindo essa cidadã racista, preconceituosa, que comparou a torcida do São Paulo Futebol Clube com Hitler, racista”, disse Lima nas redes sociais.
Julio Casares, presidente do Clube, também foi procurado pela ministra para um pedido de desculpas. Ele disse que Anielle Franco “explicou quais medidas serão tomadas” e que aguarda “com urgência, as providências cabíveis”. Ele destacou ações do time de combate ao racismo e classificou a publicação feita pela assessora da ministra como “ultrajante”.
A ministra usou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir à final da Copa do Brasil no Estádio do Morumbi, em São Paulo, no último domingo, 24. As assessoras dela publicaram nas redes sociais fotos e vídeos debochando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com quem a ministra assinou um protocolo de ações antirracistas no esporte.
Uma das assessoras, Marcelle Decothé, publicou uma foto da torcida do São Paulo com os dizeres: “torcida branca, que não canta, descendente de europeu safade... pior de tudo pauliste”, usando os adjetivos em linguagem neutra. É a essa publicação que Baby se refere.
De acordo com ele, na ligação que recebeu da ministra, ela disse que ia se reunir com a primeira-dama Janja Lula da Silva para decidir quais providências tomar. “Esperamos uma resposta e deixamos bem claro que é sem cunho político, sem esquerda, sem direita, sem centrão. (...) Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos e ficar em cima disso”, disse o presidente da torcida.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do Ministério da Igualdade Racial questionando sobre essa reunião com a primeira-dama e sobre o destino de Decothé, mas não houve retorno até o momento. Na segunda-feira, 25, a pasta emitiu uma nota dizendo que ia investigar internamente o caso.
Anielle Franco disse nas redes sociais que as críticas recebidas pelo uso do avião da FAB são “violência política de gênero e raça” e “tentativa de implodir” seu trabalho à frente da pasta. “Não são ataques a este ministério ou a mim, mas ao povo brasileiro”, escreveu a ministra. Ela ainda não se manifestou sobre as assessoras.
Além da publicação em que Marcelle Decothé fala da torcida do São Paulo, o Estadão revelou outros prints de publicações feitas por ela. “30 segundos de diálogo com a CBF, já viraram patriotas. Prontas pro cancelamento”, escreveu em uma foto na qual aparecem Rithyele Dantas, chefe da assessoria de comunicação de Anielle Franco, e Luna Costa.
Em outra publicação, Luna Costa postou fotos de Decothé. Em uma delas a assessora abre uma camisa do Flamengo no meio da torcida do São Paulo e, na outra, aparece correndo com uma pasta de documentos do governo federal. Ali estaria o documento do protocolo que a ministra viajou para assinar.
“Realidade - derrota do Flamengo + saindo andando com o protocolo de intenções do Gov Federal na mão + tentando achar transporte + gás lacrimogêneo + olho e boca ardendo”, escreveu Luna Costa na imagem em que Marcelle Decothé aparece correndo com a pasta.
O caso repercute nas redes sociais. Usuários do X (antigo Twitter) subiram as hashtags (símbolo #, usado para reunir publicações que tratam do mesmo assunto) “racista”, “fora Anielle Franco” e “safade”, que juntas têm 51,2 mil postagens.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.