Presidente do BC usa dinheiro público para dar palestra em evento de empresa de Doria em Londres

Roberto Campos Neto terá passagens e diárias pagas pelo Banco Central, mas valor não foi informado pela instituição; procurado, BC diz que a viagem tem caráter oficial e inclui agenda com investidores

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Foto do author Gabriel de Sousa
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, vai participar de um evento empresarial em Londres, na próxima semana, com custos da viagem pagos com dinheiro público. Os valores, que cobrirão as despesas com passagens e hospedagem, ainda não foram divulgados.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto Foto: Alex Silva/Estadão

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O evento que Campos Neto vai participar é o Lide Brazil Conference, que reunirá autoridades, empresários e investidores brasileiros e britânicos no próximo dia 29. Os organizadores são o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), criado pelo ex-governador de São Paulo João Doria (sem partido), Grupo Folha de S.Paulo e o portal de internet Universo Online.

Atualmente, o presidente do Grupo Lide é João Doria Neto, mais conhecido como “Jhonny”. Ele é filho do ex-governador.

Procurado pelo Estadão, o Banco Central afirmou que a viagem de Campos Neto a Londres terá caráter oficial e não se limitará à participação no evento organizado pelo Lide. “A missão do presidente do Banco Central a Londres é oficial e não terá apenas a participação no evento organizado pelo Lide. As despesas são pagas pelo BC e estarão informadas no Portal da Transparência. A agenda pública será oportunamente divulgada quando os compromissos forem confirmados”, disse o BC.

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O BC afirmou que, além do evento do grupo de Doria, Campos Neto vai participar de uma reunião com investidores organizada pelo banco alemão Deutsche Bank. O encontro vai ser realizado no dia 28, um dia antes do evento do Lide. Outras agendas podem ser confirmadas em breve, segundo a instituição.

Nos seis anos em que está à frente do BC, Campos Neto participou com frequência de eventos estrangeiros representando o Brasil a convite de organismos internacionais, como Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, entre outros, custeado com recursos públicos. No caso dos encontros do Banco de Compensações Internacionais (BIS), as despesas são pagas pelo órgão que supervisiona os bancos centrais. Geralmente, além desses eventos, o BC inclui na programação palestras para investidores nos outros países.

Desta vez, o despacho autorizando a viagem, assinado no último dia 10, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) citava a participação no Lide como primeira justificativa e, em seguida, “reuniões com investidores institucionais”.

Na terça-feira, 22, Campos Neto chegou em Washington (EUA), onde participa de eventos do Banco Mundial e do FMI, de reuniões de ministros e presidentes de bancos estatais do G-20, além de dar palestras para investidores internacionais. Ainda não se sabe o dia em que ele vai sair dos Estados Unidos em direção à Inglaterra.

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O encontro do Lide vai ser realizado no The Hotel Savoy, um hotel de cinco estrelas localizado no centro da capital britânica. De acordo com a empresa AllAccor, especializada no ramo hoteleiro, uma diária custa entre R$ 5.590 e R$ 6.547.

Além de Campos Neto, vão participar do evento os governadores do Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, Ibaneis Rocha (MDB) e Eduardo Riedel (PSDB), respectivamente. Os dois vão ter os custos bancados pelos organizadores, conforme informado por suas assessorias. O ex-presidente Michel Temer (MDB) também está na lista dos participantes.

O Lide anunciou que o evento contará com a participação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União), e dos senadores Efraim Filho (União-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP). As assessorias deles informaram que as presenças no encontro, porém, ainda não foram confirmadas.

Os organizadores também anunciaram que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), irá a Londres. A assessoria de Pacheco afirmou que ainda não foi definido como será o custeio da viagem.

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Como revelou o Estadão, no último mês de junho, as viagens de autoridades ao 12º Fórum Jurídico de Lisboa, conhecido em Brasília como o “Gilmarpalooza”, custaram R$ 1,34 milhão em diárias e passagens aos cofres públicos. O evento foi organizado pelo instituto de ensino superior do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes.

Um levantamento do Estadão mostrou que 160 autoridades dos três Poderes e ao menos 20 assessores foram a Lisboa, onde ocorreu o “Gilmarpalooza”. A maioria deles tiveram os custos da viagem bancadas por recursos públicos. O evento reuniu 12 empresas com processos no STF.

No início deste mês, os ministros do STF Luís Roberto Barroso e Dias Toffoli participaram do II Fórum Internacional, evento promovido pelo grupo Esfera Brasil em Roma, na Itália. O encontro foi patrocinado por um grupo de empresas que inclui a JBS, pertencente aos irmãos Wesley e Joesley Batista.

Como mostrado pelo Estadão, os dois ministros são relatores de várias ações de interesse da empresa. Em nota, a Corte afirmou que não há nenhum gasto do STF com passagens e diárias dos magistrados. Quem também participou do encontro foi Pacheco, que utilizou um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir até a Itália e deu uma “carona” para Alcolumbre.

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