BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta segunda-feira, 14, que tem obrigação de conversar com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na sexta, 11, Lira participou da cerimônia de lançamento do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Rio de Janeiro e foi vaiado. Na própria solenidade, o petista criticou a manifestação do público. Lula afirmou que todos os que estavam presentes haviam sido convidados pelo governo, e vaiá-los nessa situação era uma deselegância.
Lula repetiu a argumentação nesta segunda durante sua live semanal “Conversa com o Presidente”. No programa, ele mencionou que o PT sozinho não tem votos no Congresso para garantir governabilidade. “O ideal seria que você ganhasse as eleições com o partido sozinho, como o PMDB fez em 2006 (na verdade, o petista se referia a 1986)”, disse o presidente.
“Mas o dado concreto é que o PT tem 70 votos. A esquerda tem 136 votos. Para aprovar alguma coisa precisa ter 257 votos. Significa que você precisa conversar”, disse Lula. “Tem gente que fala: ‘vai para a rua!’ (referência a setores da esquerda que defendem manifestações de rua para pressionar o Congresso). Vai para a rua fazer o quê? Tem que conversar com quem tem voto. Quem é que vai votar? São os partidos políticos que ganharam”, afirmou o petista.
“Conversar com Lira é uma obrigação minha, ele é presidente da Câmara. Os deputados não são obrigados a acatar uma medida provisória que o governo manda ou um projeto de lei sem mudar nada”, disse Lula. “É normal que os deputados não sejam obrigados a concordar com o governo e queiram mudança, então você discute a mudança. É assim que se faz política.”
Lula e Lira negociam a ampliação da participação do Centrão no governo. André Fufuca (PP-MA) e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) serão ministros, mas falta Lula escolher as pastas que ocuparão.
Presidente critica atuação da PM do Rio
O presidente também mencionou nesta segunda-feira a menina Eloáh, de 5 anos, morta por uma bala perdida no Rio de Janeiro no último sábado, 12. Para ele, polícia não pode “sair atirando a esmo”. “Que bala perdida é essa? Alguém atirou para aquele lado, essa bala não se perdeu, essa bala foi atirada para aquele lado para atingir alguém e pegou uma criança de 5 anos de idade”, disse.
“Onde a gente vai parar com esse tipo de comportamento, de violência? E muitas vezes é a própria polícia que atira”, completou o petista. “Quando a gente fala assim, as pessoas pensam que nós somos contra a polícia. Nós não somos contra a polícia, não. Queremos policiais bem preparados, bem instruídos, com bastante inteligência. O que não pode é sair atirando a esmo sem saber para onde atira”, disse ele.
Na semana passada, em evento no Rio com a participação do governador do Estado, Cláudio Castro, o petista afirmou que a polícia precisa ser preparada para “diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua”. O “sermão” do presidente não foi bem recebido pelo chefe do Executivo estadual e gerou mal-estar entre aliados de Castro.
Na live desta segunda, Lula também criticou o porte de armas pela população. A liberalização das armas foi uma marca do governo de Jair Bolsonaro (PL), e agora Lula tenta reverter a política. “Quem é que quer comprar arma? É o crime organizado e algumas pessoas que não querem fazer bem para ninguém”, disse o presidente. “Tem gente que gosta de sair armado mostrando que é poderoso. Não, é um covarde. Quem anda armado é um covarde. Tem medo. Se você não tiver medo e você for do bem, não tem que andar armado.”
Lula deu as declarações no programa “Conversa com o Presidente”, produzido pela EBC. É uma espécie de live do presidente da República. Normalmente, a peça é transmitida às terças-feiras. Nesta semana, foi promovida na segunda-feira porque, na terça, Lula estará no Paraguai para a posse do presidente eleito do país, Santiago Peña.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.