Procuradoria pede que Câmara apure fala de Nikolas Ferreira: ‘Desrespeitosa e ofensiva’

No Dia Internacional da Mulher, deputado usou tribuna do parlamento para dizer que o lugar das mulheres está sendo roubado por homens que se sentem mulheres

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Foto do author Levy Teles
Por Davi Valadares, Levy Teles e Rayssa Motta

O Ministério Público Federal (MPF) acionou a Câmara dos Deputados para que o discurso feito pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), na sessão desta quarta-feira, 8, seja apurado. No Dia Internacional da Mulher, o deputado usou a tribuna do parlamento para dizer que o lugar das mulheres está sendo roubado por homens que se sentem mulheres.

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Em ofício, a procuradora Luciana Loureiro pediu para a Mesa Diretora da Casa averiguar “suposta violação ética”. Ela ressalta que Nikolas usou o tempo na tribuna para, “a pretexto de discursar sobre o Dia Internacional da Mulher, referir-se de forma desrespeitosa às mulheres em geral e ofensiva às mulheres trans em especial”.

“Hoje, o dia internacional das mulheres, a esquerda disse que eu não poderia falar porque eu não estava no meu local de fala, então eu solucionei esse problema aqui. Hoje, eu me sinto mulher, deputada Nikole”, disse o deputado, colocando na cabeça uma peruca loura.

A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), do MPF, emitiu nota pública manifestando repúdio à fala do deputado. Entre outras coisas, a nota diz que “é repugnante um congressista usar as vestes da imunidade parlamentar para, premeditadamente, cometer crime passível de imputação a qualquer cidadão ou cidadã”.

Sessão desta quarta-feira, 8, no Dia da Mulher Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

“No entender da PFDC, o uso de uma tribuna parlamentar para desrespeitar as mulheres em geral, atacar especialmente as mulheres trans e ironizar identidades de gênero é um ato grave, incompatível com a pluralidade que prega a nossa Constituição da República e com o decoro exigido de nosso(a)s representantes no Congresso Nacional”, diz um trecho do documento.

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Assinada pelo procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, pela procuradora regional da República, Caroline Maciel e pelo procurador da República, Lucas Costa Almeida Dias, a nota ainda lembra que “a imunidade de um congressista não pode ser escudo para a disseminação de discursos que semeiem preconceitos e desinformação entre a população brasileira”.

Notícia-crime

A transfobia foi equiparada ao crime de racismo e passou a ser tratada como crime hediondo pelo Supremo Tribunal Federal ( STF) em 2019. Como mostrou o Estadão, em razão da fala, a bancada do PSOL na Câmara entrou com uma notícia-crime no STF contra Nikolas. A iniciativa do PSOL é liderada por Erika Hilton (SP), primeira deputada transgênero da história, ao lado de Duda Salabert (PDT-MG).

A notícia-crime afirma que Nikolas Ferreira tentou ‘humilhar e constranger toda a população transexual’ e que as declarações do deputado aumentam o risco de violência contra pessoas trans. Nikolas Ferreira foi o deputado mais votado do País nas eleições do ano passado, com 1,47 milhão de votos.

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