PT e Centrão disputam órgãos federais com orçamento robusto e epicentros de escândalos de corrupção

Bloco informal de parlamentares exige controle de Codevasf, BNB e FNDE; governo resiste e deve ceder apenas um deles

PUBLICIDADE

Foto do author Felipe Frazão
Atualização:

BRASÍLIA — Em troca do apoio ao governo Luiz Inácio Lula da Silva, integrantes do Centrão exigem o controle da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), do Banco do Nordeste (BNB) e do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE), três dos principais cofres da República. A fatura está sendo apresentada principalmente pelo líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), segundo integrantes do Planalto. O governo resiste a ceder tudo, mas deve entregar ao menos um dos órgãos ao União.

O PT, por exemplo, também quer ter o comando de alguns desses cofres, como o BNB. Segundo parlamentares da região, a disputa envolve até ministros. Há ao menos três nomes com padrinhos fortes: Stelio Gama Lyra Junior, do Instituto Nordeste Cidadania, ligado ao líder do governo, José Guimarães (PT-CE); Nelson Martins que tem apoio do ministro da Educação, Camilo Santana; e Luiz Carlos Farias, que tem o aval do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias.

Sede da Codevasf, em Brasília; órgão foi foco de denúncias de corrupção nos últimos governos. Foto: Cassio Moreira/Codevasf

PUBLICIDADE

Interlocutores de Lula dizem que o presidente não aceitará o pedido triplo de Elmar. Já a Codevasf poderá ser cedida. A partilha de cargos de segundo escalão mobilizou o quarto andar do Palácio do Planalto nos últimos dias. Há cobiça de cargos por partidos menores que negociam com o governo Lula, como o Podemos.

Esses órgãos têm orçamento bilionário, costumam sofrer influência política direta de parlamentares, que indicam diretores e superintendentes nos Estados. Alguns deles viraram focos de denúncias de corrupção nos últimos governos, como a Codevasf, com verbas do orçamento secreto, o FNDE, e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

A ordem no Planalto, porém, é segurar nomeações até as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, marcadas para 1.º de fevereiro. O governo quer começar a destravar os pedidos depois, de acordo com o comportamento dos partidos nas votações.

Publicidade

O ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, conversou na semana passada com Elmar. O deputado ficou contrariado por ter sido vetado pelo PT da Bahia para um ministério e manifestou sua frustração a Padilha. O ministro indicou que considera “razoável” a reivindicação pela chefia da autarquia.

O apoio do União Brasil ainda é considerado instável. O partido é visto como uma “federação” com muitos políticos influentes. Eles divulgaram um manifesto, na semana passada, em que defendem o “empoderamento” do Congresso, em vez de postura “subserviente” ao Planalto. A articulação política lulista vai ceder para ter ao menos a maioria da bancada, mas sabe que não conseguirá todo o partido na Câmara, tampouco no Senado. Além do comando da Codevasf, há pedidos por cargos no segundo escalão dos ministérios das Comunicações e da Integração e Desenvolvimento Regional, destinados à legenda.

Diante da ofensiva por mais cargos, uma reunião causou apreensão no governo. Integrantes da bancada petista sugeriram a Padilha uma operação para contornar e isolar Elmar e neutralizar seu poder. A ideia consistia em tentar atrair com benesses os deputados mais influenciados por ele na bancada do União Brasil, que tem 59 integrantes. É a terceira maior da Câmara. Assim, poderiam obter os votos individualmente, sem tratar com o líder do União Brasil.

A operação foi vista como arriscada pela articulação política do Planalto. Houve quem lembrasse que a então presidente Dilma Rousseff (PT) cometeu esse “erro”, na tentativa de sobreviver no governo. Quem conhece os meandros da Câmara alerta que Elmar conhece bem os bastidores da partilha de recursos do orçamento secreto pelos parlamentares.

A bancada paulista do PT já indicou Jamil Yatim para chefiar a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (Ceagesp), outra empresa que é alvo de cobiça dos aliados. Yatim é ligado ao PT de Jundiaí e já ocupou o cargo de diretor financeiro da Ceagesp no governo Dilma.

Publicidade

Deputados do União Brasil querem ainda emplacar um nome na Secretaria Executiva do Ministério do Turismo. Avaliam que, caso a ministra Daniela Carneiro seja demitida, poderiam fazer o substituto na pasta. Após ter o nome anunciado como ministra, Daniela foi acusada de ter ligações com a milícia do Rio.

O acordo do PT para apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL), líder do Centrão, como presidente da Câmara prevê a distribuição de postos de comando na Casa. O PT quer comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais poderosa da Câmara, reivindicada também pelo PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O acerto beneficiaria, ainda, o Republicanos. O deputado Marcos Pereira (SP) voltaria a ser o vice-presidente da Câmara. Já o ex-líder da bancada Jonathan de Jesus (Republicanos-RR) seria indicado ao Tribunal de Contas da União (TCU). O problema é que o PL também quer ocupar a vice-presidência da Câmara.