A polarização entre PT e PL no cenário político nacional contribuiu para uma alta de 10% no número de filiados em quatro anos. Esse percentual está acima da evolução total do eleitorado inscrito em alguma legenda, que aumentou 1% no período. O ritmo de crescimento, no entanto, é menor do que o de oito partidos; outros 13 perderam filiados.
Recordista em novos integrantes, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) expandiu a base principalmente em Pernambuco, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Já o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve acréscimo relevante na Região Sul.
Em termos proporcionais, quando se compara a base atual em relação ao tamanho que tinham em 2019, siglas menores ganham destaque na lista. Rede e PSOL, atualmente federados, tiveram um ritmo de crescimento acima de 50%. Já o Novo conta com uma base 27% menor em relação à que tinha há quatro anos, no pior resultado proporcional medido no levantamento. Lideranças da legenda argumentam, porém, que a tendência é positiva em 2023.
O levantamento do Estadão compara a evolução do número de filiados dos partidos políticos no Brasil entre os meses de novembro de 2019 e 2023, o que permite entender como chegam a mais um ano de disputa municipal no País comparado ao mesmo período do calendário eleitoral passado. Os dados divulgados pela Justiça Eleitoral mostram apenas a quantidade total de filiados mensalmente, e não a relação de nomes ou o fluxo de entrada e saída.
A cientista política Lara Mesquita, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV), pondera que a análise é limitada e os resultados não devem ser entendidos como uma previsão do comportamento do voto em 2024. “Eles podem ser um indicativo de mobilização partidária, mas isso também varia de partido para partido”, observa.
Apelo nas bases
Do lado de quem ganhou militantes, o resultado anima para as eleições de 2024. Em Pernambuco, por exemplo, o PT espera ampliar seu número de prefeituras das atuais cinco para pelo menos 20. “Queremos aproveitar o potencial do presidente Lula, por ele ser daqui (nasceu em Caetés, no interior de Pernambuco), e as ações que o governo federal vem fazendo”, afirma o deputado estadual Doriel Barros, presidente da sigla no Estado.
O PT está confiante em conquistar, por exemplo, o governo de Jaboatão dos Guararapes, a segunda maior cidade, com Elias Gomes, ex-prefeito da cidade que trocou o MDB pelo PT este ano. O principal adversário deve ser o atual prefeito, Mano Medeiros (PL). Segundo Barros, o ganho de filiados se deve a uma mobilização nos sindicatos e à abertura de novos diretórios municipais antes da eleição geral de 2022.
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A adesão ao PL, por sua vez, é expressiva em Estados como Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O Estado catarinense — que contribuiu com 13 mil novos eleitores para a base do partido, número que supera até mesmo São Paulo, maior colégio eleitoral do País — elegeu o governador Jorginho Mello (PL) e deu quase 70% dos votos para Bolsonaro no segundo turno contra Lula, em 2022.
O resultado foi menos expressivo entre os gaúchos, onde o candidato bolsonarista ao governo do Estado, Onyx Lorenzoni (PL), acabou derrotado no segundo turno contra Eduardo Leite (PSDB). Outra localidade de destaque é o Maranhão, onde um dos principais rivais do bolsonarismo, Flávio Dino, construiu sua carreira política.
Eleito pelo PSL, Bolsonaro passou boa parte do mandato na expectativa de criar um novo partido, o Aliança pelo Brasil, que acabou não saindo do papel com a exigência de recolhimento de 492 mil assinaturas. O ex-presidente decidiu, então, aderir à sigla comandada por Valdemar Costa Neto em novembro de 2021. Em nota, o PL afirmou que o resultado “reflete a crescente identificação do povo brasileiro como os valores conservadores e a política econômica liberal”.
Ranking de crescimento
Os dois partidos com maior crescimento, Rede e PSOL, nasceram como alternativas ao PT no campo da esquerda, mas optaram por apoiar a eleição de Lula desde o primeiro turno contra Jair Bolsonaro em 2022 e fazem parte da base aliada ocupando cargos no primeiro escalão do governo. PSOL e Rede também formam hoje uma federação, que é um compromisso partidário de longo prazo para atuar de maneira conjunta.
Segundo Paula Coradi, presidente do PSOL, apesar das afinidades e da aliança com o PT, o partido cresceu em função da capacidade de mobilização contra Bolsonaro, da adesão de movimentos sindicais como o MTST e pela agenda de defesa das mulheres, da população LGBT, negra e indígena e do meio ambiente. “O PSOL é uma combinação das pautas históricas da esquerda por justiça social e mais direitos dos trabalhadores com essas pautas que na década de 2010 ganharam muito peso na sociedade”, avalia.
O Novo foi o partido que mais encolheu em termos percentuais em quatro anos. Eduardo Ribeiro, presidente da sigla, atribui o desgaste à atuação do empresário João Amoêdo. Segundo ele, diretórios municipais teriam ficado frustrados com os critérios para lançar candidatos para as prefeituras em 2020, priorizando cidades com ao menos 300 mil habitantes. A tendência de queda, então, só teria sido revertida com uma reformulação recente do partido.
Amoêdo, por outro lado, diz que deixou a presidência do Novo em março de 2020, sucedido por Ribeiro, e que houve “tempo de sobra” para a nova executiva definir a estratégia eleitoral daquele ano. Ele critica o desempenho eleitoral da sigla nos últimos anos e a decisão do partido este ano de admitir financiamento público, dando adeus a uma de suas bandeiras de campanha.
Segundo Ribeiro, o Novo está novamente em um “crescimento exponencial” de filiados com o ganho de 4 mil eleitores este ano, do total de 35 mil que tinha em novembro. A aposta de momento é o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol, que teve o mandato de deputado cassado pelo TSE e hoje atua como “embaixador” do partido para as eleições do próximo ano.
Como chegam os maiores partidos
Os dados mostram que o maior partido do País continua sendo o MDB, seguido por PT, PRD (criado a partir da fusão entre PTB e Patriota), PSDB e Progressistas. PDT e União Brasil, que uniu os antigos DEM e PSL, também superam 1 milhão de filiados.
Do grupo, a legenda com pior desempenho no período foi o União Brasil — saldo negativo de 276 mil eleitores em relação a DEM e PSL somados em 2019. O partido que tem como estrela hoje o senador Sergio Moro foi criado a partir da fusão das duas siglas em fevereiro de 2022, meses depois de Bolsonaro abandonar o PSL. A direção nacional não retornou aos pedidos de entrevista.
Outros partidos que encolheram no período, de modo menos acentuado, foram MDB, PSDB, PRD e PDT. Os tucanos passam por uma crise depois de perderem o protagonismo nas disputas presidenciais com o PT e o governo do Estado de São Paulo pela primeira vez em 28 anos. Seu último presidente da República eleito foi Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 2002.
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Marconi Perillo, ex-governador de Goiás e atual presidente da sigla, admite que a crise interna afeta essa adesão. “Como estamos fora do poder central desde 2002, é natural que haja uma perda de sensibilidade ou de interesse de os filiados continuarem. O mais importante é voltar a ter bandeira, foco e ideias que possam recuperar ou atrair as pessoas”, declara.
Perillo também atribui a perda de filiados à polarização recente entre os “extremos” PT e PL. Esse é o diagnóstico para o Distrito Federal, por exemplo, onde o saldo negativo chega a quase 30%; no Brasil todo ficou em 4%. Segundo o dirigente, o plano para buscar novos filiados passa por uma nova “carta ao Brasil” e por trabalhar a imagem de Eduardo Leite como pré-candidato a presidente em 2026.
Já o comando do MDB sustenta que a perda de filiados não é um reflexo do desempenho do partido, e sim do envelhecimento de seus inscritos. “O problema do MDB é RG antigo. Tivemos o boom de filiação na década de 80 e a grande maioria dos nossos filiados tem mais de 60 anos”, afirma o deputado federal Baleia Rossi, presidente nacional do MDB.
“O problema do MDB é RG antigo. Tivemos o boom de filiação na década de 80 e a grande maioria dos nossos filiados tem mais de 60 anos”
Baleia Rossi, presidente do MDB
Em contrapartida, destaca ele, o partido continua elegendo o maior número de prefeitos no Brasil — foram 784 em 2020, número que teria crescido para 858 com as trocas de meio de mandato. “Temos o desafio agora de trazer jovens e novas lideranças”, declara o deputado. Uma nova campanha de filiação deve ser lançada no dia 15 de dezembro dando destaque a políticos de cada região e ministros do MDB no governo Lula, como Simone Tebet.
PSD e Republicanos, que atraem prefeitos em São Paulo antes do pleito de 2024, aparecem em terceiro e quarto lugares na lista de partidos que tiveram melhor saldo de filiados em quatro anos. Solidariedade e Podemos também cresceram no período, mesmo descontando a quantidade de eleitores filiados a PSC, PHS e PROS em 2019 — as siglas foram incorporadas recentemente pela dupla.
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