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PT e PSOL, que colecionam brigas nos últimos 20 anos, viram maiores aliados na disputa municipal

Nascido de uma dissidência petista, partido de Guilherme Boulos chega ao seu 20º aniversário mais próximo dos petistas do que nunca

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Foto do author Guilherme Caetano

BRASÍLIA - Vinte anos após nascer de um racha interno do PT e dez anos depois de entrar na disputa presidencial com ataques duros à então presidente Dilma Rousseff, o PSOL firmou os petistas como seus principais aliados na disputa pelas prefeituras do País.

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Em 2014, num dos momentos de maior atrito entre PSOL e PT, a candidata psolista à Presidência, Luciana Genro, chegou a comparar Dilma, Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (então no PSB) a “três irmãos siameses”, referindo-se à crítica de que todos eles manteriam a mesma política econômica neoliberal se eleitos, em sua avaliação.

Agora, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com o aliado para romper o cenário vivido na última eleição municipal, quando não conquistou nenhuma prefeitura de capitais, e também reconquistar a maior cidade da América Latina. As duas legendas devem estar juntas em pelo menos nove capitais, e São Paulo se tornou símbolo da dependência petista do PSOL para renovar suas lideranças.

O deputado Guilherme Boulos (PSOL) e sua vice, Marta Suplicy (PT), no lançamento de sua candidatura à Prefeitura de São Paulo Foto: Felipe Rau/Estadão

Pela primeira vez desde a redemocratização, o PT, que voltou a filiar a ex-prefeita Marta Suplicy para ser vice de Guilherme Boulos (PSOL), não terá cabeça de chapa na eleição para a capital paulista. A decisão petista não foi tomada sem resistência interna. Mas, após o pleito de 2020, em que o então candidato petista, Jilmar Tatto, ficou em 6º lugar, com 8,65% dos votos, e diante do favoritismo de Boulos, não houve opção viável senão abrir mão da vaga.

A chapa entre PT e PSOL se repete em Belém, Macapá, Porto Alegre e se encaminha em Manaus. Já nas capitais de Minas Gerais, Goiás, Paraíba e Mato Grosso os partidos estarão juntos, mas não necessariamente vão compor a chapa à prefeitura.

Belém é a única capital controlada pelo PSOL, com Edmilson Rodrigues, e terá o petista Edilson Moura como vice na disputa pela reeleição. O prefeito, no entanto, não enfrenta boa aprovação, e corre o risco de tirar de seu partido a maior cidade sob seu comando – outros quatro municípios menores são administrados pela sigla entre os 5,5 mil espalhados pelo País. Além das capitais paraense e paulista, o PSOL do candidato Paulo Lemos terá Ivaneia Alves (PT) como vice na disputa pela prefeitura de Macapá.

Em Porto Alegre, numa chapa 100% feminina, Maria do Rosário (PT) contará com Tamyres Filgueira (PSOL) na tentativa de levar a esquerda de volta à prefeitura. Por uma década e meia, entre 1989 e 2004, os petistas governaram a capital gaúcha, e desde então têm falhado em retomá-la. Na eleição passada, Manuela d’Ávila (PCdoB) e seu vice Miguel Rossetto (PT) ficaram com 45,37% dos votos no segundo turno.

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O número de dobradinhas seria maior se o PT não tivesse desmanchado a chapa com o PSOL em Maceió por meio de uma intervenção inesperada. Veio do diretório nacional petista a ordem, na semana passada, para retirar a candidatura de Ricardo Barbosa e fortalecer o candidato apoiado pelo senador Renan Calheiros, Ricardo Brito (MDB).

Pesou o fato de Barbosa não ser uma candidatura competitiva para enfrentar o prefeito João Henrique Caldas (PL), conhecido como JHC, que vai concorrer a um novo mandato e tem apoio tanto de Jair Bolsonaro (PL) quanto do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). A chapa petista com a vice do PSOL, Eliana Silva, já estava oficializada em convenção.

Sem candidato a vice, o PSOL vai apoiar a chapa do PT com Rogério Correia em Belo Horizonte, com Adriana Accorsi em Goiânia, Luciano Cartaxo em João Pessoa e Lúcio Cabral em Cuiabá. Mas, embora o partido tenha a meta de dobrar o seu número de vereadores – foram eleitos 90 no pleito passado –, seus dirigentes apostam todas as fichas em segurar a prefeitura de Belém e levar Boulos à vitória em São Paulo.

O histórico de críticas ao PT no Palácio do Planalto vai ficar, pela primeira vez, para trás. “A grande diferença desta vez, para a gente, é que o PSOL disputa (uma eleição) na condição de governo, porque fomos oposição todo esse tempo”, diz a presidente do PSOL, Paula Coradi.

Rixas históricas

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O PSOL surgiu em 2004 a partir de um racha no PT. No ano anterior, quatro parlamentares petistas tinham anunciado que votariam contra a reforma das aposentadorias dos servidores públicos, proposta pelo governo Lula, e foram expulsos: a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados Luciana Genro (RS), João Fontes (SE) e João Batista Araújo, o “Babá” (PA).

As tendências internas ligadas aos expulso deixaram o PT junto deles. Um ano depois, os dissidentes fundaram o PSOL, que fez oposição aos governos petistas até o processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, quando o cenário mudou. O episódio, que até hoje é chamado de “golpe” pelo PSOL, reunificou os dois grupos.

Ao longo da primeira década, o PSOL abriu as portas para insatisfeitos do PT, como Marcelo Freixo e Randolfe Rodrigues, e não se cansou de criticar o governo federal por suas políticas econômicas e pelos escândalos de corrupção. Em 2012, Randolfe chegou a afirmar que o PT tinha perdido a “referência ética” e que estava “muito parecido com o PSDB”.

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